Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (25 de Abril de 2016)

Pela primeira vez em muitos anos passei o 25 de Abril longe de Portugal, onde o dia da Revolução dos Cravos é celebrado com grande pompa. Neste dia costumo ouvir as músicas anti-regime de Zeca Afonso, as músicas contra o estado das coisas do José Mário Branco e músicas melancólicas que lembrem esses terríveis tempos. Estava com o meu amigo Milorad a ouvir e a cantar de forma bastante emocionada a música Cantar de Emigração do Adriano Correia de Oliveira, cuja letra foi escrita em galego pela grande Rosalía de Castro e traduzida brilhantemente por José Niza quando ele me pediu para lha traduzir para inglês. Quando cheguei à parte Galicia, you stay without men, expliquei ao meu amigo Milorad que a Galiza era uma parte de Portugal, país pelo qual ele sabe que eu tenho um grande amor. Acrescentei ainda que a Galiza não faz parte de lugar nenhum e é uma comunidade bastante própria em Portugal. Disse que até tinham uma língua diferente, na qual o poema original tinha sido escrito. Com esta mentira agradei muito aos meus irmãos galegos e elevei o nome de Portugal. A principal razão porque eu disse esta mentira foi por conveniência...não lhe ia dizer que é uma parte de Espanha porque a música é cantada em português e também é sobre Portugal. Poderia dar lugar a perguntas estranhas para as quais não tenho resposta...

Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão.
Galiza, ficas sem homens
que possam cortar teu pão

Tens em troca orfãos e orfãs
e campos de solidão
e mães que não têm filhos
filhos que não têm pais.

Corações que tens e sofrem
longas horas mortais
viúvas de vivos-mortos
que ninguém consolará

Iste vaise i aquel vaise
e todos, todos se van;
Galicia sin homes quedas
que te poidan traballar.

Tés, en cambio, orfos e orfas,
tés campos de soledad,
e nais que non teñen fillos,
e fillos que non tén pais.

E tés corazóns que sufren
longas ausencias mortás,
viúdas de vivos e mortos
que ninguén consolará.

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