Comiseração (P)

Partilhamos connosco uma grande dor no momento em que não somos nós e nos esquecemos da vida pensando que já estamos mortos. A nossa consciência desloca-se, mas não deixa de ser a nossa ainda que fantasiemos belos enredos para mentirmos vivendo a nossa vida. Não somos senão um fragmento do que poderíamos ser.

Eu sou o oposto de um hipocondríaco. Tenho milhares de possíveis doenças, mas não me preocupo. Só quero que uma delas me mate depressa.

Nadir Veld

Em túmulos de ouro e lápis-lazuli
Corpos de almas ricas em vida descansam
E suam miraculosos odores

Mas sob a terra dos cemitérios e a suja pedra
Agitam-se inquietos os corpos dos que nunca morrem

Em túmulos ornados de ouro guardados em grandes mausoléus
Dormem em paz eterna o homem sagrado

Mas, sob toneladas maciças de água salgada
Jaz afogado e boquiaberto um pobre pescador desamparado


Em túmulos de ouro sob mármores reluzentes
As almofadas adocicadas confortam os corpos fatigados

Mas sob terra calcada num pantanal
Agoniza eternamente um amaldiçoado animal

Em túmulos requintados aprimorados por arte vã
Jazem os corpos dos Homens Sagrados

Mas para construir estas basílicas dos ricos
Muitos corpos pobres foram sangrados

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