Comiseração (56) (Prólogo de "Os Homens Quebrados") (P)

Quando as palavras nos parecem insuficientes para expressar toda a complexidade do sentimento deste corpo ofegante, somos forçados a deixar esse modo de comunicação e então restam-nos imagens e melodias que podemos tocar, mas nenhuma imagem tem a sensação, que ultrapassa todas as metáforas e é muito mais que um banco de jardim numa cratera desértica de uma lua ancestral. Então, todas as formas de comunicação desaparecem e deixa-mo-la desaparecer, como se adormecesse nela o espírito, embalando a alma que, ainda assim, vê a destruição aproximar-se, porque no fundo sabe que está a tomar a atitude de deitar para baixo do tapete os importantes vestígios daquilo que é, na verdade, a minha vida despedaçada...os pequenos cacos que no fundo formam a minha identidade, e depois temos de ir buscá-los, mais tarde, não é? Já sabemos...Vamos buscar os cacos e eles estão sempre mais velhos porque não cuidamos dele, nem quisemos saber que eles existiam, vivendo estupidamente com cinquenta por cento da nossa dimensão, o resto esquecido, e bem esquecido, escondido num sorriso despreocupado numa cerveja de Verão numa Praia bem longe de tudo o que interessa...ou então...o que interessa? sem todos os cacos nunca percebemos o que interessa, mas partidos seguimos e sorrimos, fingimos que existimos, mas somos só o sonho da vida que não chegou. Somos os Homens quebrados, ah.

Nadir Veld

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