Os Homens Dispersos

Somos os Homens Dispersos. Estendemos a mão no vazio, esperando que alguém lhe pegue e fechamos os olhos, enquanto rezamos novamente. As preces anteriores foram ouvidas por Deuses esquecidos, por isso agora entregamo-nos ao desconhecido e sussurramos serpentes para devorarem os monstros que se agigantam de dia para dia. As suas sombras trepam-nos pelas paredes e ofuscam-nos. Os nossos valores não nos permitem transportar uma luz que vença a sombra abatida sobre nós. Nós não somos os Homens Faróis. Somos os Homens Dispersos e desaparecemos para o Subterrâneo assim que nos esquecem. Acordamos sós, depois de um sonho em que nós, chorámos súplicas a uns olhos vazios e trememos de frio sem o abraço da esperança. Somos os Homens Dispersos, atafulhados com felicidades alheias inalcançáveis e obcecados em alcançar aquilo que apenas pode ser alcançado por outros. Somos os Homens Dispersos, guiados por imagens falsas até ao nosso cadafalso. Somos Homens Vazios, enchidos de vento e deixados às voltas, na maré da saudade.

Os Homens Dispersos aproveitam todas as oportunidades que têm para saltar para dentro das páginas de um livro e vão lendo para não terem de pensar, mas nem ler conseguem, pois são constantemente interrompidos pela sua consciência.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Contos Eróticos de Fernando Bacalhau (Alexandra Lencastre)

Dicionário com palavras pessoais

As Mais Belas Palavras da Língua Portuguesa