Assim se Cumpre em Mim a Lei de Talião (5ª Parte)

Quando na lava mergulhei o meu corpo não se desfez instantaneamente, mas estava sem forças para ao de cima regressar. A minha alma acompanhou-o enquanto se decompunha, caindo para longe da superfície, sentindo uma dor dilacerante em todos os poros da minha existência, daquilo que existia quando eu existia, do que existia, porque eu existia. Com os meus olhos vi monstros de fogo com chifres, os peixes da lava. Um furioso Demónio controlava aquele pequeno mar. Era o rei ao qual todos prestavam vassalagem. Com o resto do corpo que se deteriorava, arrastei a minha alma para ele. Saudei-o com uma vénia e com malícia me recebeu. Qual o criador de tal terror ninguém pode nomear. Numa das suas mãos me esmagou ele e com gula me cheirou. De um ápice colocou-me na sua boca e estralhaçou o resto do meu corpo com os seus dentes pontiagudos. Louvada a alma que é libertada do corpo onde se sofrem tais temores. Aprisionado no interior do estômago do demónio, o meu espírito, impeliu-me a evadir-me. Ao reparar no modo como respirava, vi que a sua boca se abria, de 20 em 20 segundos por uma fracção de segundo. E, num desses momentos, escapuli-me daquele mundo terrível, onde morsas e baleias laranjas repousavam, cheirando a moscas. Ao surgir uma alma diante do seu Nariz, o Demónio gritou:
-Quem ousa assim passear no meu domínio?
-Alguém a quem deves vassalagem, pois a mais nobre das almas sou. Cruzei o mundo ao acaso, sem direcção a seguir, percebi que todos os caminhos interessavam. Agora estou afogado numa das cruzadas mais difíceis.
Não conseguira a ternura dele alcançar, pois com um gesto rápido tentou aprisionar-me novamente, mas escapei, subindo pelo Mar de Lava. Seguindo-me a toda a velocidade, com um ágil salto, o demónio não me queria deixar escapar. Era fácil escapar-lhe mas difícil de perceber porque é que um enorme monstro seguia uma pequena sombra prateada, na lava....Quando da superfície regressei ao mundo o demónio ascendeu das lavas para me apanhar, e toda a noite, num raio de mil quilómetros foi iluminada, mas quando a lei da gravidade sobre ele se fez sentir, o meu espírito, que a tais regras não está sujeito, aproximou-se do céu, enquanto o monstro caía de novo no seu mar de lava.

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