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A mostrar mensagens de novembro, 2015

Comiseração (50)

Com um frio de morte à espera que o ecrã ligue e a luz me diga que caminho tomar com os meus pensamentos e então os meus dedos automáticos tratam de tudo e dirigem-se a cada uma das preciosas letras que conjugadas formam tudo e não formam nada, desenham preces na escuridão para serem lidas pelos demiurgos da nossa salvação. Os requisitos foram aceites podemos navegar pela nuvem.

Sem titukajsaihdfh

São 5 da tarde na casa mais desarrumada do planeta Uma foto arrastada com uma luz e outra treta Na almofada os livros repousam todos os seus corpos Porque não têm cabeça amontoam-se dispersos Como o?... São 5 da tarde da minha consciência arrebitada Carolina parece que dança Enquanto nos meus sonhos balança Segura entre os dois mundos Analúcia está sempre tão lúcida E isso deja vestígios na sua alma púdica Mas pode ainda encontrar a pureza búdica A Vitorina vitoriosa veperina Voltou a vender alma E isso fez-me pensar O Agreste António e a Conceição Preparam uma refeição Com vitelos e cabras à descrição Velados por velas em bela disposição Sob candelabros de ouro em procissão Era a fineza O orgulho de uma geração Mas nem tudo correu com a perfeição planeada Dos Deuses apenas Baco apareceu com disposição Para alçar as armas e fazer soar o canhão. Quatro dos duzentos convidados iniciaram um motim bem para fora das portas do salão

Comiseração (48)

ESQUECES-ME DA NOITE PARA O DIA COM UMA FRIEZA QUE ARREPIA AGORA A MINHA ALMA VAZIA PERDEU TODA A SUA ALEGRIA NADIR VELD

Comiseração (47)

Oh Meu Deus, a Vida está a tentar a matar-me! A vida não pára de disponibilizar-me tempo para eu morrer, enquanto sofro todas as minhas preocupações que não consigo acalmar, todos os problemas pendentes aí sempre por resolver, nas prateleiras da vida! Nadir Veld

Comiseração (46)

Eu não colecciono selos, muito menos noites sem medos. Sim, noites sem medos obscuros são coisa que não surge depois dos meus bonitos pores do sol há mais de...há mais de...não há memória. Agora não me serve a memória para me lembrar, mas eu sou uma pessoa que só guarda as más recordações para a comiseração posterior...as melhores é melhor deixá-las de parte, esquecê-las para que não sejam perturbadores obstáculos para os nossos obscuros cada vez mais escuros devaneios. As minhas pernas estão a tentar matar-me! Vejam como elas não param de tremer e eu só quero adormecer! Mas elas não param e eu fico a olhar para elas...estupidamente a olhar para a elas a vê-las tremer...estremecer toda aquela inquietação...e depois...as horas...o tempo não pára de passar e eu não consigo descansar! Ver as horas duas vezes por minuto é um prenúncio de...um prenúncio de que o tempo está parado ou de que nós estamos parados no tempo. Sim...as horas...04:22...meia hora depois 04:22 e vemos o relógio passa

Comiseração (45)

Oh Meu Deus a minha indecisão está a tentar matar-me! Eu não consigo fazer aquilo que tenho de fazer! Eu consigo fazer muitas coisas...por exemplo, isto aqui...eu posso estar a fazer isto, mas isto não é o que eu preciso de fazer! Muito pelo contrário, eu até...hum?...Eu não...eu queria estar a fazer aquilo que tenho de fazer, sobretudo porque...isto é estúpido...estou aqui a folhear as páginas de um livro que nunca vou ler...não...não é isto que tenho de fazer...mas a decisão...tenho de o fazer...é agora, mas as janelas estão mais visíveis que as portas e ....e se calhar é mesmo por lá que vamos sair...sim...o cérebro cessará de arder! com a velocidade do corpo...a velocidade do corpo louco e então... a decisão...sim a decisão seria irrelevante...o meu corpo morto jamais poderia sofrer as consequências...sim...as consequências da indecisão...por isso ela era irrelevante...se calhar até serei elogiado brevemente por aqueles que atraiçoei e enganei saltando...NÃO. Hoje saio pela porta d

Comiseração (44)

O meu peito resoluto já não sabe aonde há-de ir, mas nem por isso perde o fôlego e por isso resfolega sempre mais e mais neste lugar onde devia habitar uma alma, mas não habita coisa nenhuma! É só uma moradia insatisfeita que gostava de ser habitada...um vazio que faz bater todas as portas de uma vida fantasma. Por mais que se corra e se saia não se sabe nunca ao certo aonde se vai quando se tem o cérebro em chamas. É como se fossemos um navio que não controlamos e as coisas vão acontecendo...sim...as coisas vão sucedendo, mas o controlo não o temos. Somos vida indiferente do corpo a definhar. A vida...a vida é que definha, não sei se entenderam...É preciso ver todas as coisas a acontecerem a todas as outras coisas e vice-versa. Só então vimos tudo e abarcamos tudo e podemos tomar uma decisão e a decisão é...a decisão é a indecisão de ficar à espera, no limbo da tristeza entre a sombra e os dias e um disparo lunático rumo ao infinito. A decisão é ficar gritar as palavras mais angustian

Comiseração (43)

Como é que me posso ter atrevido a acreditar que podia ser feliz? Já há muito que a vida me mostrou de forma terrível que isso não é uma coisa que esteja ao meu alcance, não é algo que eu mereça; contudo continuo a deixar-me iludir por promessas falsas e depois acabo por me desiludir e caio em longas depressões com delírios psicóticos projectando na minha consciência imagens, palavras e ideias demenciais a um ritmo frenético e incessante que me impedem de esquecer toda a humilhação e toda a dor. Com quem é que estas pessoas bem sucedidas falaram? O que fizeram elas para chegar a esta posição toda sorrisos, a esta felicidade que espalham nestas alegres ruas que me deprimem e me fazem sentir ainda mais angustiado pois me mostram a felicidade inalcançável mesmo à minha frente, como se ela estivesse zombando da minha depressão Eu só queria aquelas gargalhadas despreocupadas da multidão, mas só tenho o meu próprio choro quase inaudível a esmagar os meus pulmões um contra o outro... Na

Comiseração (42)

Oh Meu Deus, os meus pés querem matar-me! Estou farto de andar, Jesus Senhor. Este movimento patético e repetitivo nunca mais cessa, continuo a avançar de forma idiota e inconsciente, sem saber muito bem para onde estou a ir e cada passo que dou parece que ecoa pelo chão até às entranhas da Terra um som imenso, que me enche os ouvidos e não me deixa espaço para ouvir mais nada, como se a cada passo que dou desse uma terrível martelada no meu coração que afecta o meu cérebro como se ele estivesse a ser perfurada por uma furadeira eléctrica metálica. Estou completamente farto desta marcha sem direcção e desta música que os meus pés fazem no chão. Qualquer dia ponho uma venda nos olhos e largo a correr mundo fora. Nadir Veld

Zenit Hil da Jainkoa

Enquanto analiso a profundidade da alma humana, não ergo barreiras em lugar algum. Todos os recantos do mundo são dignos da minha exploração e não traço a minha fronteira nem às portas da loucura. Atravesso as linhas invisíveis que dividem os homens e instalo-me confortavelmente nas salas em que planeiam a minha morte ilegal. Escuto os seus planos maléficos e rasgo a minha camisola oferecendo-lhes as minhas carnes para que eles a chicoteiem e punam conforme quiserem. Nem pestanejo enquanto as chibatadas me são aplicadas. Pelo contrário. Mantenho os meus olhos muito abertos fixos nos meus carrascos. Assim, eles percebem a minha indiferença e a minha força. Só descansam quando percebem que eu estou morto, chamam médicos e professores para me analisarem. Eles confirmam o meu estado de cadáver e só então sou libertado, deitado fora, mas, como é óbvio não estou morto. A minha morte é uma rota ilusão para os facínoras. Tenho 100.000 anos de luta nos meus membros desgastados e continuarei a a

Comiseração (41)

E é assim acordamos sóbrios para mais um dia no inferno Depois de nos termos deitado Jurando não mais acordar  E é assim acordamos óbitos súbitos julgados em púlpitos por faltarmos à vida não assinando prestações imóveis E é assim acordamos incrédulos no reino apático que construímos para sossegarmos o clamor silenciarmos o langor mas sobretudo sobretudo para abafarmos abafarmos o uivo de terror Abafamos e cobrimos o rosto enquanto se contorce E de manhã a máscara está sorridente depois de um banho água gelada e um cobertor A cara está pronta para receber o promotor E é assim adormecemos com esperança de não acordar deste lado da vida Nadir Veld

Comiseração (40)

  Tudo o que podia acontecer, já aconteceu Sim...tudo bem...eu admito que errei. Não devia ter ligado ao apelo das sombras, mas deixei que ele me seduzisse e me consumisse e agora é demasiado tarde para regressar à realidade. Ela está povoada de novidades e gente que pode ser do passado ou do futuro, mas muito pouco provavelmente é do presente, tão pouco comunicativa parece querer estar comigo. Eu sei porque viajo no tempo. Já vos disseram que o tempo é uma coisa plana e circular? É complexo como um tabuleiro de xadrez em que já todas as combinações possíveis foram jogadas e todos os mais dementes xeques-mates foram desenhados.É uma mesa em que já todos os dados foram jogados. Tudo o que podia acontecer, já aconteceu e é imerso na certeza dessa insubstancialidade que acordo todos os dias para os meus pesadelos diários...Pudera congelar-me a mim próprio. Talvez as minhas lágrimas formassem belos fósseis para as gerações futuras ou passadas, que isto como andam os ventos não se sabe em

Haiku

Pensamentos Latejantes Nos olhos Lacrimejantes Na têmpora a explodir

Onde estão os antiparambidualistas?

Anti-Parambidualistas -  Aqueles procuram uma terceira via, que pode ser inexistente. São os se opõem á Ciência que aceita a divisão em apenas dois, num par, das mais importantes coisas (Homem e Mulher, o Bem e o Mal, a verdade e a mentira, etc). O seu lema é  Não espalhamos a verdade nem a mentira, somos quem atira no Homem e na mulher porque queremos uma terceira via, há o Certo e o Errado, nós somos o outro estado, há o Bem e o Mal, mas nós estamos noutro lado. Versão 1 Ha duas coisas sempre e duas apenas: O Bem e o Mal O Feliz e o Triste O Terror e a Paz As palavras andam aos pares A contradizer-se Só há duas coisas e nada mais E tu vais escolher sempre a pior Versão 2 Onde estão os antiparambidualistas? Ha duas coisas sempre e duas apenas: O Bem e o Mal O Feliz e o Triste (foste tu que pediste?) O Amor e o Ódio A Verdade e a Mentira (A paixão com que conspira!) A Vida e a Morte O Terror e a Paz As palavras andam aos pares A contradizer-se Só há duas co

A Morte espalha o caos na vida

Sorrateira como sempre e imprevisível até à eternidade (o que quer que esteja vivo, vai morrer e pouco importa se sabe isso ou não), a asa da morte cobre todos os sonhos sorridentes e enquanto a recolho, vejo como a sua acção afecta terrivelmente aqueles que a ela assistem e que têm de se despedir do cadáver...os parentes...aqueles que...que dizer, que falar...que pensar senão no fim que se está a aproximar...são palhaços tolos a caminhar para cadáveres com tropeções dignos nos desníveis do mundo. É natural que chorem mais quando vêm a morte sangrenta...mas eu estou sempre aí à espreita, em Paris numa rua caótica, no Líbano no colapsar de um edifício sobre uma pobre família com um Cristo tão lindo em belas palhas deitadas...um inocente puro...A estrela da morte Alvos Millar

Ao menos dêem-me o desconto de ser doente mental

Coro de vozes de choro no desamparado hospital Ao menos dêem-me o desconto de ser doente mental Se tentar voar não pode ser um erro acidental Ao menos dêem-me o desconto de ser doente mental Ataques de imaginação prenunciam colapso cerebral Ao menos dêem-me o desconto de ser doente mental Não consigo ser frontal Sou muito pouco temperamental Como esse é o meu erro fatal Ao menos dêem-me o desconto de ser doente mental Se sonho com banhos em sangue rival É porque não suporto mais este apocalipse sentimental Ao menos dêem-me o desconto de ser doente mental Num mundo em que estar vivo é ilegal, um sonho irreal Ao menos dêem-me o desconto de ser doente mental Presidentes e Generais a tentar destruir o mal Tu Perguntas 'qual é qual'? Ao menos dêem-me o desconto de ser doente mental Analistas, comentadores à procura do fundamental De uma verdade vital Mas é só um jogo experimental Não se deixem enganar pelo doutor Ajintal A sua verdade impoluta é só um go

Comiseração (39)

Oh Meu deus, a minha orelha esquerda está a tentar matar-me! Ela está a arder, vermelha e quente na minha cabeça de faiscantes pensamentos alucinada. Quem estará a falar mal de mim? Ainda se fosse a orelha direita a queimar...Sim...Alguém estaria a falar bem de mim...A desenhar o meu rosto com corações nas fotos da sua imaginação e encontrando esperança nos meu jeito descontraído, ou assim, mas não! É a orelha esquerda que arde e parece que nasce um fogo que se espalha para o meu cabelo e então já sabem, eu grito queimado agarro-me a cabeça intacta, mas tão não intacta assim, intacta para quem vê por fora, mas por quem a sente...é diferente, mas mesmo assim apago o fogo, mas o fumo não pára de sair do meu cabelo e toda a gente olha para a minha orelha em alta voltagem, carne viva já, carne viva, já!! Estava no metro com o sistema auditivo semi-destruído. Quem estaria a falar mal de mim? Quem accionou este mecanismo trágico? A minha orelha esquerda avisa-me, mas, com isso, mata-me. Cai

Comiseração (38)

Vivo num Paraíso que não existe, mas ainda assim insisto em não chorar quando o conquisto.É neste lugar inconcreto que posso ser feliz. Um lugar onde os sonhos ainda aguardam concretização, em que eles ainda não foram desfeitos. Só regresso a esses sentimentos porque viajo no tempo sem querer e recupero essas doces esperanças lá no fundo da minha memória, porque sou pensador melancólico, mas então acordo para a realidade a arder e são só pesadelos, mas eu acordo e então é que são os maiores pesadelos...Quão alucinante, acordar de pesadelos nocturnos para os pesadelos da minha vida quotidiana, sempre ideias repetidas, convencendo-me que está tudo errado...a minha vida é pior que um delírio aumentado...E depois estou de volta ao Paraíso, mas cinco segundos fora dele são um pânico em palavras transformado... Nadir Veld

Paris, Sexta feira Treze + Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (14 de Novembro de 2015)

No céu notícia do inferno O número cem Na raiz do mal Terráqueos disformes no coração vital Numa capital do mal A surpresa é o final para o medo total A morte, o ódio fatal Congelados nos olhos no instante fulcral Em que gravamos os rostos que amamos ou odiamos. Se somos todos loucos ou sãos devíamos percebê-lo com um sinal Já pensei que ninguém quer acabar com o Daesh...não sei porquê, mas os políticos preferem que vivamos com medo...é terrível...acordem...Destraum o Daesh com todas as vossas forças, tropas unidas, nações unidas....!Que mais podemos fazer a não ser pensar em destruir os centros do ódio? os lugares vitai...aquela fonte de palavras...só pena...só sangue e medo neste mundo louco...olha o que se passa, olha o que acabou e então, de novo o fluxo em que vais leva-te para lá de ti próprio, no barco desgovernado da tua vida,,,pois sim, mas Paris? Eu fui morto com todos os que morreram nesse dia, não só em França, mas um pouco por todo o mundo eu morri até em camas de

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (7 de Novembro de 2015) P

Estava a passear na Rua Augusta quando vi uma mendiga com todo o aspecto de ser uma grande drogada a coçar loucamente a sua enorme barriga de grávida, como se aquele bebé se tratasse de uma protuberância alienígena. Quando passei mesmo junto dela e vi o seu aspecto mais de perto e os gestos frenéticos que ela estava a fazer coçando a própria barriga tive um dos meus ataques de fúria misturada com delírio e tive de me agarrar à cabeça para controlar as convulsões porque o cérebro começou outra vez a fervilhar a uma velocidade e com uma intensidade indescritível e tive de dirigir-me para uma rua secundária e sentar-me no chão, porque não estava a suportar aquelas emoções em colapso. Uma mendiga grávida! Nunca na minha vida tinha visto uma mendiga grávida...e aquele bebé...ainda nem tinha nascido e já estava mais que condenado à mais miserável das existências, com uma mãe daquelas! Mas...quem é que teria feito um filho naquela mulher monstruosa? Quem se teria sentido atraído por aqueles o

Não gosto (37)

Não gosto da sobredescrição que certos autores acham conveniente fazer das actividades náuticas das personagens dos seus livros . Estou a referir-me àqueles livros que têm passagens que por vezes duram páginas sobre como os marinheiros coordenaram os mastaréus na acastelagem, puxaram as alantas para que ninguém se aproximasse da carlinga (mas não a carlinga da mezena), tiraram a adriça com o massame fazendo girar as manivelas do molinete para amainar as velas enquanto grivavam pelo Oceano fora, orçando na direcção do vento, até que rizam a vela para a retranca e usam a serviola para astrear o sapatilho para definir o sotavento, enquanto se reúnem na valuma para definir a direcção da tala e se defenderem da refrega antes que a quilha poleame o porão ou o quadrante. Quando estou a ler um livro, em princípio não quero tirar um curso de ciências náuticas em vinte páginas. Quero que me falem das personagens/pessoas e das suas emoções, acima de tudo...no fundo é só isso que me interessa.

Comiseração (37)

Oh, Meu deus, o meu passado está a tentar matar-me! As recordações afluem dispersas, mas sempre perturbadoras à minha mente deprimida e escalonam angústias bem concretas no meu peito instável, pelo que, por vezes, nem sou capaz de respirar sem sentir o meu peito opresso, como se a minha alma estivesse a fazer pressão sobre os meus pulmões empurrando-os para a ofegante loucura pura. Os que me rodeiam perguntam-me se estou assustado, se estou bem. Claro que estou bem, que raio de pergunta! O que tens para mim, uma consulta num psiquiatra e uma caixa de comprimidos para fazer de conta que está tudo bem? Sabem onde podem enfiar esses comprimidos? E essas consultas e esse psiquiatra, inventor de doenças, mais todos os vossos conselhos de merda? Sabem? Então façam-no! Espaço não vos falta para os meterem lá a todos e ainda sobra algum para uma divisão do palácio da Rainha de Inglaterra com um daqueles móveis folhados a ouro e um daqueles candelabros de tecto com muito vidro e as velas todas

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (12 de Novembro de 2015)

Ao ver-me ao espelho fico fascinado com estes olhos tão envelhecidos, olhos tão endurecidos. Ver é sofrer e viver a ver sofrer faz os olhos arder angústias até ao dia da alma morrer. Embelezo a minha expressão com estes olhos fascinantes, olhos tão evidentes. Não há dúvida nenhuma de o que estes olhos estão a pensar, estes olhos tão verdadeiros, estes olhos de vida cheios que transbordam em raios intensos o sentimento desta alma pura. Amo a vida com a compreensão absoluta de quem já enfrentou sozinho toda a escuridão do mundo, com a resolução de quem já ousou atravessar o inferno e não se importa de lá voltar para buscar o que lá não deixou e até outras coisas. Ouvem-me falar com este olhar? Vêem a vibração desta voz?

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (11 de Novembro de 2015)

Quando acordo, passo as minhas mãos lentamente pelo meu corpo ainda quente do sono restabelecedor e penso em toda esta carne efémera que cobre os meus ossos e imagino-me no caixão, fazendo o mesmo gesto enquanto esqueleto, passando a minha mão despida de carne e apenas de ossos constituída pelas minhas costelas e imagino o som que faria, um som tão musical. Faço percussão com os meus distintos ossos, percorrendo o meu corpo melódico buscando os mais belos sons. Toque onde tocar o som está sempre a mudar. Gosto particularmente de tocar com o osso da ponta do dedo indicador com um ritmo melódico no centro do meu crânio vazio. O som ecoa muito belo. Serei um esqueleto musical na minha tumba solitária e divertir-me-ei a mim próprio até para lá da eternidade.

Comiseração (36)

Evito as salas em que se fazem grandes reuniões para tratar do meu futuro, simplesmente não ponho lá os pés e deixo que decidam por mim, que façam tudo por mim, aliás a minha presença lá só poderia prejudicar-me, uma vez que eu não consigo coordenar muito bem as palavras nem lembrar-me do que devo dizer nas situações mais cruciais, parece que a minha mente se congela, ou anda para trás, ou anda para o sítio oposto àquele em que todas as outras pessoas estão a ir, ou está a subir para o céu na direcção de um desértico vazio habitado apenas por pó de estrelas e é lá que pairo, acima de todos os outros, mas abaixo de todo o mundo, servindo servilmente os interesses dos poderosos apagando a minha intensa chama, abafando o clamor imenso da minha fúria justificada. Eu não tenho um carácter forte; sou completamente incapaz de traduzir os meus pensamentos e as minhas certezas em acções. Sou incapaz de impor o meu ponto de vista, tão grande é o meu ódio em relação às opiniões e às pessoas que

Gosto (48)

Gosto de pessoas que pegam em determinados objectos como se esses objectos fossem outros objectos. É uma forma de se relacionar com as coisas algo esquizofrénica que me interessa e me encanta de sobremaneira. Um excelente exemplo de uma pessoa a pegar numa coisa como se fosse outra coisa acontece no filme "Aguirre, o Aventureiro", quando Kinski pega num macaquinho como se não fosse um ser vivo e o atira para o chão do barco como se fosse uma porcaria qualquer.

Comiseração (35)

Sempre que tenho alguma coisa importante e inadiável para fazer, a minha consciência é invadida por um agressivo fluxo de palavras insanas que nada têm a ver com aquilo em que eu devia estar a pensar. De um momento para o outro, fico completamente incapaz; tenho de deixar o que estava a fazer e fico parado como um idiota, a ver afastarem-se lentamente todas as esperanças de sucesso e conquista pessoal (todas as  minhas obrigações perante o mundo real), ainda ali, alcançáveis a um estender de mão, a um pequeno esforço, mas fico completamente incapaz, como se tivesse sido petrificado por um Deus cruel e dedico-me a lutar contra esta força maligna que está dentro de mim e me prende totalmente a atenção, então, começo a escrever o fluxo, a despejar todas aquelas palavras, mas elas não têm nenhum sentido, não querem dizer nada, parecem existir apenas para me desviar do que realmente preciso...é como se o meu cérebro fosse o meu principal inimigo e tivesse declarado guerra à minha alma, à mi

Comiseração (34)

Está a apetecer-me partir uma unha, ou morder o dedo todo até o sangue surgir e os dentes pontiagudos se terem saciado da minha própria carne fresca. Haverá melhor alimento que o nosso corpo? Pergunto-o enquanto olho as minhas mãos e o meu olhar cai no dedo indicador já sem unha, em carne pura. Em certas partes já se viam os ossos. Parte de uma longa tradição familiar ficarmos a roer ossos enquanto bebemos cerveja depois de uma refeição. Eu não senti qualquer dor ao roer o osso do meu dedo. Digo mais, a carne estava saborosa, e o sangue uma delícia. Era uma coisa tão fácil de fazer como roer uma unha. Então, comecei a comê-los a todos. Primeiro o gordo, o polegarzinho, muito engraçado e fora da ordem, por último, o outro polegarzinho, recompensado pela sua beldade cósmica. Em duas horas comi todos os meus dedos. Com um serviço destes quem precisa de KFC? Nadir Veld

Comiseração (33)

Se ao menos não houvesse reflexos no mundo...Ah, assim talvez pudesse ser mais suportável esta minha inexistência permanente, mas, ao ver a imagem do que eu sou projectada mesmo à minha frente, mimetizando todos os meus gestos, recorda-me. Recorda-me todo o passado, todo o futuro e arrasa brutalmente com o meu presente. Fico completamente fora de mim...Levo as mãos à cabeça para conter toda esta cólera, para, com massagens relaxantes, acalmar o intempestivo fluxo de ideias...duas mil palavras por minuto...turbilhão puro...fecho os olhos...será que a minha imagem também se esfuma do meu reflexo sempre que fecho os olhos? Eu deixo de a ver...mas não está aqui ninguém a quem possa perguntar, com quem possa esclarecer a dúvida... Se não existissem espelhos, nem outros reflexos, nenhum de nós teria a mínima noção de como era, teria de viver com as descrições de terceiros, e assim imaginar a sua cara com o mesmo esforço que fazem os leitores com as personagens descritas. Não havendo reflexo

Comiseração (32)

Oh meu Deus, a minha carteira está a tentar matar-me, e o que importa mais nem é a quantidade de dinheiro, mas a quantidade de moedas! Posso ter vinte notas dentro da carteira que não é isso que a faz atacar-me, são as moedas! As pesadas e volumosas tilintantes moedas acumuladas na carteira! Eu não me posso sentar em cima dela!... coloco-a no bolso de trás das calças...e depois sento-me e há um enorme desnível entre a parte direita e a parte esquerda, desnível que causa um desequilíbrio não apenas nas costas, mas também na parte mental da cabeça...Que ridículo devo parecer à vista de todos, com a minha nádega direita sentada em cima de um monte de moedas e a minha nádega esquerda enterrada na cadeira, pateticamente, completamente desnivelada. O mais grave é que a minha consciência se esquece sempre de tirar a carteira, pelo que fico sempre sentado em cima dela por mais moedas que tenha e só me lembro quando sinto as minhas costas se queixam e os meus ombros já estão completamente desal