Gosto (XXXIX)

Gosto de olhar directamente para as lâmpadas e piscar rapidamente os olhos, deixando a minha vista inundar-se de uma cegueira branca e ficar completamente encadeada com a intensidade do brilho dos filamentos, sem conseguir ver as coisas para as quais estou a olhar porque, por cima delas, está uma cintilação que tudo ofusca à sua volta. Quando isso acontece, é gratificante fechar os olhos e ver na escuridão aquele brilho antigo (a lâmpada agora até já pode estar apagada), dançando mais e mais, quanto mais pressão fazemos com as pálpebras cerradas. Agora até podemos esfregar a pele que cobre os olhos e o brilho parece que se entorna na escuridão do nosso palco visual formando sonhos, imagens, alucinações surrealistas. Eu fico deleitado durante horas a sentir essas luzes vermelho-amareladas e até já li o meu próprio futuro e tomei decisões de vida inspirado nas formas aleatórias que me são dadas. Durante meses usei bigode porque estas contemplações assim me aconselharam.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Contos Eróticos de Fernando Bacalhau (Alexandra Lencastre)

Dicionário com palavras pessoais

Não Gosto (XXVIII) - Joana de Vasconcelos