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A mostrar mensagens de janeiro, 2016

Óleo e Sangue (oil and blood)

Em túmulos de ouro e lápis-lazuli Corpos de homens e mulheres sagrados suam Óleos miraculosos, perfume de violetas Mas sob pesadas camadas de barro calcado Jazem os corpos de vampiros cheios de sangue As suas mortalhas estão ensanguentadas e os seus lábios húmidos W.B.Yeats

Comiseração (P)

Partilhamos connosco uma grande dor no momento em que não somos nós e nos esquecemos da vida pensando que já estamos mortos. A nossa consciência desloca-se, mas não deixa de ser a nossa ainda que fantasiemos belos enredos para mentirmos vivendo a nossa vida. Não somos senão um fragmento do que poderíamos ser. Eu sou o oposto de um hipocondríaco. Tenho milhares de possíveis doenças, mas não me preocupo. Só quero que uma delas me mate depressa. Nadir Veld Em túmulos de ouro e lápis-lazuli Corpos de almas ricas em vida descansam E suam miraculosos odores Mas sob a terra dos cemitérios e a suja pedra Agitam-se inquietos os corpos dos que nunca morrem Em túmulos ornados de ouro guardados em grandes mausoléus Dormem em paz eterna o homem sagrado Mas, sob toneladas maciças de água salgada Jaz afogado e boquiaberto um pobre pescador desamparado Em túmulos de ouro sob mármores reluzentes As almofadas adocicadas confortam os corpos fatigados Mas sob terra calcada num panta

Versículos Místicos (Grande Irmão)

Conseguem conceber uma voz calada? O altíssimo Senhor dos Mundos coordena através da sua A única poderosa o suficiente para, mesmo no silêncio, Fazer crescer os campos E suceder o dia e a noite como foi determinado Conseguem ouvir-vos pensar, mas não conseguem entender A sua voz Altíssima tece a vossa voz insignificante E presencia todas as vossas decisões Pois Ele é o Grande Irmão Aquele que não gerou nem foi gerado Mais belo que o fulgor da centelha de uma estrela

Nevoeiro

Olhem aqui, ainda estou nas trevas Já passou meio milénio O nevoeiro está sempre denso E tu não apareces Alguém falou de uma vitória A conquista de um lugar Mas o que ficou na história Foi um exército ao luar E a espada fora do lugar Olha aqui, ainda estou na bruma Vejo luzes na penumbra E oiço os gritos da batalha Sozinho numa mortalha Olha aqui, estou sozinho Vi os anos a passar Vi as mortes a chegar E a esperança mandada enterrar Petrogul Al-Saphyria

Lazarus (Música de David Bowie)

Imagem
Olha, aqui em cima Estou no céu Tenho cicatrizes que não podem ser vistas Tenho drama que não pode ser roubado Agora todos sabem quem sou Olhem aqui para cima, estou em perigo Não tenho nada a perder Estou tão pedrado que o meu cérebro rodopia Deixei o meu telemóvel para trás Não é isso ser como eu? Quando cheguei a Nova Iorque Eu vivia como um rei E então gastei todo o meu dinheiro Estava à procura do teu rabo Desta maneira ou de maneira nenhuma Vocês sabem que serei livre Como aquele pássaro azul Oh, serei livre Como aquele pássaro azul Oh, serei livre Como aquele pássaro azul

Os Homens Quebrados (XXXV)

Nós somos os Homens Quebrados Todos os membros despedaçados Todos os pecados, rebuçados Açucarados inalcançados Nadir Veld Inalcançados???Isso não existe, calão de merda! Aprende a escrever, filho da puta. Ahahahah Não eras tu que gostavas de inventar palavras?

Os Homens Quebrados (XXXIV)

Este é o primeiro comboio, o das 05:31 da manhã. Não sei se pára às 05:31 em alguma estação. Sei que às 05:31 ele passa em minha casa com o seu som distante, a trezentos metros de mim, longe de minha casa, por trás de muitos prédios, impossível de alcançar com a vista, só o sinto com o som triste que me manda uma informação específica: O DIA ESTÁ A COMEÇAR E EU AINDA ESTOU ACORDADO. Desperto por pesadelos, acordado para pesadelos, sonhando sonhos maravilhosos. Os meus ossos estão quebrados e eu estou relaxado, sinto o som do mundo e o encanto maravilha-me. Estou perdido, mas sei quando chega a carrinha do pão e isso já foi há muito tempo. Eram horas em que não era quem sou. Eu não estou aqui por nenhum motivo especial, vocês podem sair, já sabem, não tenho grande coisa para dizer. Eu queria dizer que as melhores ideias nos surgem em momentos em que não temos nada para escreveres. Explosões fulgurantes de imaginação. Momentos de verdade a que não conseguimos voltar, mas terei de escreve

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (28 de Janeiro de 2016)

Uma pedra no nosso coração estrangula a decisão e afunda-se sem perdão para os confins de uma garganta que não cantou a sua emoção e sufoca as nossas entranhas com securas estranhas e nós achamos que é a alma que dói, mas é só uma dor ligeira que dói, não lhe devemos prestar atenção, essa coisa esta entre as inutilidades, merece ser esquecida, mas por vezes a pele lembra-se e então corre por todo o corpo um arrepio frio e os pêlos esticam-se e sabem que há ali uma mentira orgânica que impede o normal funcionamento do corpo que se julga num tormento. E assim passamos dias pensando na nossa máquina emocional, consultando os astros para guiarem os nossos pensamentos e rezando à lua para que não se esconda. Ela hoje está cortada a meio, eu sei, está a decrescer, mas o lado positivo é que os dias estão a crescer e já se nota e os dias longos são maravilhosos, acabou a noite imensa. A lua está a fazer as nuvens brilhar arco-íris e isso está tão longe daquilo que eu precisava de fazer!

Zenit Saphyr, o Homem Livre, o Solitário, O Homem Quebrado

Eu não me filiei Eu não me vinculei Estou entre os inarticulados Fico fora dos quadrados O meu centro é um ponto móvel em torno do qual se enfrentam objectivos discordantes Estou em guerra comigo próprio, não posso combater causas alheias Não vou guerrear colectivamente enquanto não reinar a paz no meu espírito.

Versículo Místico (VIII)

Agora que ouvistes a minha leitura com atenção A Palavra do Senhor Chegou ao vosso coração? Ou estais entre os que o têm duro, vulto do perjuro? A sombra que de vós nasce entenebrece Os Mares e os Céus da sua Criação Quereis pô-lo à prova com essa ingratidão? Pois não é por demais evidente que não fostes vós quem elevou ao céu mais alto o zénite E enterrou no céu mais fundo o Nadir deste mundo? Não fostes vós que fertilizastes os campos imemoriais Nem fostes vós que concebestes o sabor da cereja Numa tarde esperançosa de início de Verão Apenas podeis teorizar sobre a sua cor rubra E depositar nela os vossos olhos burros Estupidamente encantados por apenas uma das suas Magias Ele é o Encantador Fez girar as estrelas e o Mundo Cria o que quer num segundo Porque sois tão incrédulos? Demorais milhares de anos a perceber as coisas que Deus fez com a simplicidade de um gesto ternurento Quantos anos vos faltarão para perceberes o seu Amor Universal? Criais ciências em que

Versículos Místicos (VII)

Forrámos com um céu imenso o tecto do mundo E fizemos dançar dois astros alternadamente ao redor do mundo Com o seu brilho intenso, o principal alumia as principais acções do homem manso E o secundário impede a treva total de cair no tempo do seu descanso Isto foi uma sugestão do Senhor dos Mundos para que coordenásseis as vossas vidas Haverá alguns que terão de viver ao contrário para zelarem pela criação do Altíssimo nas horas de escuridão Se agirem correctamente, esses serão duplamente recompensados na hora determinada Terão luz eterna na senda da felicidade duradoira E ser-lhes-ão dadas faíscas para esquecerem a noite que foi a sua vida

Comiseração (57) (P)

Preciso de um pouco de estabilidade para poder mostrar aos meus netos a minha Natureza lutadora. Se ficar por aqui a minha tarefa não foi terminada, não foi terminada, não lhes mostro nada... Nadir Veld

Convida o sangue a subir ao altar (Quadra tripla?)

A carne translúcida a fritar Os cubos de gelo pró jantar A mesa roxa debaixo do luar Convida o sangue a subir ao altar Um peixe novo noutro mar A bílis verde para agoniar Num prato roxo ao luar que Convida o sangue a subir ao altar Os farrapos luminosos no céu a andar As nuvens disformes a vê-los dançar Num prado roxo, na natureza ao luar que Convida o sangue a subir ao altar

Destino Rato

O devaneio está solto e parece-se com um louco a contar a verdade ao seu planeta de solidão. As palavras despejadas ao acaso não têm interpretação possível, uma vez que são tão fechadas. Isto é isto e nada mais! Quando vos perguntarem porque é que uma coisa se passou de certa maneira Vocês só têm de responder "Isto é isto e nada mais". Essa frase simples explica como se processa todo o crescimento. Explica até a Evolução Humana. As palavras estão tímidas encolhidas em teclas de cristal Os meus dedos dançam procurando a verdade essencial Os meus dedos navegam com um estranho desejo animal Que esqueceu o lado selvagem e construiu um tecto e uma moradia. Vai estar um frio de morte em todos os vossos destinos. Este é o destino Rato. Nadir Veld

Petrogul, vários textos

Então, dança um mundo para girar, lança um rumo para atirar no ventre da lucidez indistinta Na memória, os voos de meia asa comemoram com brado na vitória e aquela meta passou à história Com um reflexo atingimos a luz E deixamos um biscoito de morango com forma de coração E aos Deuses dirigíamos uma oração que a bendissesse para a história Enquanto fugíamos das avenidas passageiras Sem saber onde tínhamos os joelhos Destruídas as nossas telhas Perdidas as bagageiras Eis que te ajoelhas E pedes a Deus umas vidas ligeiras Petrogul Al-Saphyria É para ganhar, é para perder É para derreter, para arder Viciar em morrer É viver para ver É sentir para crer O fim de tudo a aparecer Petrogul Al-Saphyria

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (21 de Janeiro de 2016)

Hoje as minhas tentativas para adormecer sofreram duas paragens, uma a cada hora do meu transe. Às duas da manhã deitei-me, às três levantei-me para fumar um cigarro e ler uns poemas do Keats. Às quatro levantei-me e liguei o computador para nada. São 4:04 da madrugada, tenho de me levantar as seis! Tenho frio e tenho calor. Quando me deitei estava efusivamente feliz, agora estou terrivelmente deprimido, como se tivesse atingido o fundo mais absoluto e todo o meu sentimento fosse texturas Nadir Veld. O desgraçado está a controlar-me a mim e aos meus sentimentos.

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (20 de Janeiro de 2015)

Hoje sonhei que estava a ir a pé de Lisboa para a Covilhã, mas para aí em Alverca fartei-me e comecei a apanhar boleia. O primeiro carro a que fiz sinal parou instantaneamente e ia para a Covilhã! Era uma família que tinha 4 lugares do carro ocupados, mas, ainda assim, deixaram-me ficar lá atrás, apertadinho e apertando os outros. Há gente simpática nos sonhos, ainda assim. Só me lembro de ir apertado lá atrás, espero que me tenham levado ao meu destino e que eu não tenha deixado os pedintes de quilómetros mal vistos com algum golpe psicopata que escapou ao meu controlo.

Chegar tarde

O único momento em que chego é tarde Inquieto e desesperado para que não seja demasiado Revelo-me inútil quando apareço desamparado Será sempre tarde para um regresso à vida Quantas vezes terei de morrer para poder nascer finalmente Nadir Veld

Versículos Místicos (VI)

Aqueles que não crêem, Ah, estarão loucos, ou serão só cretinos? Fantoches comandados por loucos incrédulos Que os fascinam com ideias falsas Que eles seguem cegamente só porque faíscam diante dos seus olhos Que se recusam a erguer para ver a Criação Divina O seu espírito não encontra a glória e não presta reverência no tempo ao máximo, o Poderoso Senhor dos Mundos Dizem que não pode existir, recusam ver a Unidade, Alguns dividem-no em milhares e atribuem-lhes pequenas tarefas, mas garanto-vos que este Deus é Único, Senhor dos Céus, da Terra e do que há entre ambos Digo-vos, escutais as frequências diabólicas quando vos pregam a sua inexistência julgais caminhar correctamente, num caminho sem guerras, mas asseguro-vos que que esta é uma senda turbulenta Não é tarefa fácil seguir as pegadas do Altíssimo Estais numa estrada condenada Quando vedes que não é por Deus frequentada

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (20 de Janiero de 2016)

Hoje um amigo meu falou-me do sofrimento que sentia pelo facto de uma das suas actrizes pornográficas preferidas estar a atravessar um difícil momento pessoal. Eu respondi-lhe que sentia muito por ela e que realmente algumas das minhas preces lhe eram dirigidas, mas ela não valia nada mais que os milhares de raparigas que se cruzam comigo diariamente e me imploram através de intensos olhares que as conduza à Terra da Felicidade Suprema. Poderei eu guiar toda esta multidão para a felicidade suprema? Eu acredito que sim.

Versículos Místicos (IV)

Perguntamos-lhe "acreditas em Deus"? Ou estás vivendo em sombras? Não deixes que te tolde o cinismo e a má criação se encontrares a estrada de Deus terás uma recompensa duradoura se a recusares encontrar-te-ás entre os hipócritas não viste como nós fizemos o céu e os mares? Não viste como os unimos para te maravilhar? Viste como enchemos a galáxia de estrelas para servirem de candeia nas noites em que a Lua se esconde? Tornámos férteis os campos para que vos multiplicásseis felizes e não abusásseis dos recursos Distribuimos equitativamente as riquezas E deixámos os Homens ditarem as leis dos seus domínios Esta é uma mensagem evidente Demos-vos a liberdade de serem felizes, não somos culpados dos vossos descuidos Têm de aprender com eles e crescer para melhorar Quem desiste da estrada luminosa por um mau dia na Terra Está num extravio manifesto e dificilmente será recuperado Já poucos pastores reúnem as suas ovelhas Elas agora vagueiam soltas pelos campos sem

Versículos Místicos (I)

Nenhum livro traz o nome Em nenhuma língua, O verdadeiro apelo foi invocado porque ele é o Invocável O Senhor dos Céus e da Terra, dos Mares e da Lua Mestre do Tempo e da vida, pois eles não avançam nem recuam sem o seu comando, Aprimorou o horizonte próximo, com nuvens que por vezes nos fazem esquecer a imensidão da sua criação Espalhou no céu distante estrelas plácidas Para requinte e sonho dos seus súbditos curvados na Terra ao seu desejo definitivo Glória ao Insondável, senhor do Devir

Versículos Místicos (II)

Pelos que estão nas fileiras Pelos que encarnam energicamente Atormentados com a invocação demente Desse Deus que garantem ser único O Senhor dos Céus da Terra e do que há entre ambos, Senhor dos orientes Adornou para nós o céu mais próximo com agitadas nuvens de protecção Para nos livrar dos Demónios rebeldes Para nos guiar nas noites de escuridão para que o louvemos desmedidamente Para que a comunhão dos homens seja possível Glória ao Senhor do Devir

Versículos Místicos (III - O Cilício)

O Cilício é um objecto de tortura que usas disfarçado para te sacrificares por Deus, para que tudo te seja perdoado e Lhe pedires redenção pelos teus pecados deslocados Porque se fores recto e acreditares na sua mensagem, verás que te será aberta uma senda luminosa Quando crês e praticas o bem a estrada guiar-te-á à felicidade e encontrarás o Senhor dos Mundos, Mestre do Tempo Pois ele criou a Terra em três dias por isso devemos-lhe penitência Ele não gera nem foi gerado, surgiu do nada Um mestre mágico na escuridão das galáxias Alguns vão dizer "Isso são mentiras extravagantes" e acusarão as estrelas de estarem demasiado distantes mas Nós sabemos que elas são candeias colocadas no céu distante para nossa vigilância Aqueles que crerem terão um rio eterno e virgens da mesma idade com que morrem Os outros estão num extravio manifesto beberão uma mistura de água a ferver no inferno e serão repreendidos por demónios lunáticos durante eternidades

Farsa da tortura

Cilícios nas nossas pernas Que choram sangue penitente pelos joelhos que tropeçam Escandalosos no tapete manchado Enquanto a mão procura o machado Nadir Veld

Comiseração (57) (P)

Oh Meu Deus, a minha cabeça está a arder numa planície de mar ausente e eu saio procurando-o cegamente. Tento apenas cheirar o sal, sentir o odor do mar, mas encontro apenas mal. Nunca a paz de uma praia e sempre uma mala esquisita com coisas que não são minhas e que até tenho medo de conhecer. Até o amanhã é um terror que não quero conhecer. Sou um viscoso Homem Quebrado. E não saio da minha maldição.

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (19 de Janeiro de 2016)

Agora percebo que tudo o que eu escrevo só pode ser lido com o sotaque com que eu falo, qualquer outra voz, qualquer outro timbre, falseará a mensagem, pois não escreveu no cérebro aquilo que tenta comunicar...É impossível interpretar-me, sou Intransponível e raramente falo. Na verdade limito-me a escrever e a gritar as minhas frases estranhas com vozes diferenciadas nos vastos pavilhões da minha imaginação onde ressoam sons de tempestade e maresia, como o novo sistema Dolby Atmos para cinema, todos os sons me chegam como sugestões e é nesse fundo feérico que se desenvolve a minha canção solitária, um murmúrio semi-consciente de uma mente que dizem perturbada e que por isso não pode ser interpretada, a malvada...

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (8 de Março de 2009)

Muitas pessoas ficam chocadas quando eu respondo negativamente depois de me perguntarem se sou a favor do casamento homossexual. Estacam e dizem que não esperavam que eu tivesse essa opinião, que me imaginavam mais liberal, com um ponto de vista esquerdista sobre o assunto. Eu percebo nos seus olhos que estão desiludidos comigo. Então, para que eles percebam a Natureza profunda da minha aversão ao casamento, explico-lhes que também sou contra o casamento heterossexual. "Sou contra o casamento de uma forma geral", digo-lhes, "O casamento é uma grande mentira que o Homem instituiu como prática comum. Obviamente sou contra a ideia de uma pessoa se prender a outra e destruir a vida de ambas."

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (26 de Abril de 1991)

Hoje, enquanto conversava com uma rapariga, falei-lhe da minha teoria de que o amor verdadeiro deveria ser selado com a morte no seu momento mais majestático. Ela disse-me que era uma visão muito influenciada pela obra de Shakespeare "Romeu e Julieta" e, pela primeira vez de que tive a ideia de que o amor devia ser selado com a morte, lembrei-me da peça de Shakespeare. Como é tão possível uma associação tão obvia num tema que me obsessiona me pode ter escapado durante um dia? Eu fiquei atrapalhado com a sugestão dela e disse que o Shakespeare tinha influenciado o mundo...que havia uma razão para isso, que ele sabia ver as coisas e era verdade que queria passar a ideia que eu defendia através da história popular não religiosa mais conhecida da humanidade. Que idiota sou, pensei. Gabando-me de ter belas ideias e quando dou por mim estou a defender teorias há séculos refutadas. Cortem-me a cabeça. Eu sou o grande traidor, aquele que atrasará a raça Humana.

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (25 de Abril de 1991)

No dia em que morrermos juntos, de mãos dadas e coração unido seremos felizes para sempre. Teremos de morrer longe do mundo dos homens, pois se encontram os nossos cadáveres em comunhão os homens vivos tratarão de nos separar por considerarem obscena a nossa demonstração do mais fraterno e eterno amor. Partamos para os campos, para as terras distantes, para caminhos que não são percorridos senão ocasionalmente por homens solitários que compreenderão e homenagearão o nosso amor congelado para as eternidades. Ser-nos-ão concedidas honras e tornar-nos-emos lendas. Uma estátua é erguida, depois uma capela, a catedral chegará poucos anos depois do negócio ter crescido à volta dela. Melhor do que nós poderíamos, aqueles que nos adoram conservam os nossos corpos num estado considerado belo. E somos mesmo belos, por isso é que todos nos olham e invejam, beijando terços entre preces.

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (23 de Abril de 1991)

Quando morrer vão-me fechar os olhos e então começarei a cantar livremente a canção das selvas. Enviarei emissários do meu espírito para serem mordidos por cobras venenosas e despedaçados por leões famintos. Depois da minha primeira morte morrerei de todas as formas possíveis. A forma da minha morte será o meu vício, por isso tentarei sempre fazer uma coisa nova num Universo que sei ser infinito, felizmente, pois permite-me morrer até à eternidade das mais belas formas e feitios que eu sonhar. Assim serão as minhas mortes e as minhas vidas no Céu ou no Inferno.

Comiseração (55) (P)

Doem-me os braços e os amassos negados são piores que abraços roubados Oh Meu Deus, o meu coração está parado! Abandonado no meu peito amaldiçoado, já não bate, já não vive é só silêncio. Consumido por atrocidades e de esperanças despido quando se viu do alto sonho destítuido Fomos outra vez Inverno para as nossas sombras Assim que o som da chama se apagou na alcova E sozinhos percebemos que a vida estorva Se te tirassem as correntes, fugirias? - Não, esperaria a hora da vingança. Olha as minhas mãos geladas, não as posso aquecer, abandono-as à sua solidão. Elas que cuidem de si, as minhas mãos porque eu quero uma independência total. Ahahhaha, os meus orgãos abandonados apunhalar-me-ão pelas costas numa noite de solidão. Dai-lhes vida e trabalho enquanto não restar força para o seu sofrimento. Assim decretaram as legiões divinas. Oh Meuu Deus, toda à minha volta é uma estrada sem volta para a morte torta! Quantas vezes observei os caminhos estáticos até perceber que são e

Os Homens Quebrados (XXXIII)

Os Homens Quebrados estão entre os desistentes Os enganos nos caminhos tornaram-nos dissidentes Os Homens Quebrados aguardam a chegada da fada A fada da sorte, ou uma máscara da morte Os Homens Quebrados dançam em modo automático O seu espírito desligado deixa o corpo lunático Um milhar de horas, um milhar de anos, A vida é a espera, a vida é o pranto

Os Homens Quebrados (XXXII)

Quem segura as mãos que caem desamparadas a meu lado? Os meus membros estão adormecidos e o meu olhar congelado Estou entre os que quebraram A certa altura, no tempo, o seu tempo deixou de existir como o tempo dos outros existia, Os dias eram horas e às vezes, horas eram meses que nunca acabavam então era tempo de dizer a verdade, não, é peço desculpa, camaradas, atrasei-me Foi isto, foi aquilo, reúnes desculpa, mas sabes quem podes culpar e então culpas-te a ti É aí que nasce o remorso e toda a auto-consciência Quando te encontrares na estrada da vida com graves chagas do pasado Facilmente perderás a recta via Esta é uma mensagem evidente Fizemo-la fortuita para que podesseis ver mais do que um céu

Coração Sangrento

Esta noite o meu coração sangra A longa rua está silenciosa E na linha da lua, a milagrosa, os dias estão a fechar-se violentamente e as vidas a perder-se lentamente olho para cima, ainda não estou encurralado tenho asas, mas não quero voar do centro da cidade para o centro da minha dor Tenho sede, tenho calor tanto medo e tanto amor Petrogul Al-Saphyria Appendice A Coroação cinzenta do Coração sangrento  Cor da canção do pensamento Violento como faíscante golpe de desconhecimento

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (10 de Janeiro de 2016)

 Dez mil anos depois entre o Céu e o Inferno O penitente descrente desiste às portas do Eterno  O paciente espera que a palavra divina lhe seja soprada ao ouvido. Durante horas ele martela violentamente pensamentos com frases obsoletas, mentiras irrefutáveis, belas pérolas de inconsistente saber que não formavam coisa nenhuma e explodiam na espuma dos nossos dias como as ondas que voltam e regressam sempre para o mar com a esperança de que voltem mais fortes!

Duas Três Linhas

Quantas vezes enlouqueci praguejando o teu nome entre murmúrios na pradaria Quantas salas passei gritando o teu nome na antecâmerca da galeria Com vistas para o jardim onde desabrocha a nauseabunda flor do nosso amor? Não dês motivos à desmotivação Nos três sentidos a constelação No denso ar a sublime percepção

Os Homens Quebrados (XXXI) Comiseração 1 (P)

Oh Meu Deus, estes médicos querem matar-me! Eu fui a uma consulta de rotina num hospital suburbano e estive na sala de espera entre pessoas aleatórias sentindo-se indispostas, com principal destaque para uma rapariga que se contorcia e estava agarrada à barriga enquanto murmurava dor. Eu via os médicos passar, mas eles não lhe prestavam auxílio, por isso fui ver se podia ajudá-la eu, mas ela afastou-me violentamente, não podia estar em si, a coitada, voltei para o meu lugar. Espantaram-me aqueles médicos que não ligavam nenhuma a essa rapariga que estava no chão com esgares de pânico. Levantei-me e esperei que um deles passasse. Queria confrontá-lo, mas ao ver a sua cara através do círculo de vidro das portas que batem, ainda antes de ele entrar na sala de espera, pareceu-me ver uma máquina, o que me deixou desmotivado. Os seus olhos frios ignoraram-nos e chamaram um pequeno jovem e a sua mãe, que me pareceram estar bem dispostos. Saudei-os como saudo toda a gente no tempo, mas lancei

COMISERAÇÃO (PARA NÃO MAIS SENTIR) (P)

Se me despedisse de verdade não saberia a que horas voltava a ver-te voltar de um dia inglório e então era demasiado tempo no laboratório, por isso não vale a pena estarmos a esperar estar certos ou errados sobre o que quer que seja, por isso mais vale ficarmos, assim, sentados a olhar um para o outro na distância de uma vida, em que nos vemos sem nos ver, a não ser, a não ser por palavras, estúpidas palavras que me reencontram, que NOS reencontram aliás sempre estupidamente sem a bênção de um olhar, porque aqui nem a frase mais longa dos Universos pode contar...a frase mais comprida do mundo é incapaz de ligar duas pessoas como um olhar ou um contacto, por isso tudo isso então, quero despedir-me na esperança de um encontro fugaz, mas no campo talvez, os meus dias sejam então mais bem passados, na verdade, sim...agora no campo, com toda aquela paz, das vacas que mugem e o medo que não haja mulheres para mugir os nossos sonhos (porque eu bailo em baile para guardar memórias pornográfica

Os Homens Quebrados (XXX)

Os Homens Quebrados, ah Os seus corações choram estrangulados Têm remorsos dos caminhos que não foram usados Os Homens Quebrados, ah Têm legítimas dúvidas no tempo Decisões perenes leva-as o vento Os Homens Quebrados, ah Confrontam-se a si próprios constantemente Numa arena abandonados jocosamente Os Homens Quebrados, ah Perdem-se no dilúvio de um céu laranja Espalhados distantes num céu sem granja Os Homens Quebrados, ah Nómadas sentimentais despojados de vida Mónadas vegetais inseridas em carne suicida Os Homens Quebrados, ah São tão livres Que querem ser acorrentados novamente

Os Homens Quebrados (XXIX)

Os Homens Quebrados coleccionam máscaras e quando já não suportam mais o quotidiano viajam com elas em malas que parecem estar vazias a todos os Invasores que a inspeccionam. São feitos de nada os seus pensamentos supostamente volúveis. Todas as concepções caem como baralho de cartas a todos os impasses.

Comiseração (54) (P)

Oh Meu Deus, estas vozes estão a tentar matar-me! Ao início eu tinha uma voz, era uma voz que ressoava forte e era ouvida. As pessoas obedeciam prestavelmente às suas ordens, porque era uma voz limpa, de líder. Com o tempo, a minha voz foi afrouxando. Comecei a falar para dentro e de forma insegura. As pessoas deixaram de me ouvir e comecei eu a seguir as vozes fortes que ouvia. Era muito feliz. As pessoas amavam-me e eu sentia-me integrado. Fazer aquilo que me mandavam deixava-me num paraíso de despreocupação. Os outros ocuparam-se de me fazer feliz e eu fui feliz pelos esforços deles, mas a certa altura tudo mudou. Vinda de mim, uma outra voz começou a discordar com as opiniões daquela que eu julgava ser a minha voz e então...instalou-se a dúvida. Qual é a minha voz? Será a primeira, a segunda...ou não será nenhuma destas...então apercebi-me de uma terceira voz, uma voz irada que estava lá no fundo do espírito a gritar pelo meu sangue. Desde esse dia, a minha voz tem vindo a multipli

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (14 de Novembro de 2014) (P)

Hoje tive de ir a Cascais tratar de uns assuntos relacionados com o meu trabalho e, como é sexta-feira, acabei por ficar lá para ver como era a noite na Linha. A certa altura encontrei uns jovens com 17/18 anos a misturarem Whisky JB 15 anos com Coca-Cola. Fiquei indignado e, para além de ter gritado com todos eles, bati naquele que me pareceu o líder do grupo.

Gosto (51) P

Gosto do meu próprio cheiro a suor, mas não o aprecio somente por ser um símbolo do esforço e da luta, acho-o realmente um cheiro agradável, principalmente quando misturado com o cheiro de relações sexuais. Certo dia, estive toda a tarde caminhando no centro de uma capital europeia depois de ter passado a noite e parte da manhã a fazer intenso amor com uma jovem finlandesa, adiando mais e mais a hora em que me ia lavar, porque estava a ficar realmente encantado com a mistura de cheiros que eu tinha. Os suores das outras pessoas não cheiram tão bem como o meu cheira!

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (22 de Dezembro de 2015)

Passei a tarde a beber cervejas e a fumar paivas no Arco do Cego com o meu amigo Arnaldo Rodas, um paraguaio que cresceu na Galiza e que eu conheci em Santiago de Compostela, quando lá trabalhava. Ele aproveitou as férias de Natal para vir até Portugal passar uns dias e eu, para além de o acolher em minhas casa, levei-o a conhecer toda a cidade e mostrei-lhe os recantos mais poderosos de Lisboa. Ele ficou maravilhado com o meu conhecimento pormenorizado sobre as ruas e encantado, com todas as histórias que lhe contei. Arnaldo fala sempre em galego, língua que prefere ao espanhol por ser o símbolo de uma minoria. Por volta das 19:00 fomos para Entrecampos para apanhar o comboio suburbano até Sintra, cujos mistérios místicos eu sou capaz de revelar melhor quando o sol se põe. Íamos bem tocados, tínhamos dividido umas 20 cervejas e ainda fumamos. Estávamos bem alegres e ríamos despreocupadamente. Ao chegarmos à estação, a senhora cuja voz automática anuncia a origem e o destino dos comboi

Três Linhas

Oh this madness River of pure sadness Unending stream of blackness Nadir Veld

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (14 de Novembro de 1996)

Como desenvolver a imaginação: Sempre que nos confrontamos com uma situação, não podemos olhar para ela como se já estivesse completa, uma vez que ela nunca está acabada (nada está acabado no mundo, mesmo a morte é uma coisa aberta, desconhecida, um negro mar em que todos navegaremos, mais cedo ou mais tarde). A partir do momento em que conseguimos ter essa visão, o que eu chamo a "visão de permanência", uma vez que se consegue fixar no alvo e ficar a olhar para ele muito depois de o que se passa à sua volta ter perdido o interesse, percebemos qual é a questão que devemos colocar perante cada situação para nos serem reveladas todas as possibilidades que ela abria: "E SE...?"...Ok, ok, isto passou-se, mas "e, se...". Quando o "se" nos aparece na mente, sibilando como uma serpente, toda a cena ganha uma perspectiva diferente. Analisamos o que fizemos e o que foi feito e milhares de pequenas situações, de gestos, de tudo, poderiam ter mudado os fa

Os Homens Quebrados (XXVII)

Tremendo, caminho na Madrugada Como uma asa num sonho Sacudo o vento e voo Para um rotundo nada Como uma árvore no mundo plantada A atmosfera nunca está mudada Mas não atinjo a tranquilidade vegetal Porque o meu corpo animal Quer a sua energia vital Rumar a Ocidente para o destino Final Preso nesta armadilha Fatal Aguardo o dia para me pôr com o Sol a Ocidente E ignoro o nascer do Sol a Oriente (Quando eu chego ao mundo vindo do reino da inconsciência o sol tem de estar no céu)

Os Homens Quebrados (XXVI)

Queríamos que o nosso choro buscasse o riso, Mas no seguinte momento indeciso Foi de novo o lenço preciso E escondemos o nosso rosto marcado De rugas onde correram derramadas Águas de milhares mágoas Somos os Homens Quebrados, Cedemos em todos os momentos Porque a fragilidade das nossas estruturas Já desabou e continuará a desabar Nas ruínas das ruínas das ruínas Este é um livro anunciador, com certeza ele vos despertará para os caminhos que não deveis seguir. Esta é uma mensagem para os mundos, a sua veracidade será confirmada antes do Juízo.

Aquele que está bem....? P

- Olá, sou aquele que está bem. É uma nova mensagem para o depósito das flores a serem entregues logo à noite, sim e também do bolo em forma de coração com romântico recheio de rosa morango que deve ser entregue à menina solitária que parece estar perturbada no café à espera de nada (e que o faça bem feito o simpático camarada que desaparecerá nas brumas de toda a memória). Aquele que distribui os desejos jamais deixará de ter trabalho, mesmo que estivesse apenas a cumprir os desejos de apenas uma pessoa. Os seus sonhos infinitos têm de ser realizados nos quotidianos múltiplos, por isso velam por elas hostes de anjos de azar e de sorte. Eu sou quem põem a memória na vitória.

Os Homens Quebrados (XXV)

Sou um Homem Quebrado Estou parado antes de ter começado a preparar o Futuro Actor senil abandonado num palco sem memória Luta contra a luz por uma vitória Que tarda Por isso a vida bastarda Continua a ser bastarda porque não lhe chamamos mais nada

Os Homens Quebrados (XXIV)

Porque o meu coração imenso encontra o amor da sua vida Todos os dias da Vida Porque o meu turbilhão intenso desfaz a paz e cria o conflito Nos conflitos dos dia a dia Porque as estradas estão fechadas e insisto em percorrê-las Sozinho debaixo das estrelas Sou um Homem Quebrado Paro antes de me ter alcançado

Os Homens Quebrados (XXIII)

Os Homens Quebrados estão sentados numa cratera deserta À espera da morte que é certa Numa casa da floresta com a porta aberta Um castelo numa nuvem é o seu palácio Os Homens Quebrados reconhecem-se quando se cruzam uns com os outros na rua. Tentam ambos cumprimentar-se, mas não o conseguem fazer, o que leva a que por vezes creiam que foram ameaçados por pessoas vulgares que passavam.

Os Homens Quebrados (XXII)

Os Homens Quebrados estão divididos por uma escolha. Double Bind . Nada mais pensam a não ser no duplo vínculo de todas as suas acções. Estão obcecados pelo outro lado da moeda, tão obcecados que nem se apercebem que não estão em lado nenhum da moeda...Não tomam partido, porque sabem que tomando um partido marcam uma posição. E um Homem Quebrado nunca marca nada. Ele só se desmarca para desaparecer.

Os Homens Quebrados (XXI)

Somos os Homens Quebrados Ah As nossas vozes soltas pelo álcool estão contidas e agarradas Seguradas seguras aos corrimões da nossa vaidade Apenas dançamos as músicas que conhecemos Caímos sempre quando a perdemos e somos deixados de novo Sós Depois da noite de aparente felicidade Somos os Homens Quebrados As nossas emoções inconstantes Destruíram o Auto-conhecimento E tornamo-nos os nossos heróis quando pregamos a Verdade Oculta

Os Homens Quebrados (XX)

Os Homens Quebrados quebram porque a realidade nunca alcança o sonho Os Homens Quebrados quebram porque os sonhos esmorecem e se tornam a antiga realidade Os Homens Quebrados quebram porque os novos sonhos são uma maldade Os Homens Quebrados quebram porque não podem nem dormir com os sonhos que têm Os Homens Quebrados quebram porque não podem estar acordados na realidade que vêem Os Homens Quebrados quebram porque os seus cérebros ardem de indecisão Os Homens Quebrados quebram porque apagam fogo com vodka e gasolina Os Homens Quebrados quebram porque foram demasiadas noites consumidos por fogo e lágrimas Os Homens Quebrados quebram porque temem um dia chorar gasolina

Os Homens Quebrados (XIX)

A multidão grita em árabe as palavras de revolta. As cordas são lançadas em volta da estátua do antigo ditador e a fúria do povo e da tropa americana derruba agora o frágil ferro que dobra pelas canelas e o monstro fica ali pairando estupidamente. Partiram o pescoço ao Saddam Hussein alguns meses depois, mas ele sempre foi um Homem Quebrado.

Os Homens Quebrados (XVIII)

Os Homens Quebrados evitam fazer certas perguntas cuja resposta sabem que os pode desiludir. Preferem viver na imatura sombra da incerteza, na vaga ignorância colorida de esperança. O Desconhecido revelado pode sempre surgir como uma agradável surpresa no quotidiano despedaçado dos Homens Quebrados. O melhor amigo dos Homens Quebrados é sempre o Alheio. Uma vez que um Homem Quebrado acha que nunca se conseguiu relacionar com ninguém, todas as pessoas com que possivelmente comunicará nas suas sórdidas deambulações pode ser o Enviado Divino e ele sonha vê-lo chegar acompanhado de hostes de anjos celestiais.

Nada Personal (Soda Stéreo)

Nada Personal Comunicación sin emoción una voz en off con expresión deforme busco algo que me saque este mareo busco calor en esa imagen de video Nada, nada personal nada, nada personal Ella no puede pensar, esta aburrida de tanto simular cayó dormida busco en tv algún mensaje entre líneas busco alguien que sacuda mi cabeza y no encuentro nada, nada Nada personal nada, nada personal nada especial Sinceramente sería tan bueno tocarte pero es inútil, tu cuerpo es de látex y no siento nada Nada personal nada, nada personal Nada Pessoal Comunicação, sem emoção Uma voz em off  com expressão Disforme Procuro algo que me tire deste torpor Procuro calor nesta imagem de vídeo Nada Nada Pessoal Nada Nada Pessoal Ela não pode pensar, está aborrecida De tanto simular caiu adormecida Procuro na TV alguma mensagem subliminar Procuro alguém que sacuda a minha cabeça E não encontro nada Sinceramente, seria tão bom tocar-te Mas é inútil, o teu corpo é de látex

Os Homens Quebrados (XVII)

Os Homens Quebrados fazem as coisas à pressa e desculpam-se pelo seu insucesso dizendo que fizeram as coisas à pressa. Não se esforçam e desculpam-se com a falta de esforço empenhado, nunca revelando o seu verdadeiro potencial, que, na grande parte dos casos nem sequer existe.

Os Homens Quebrados (XVI)

Somos os Homens Quebrados Escutamos a Madrugada E achamos triste O cantar dos pássaros E o gorjeio da coruja É o prenúncio da morte violenta na janela Que o cão negro ladra selváticamente E é assim, no Reino de Sombras, As manhãs entram pelo dia e desaguam na loucura

Os Homens Quebrados (XV - Os Mandamentos)

1 - Aprenderás com todos os Deuses, pois não existe uma Verdade Absoluta.

Os Homens Quebrados (XIV)

Sou um Homem Quebrado, amo e odeio sem freio domando o cavalo alado da loucura. Concordo com as minhas emoções sem lei, caminhando desordenado na fina linha da realidade. Apoderam-se de mim todos os espíritos. Existe uma luz fina que brilha como oiro sobre todas as estradas a percorrer, todos os Caminhos parecem ser abençoados pela suprema graça de Deus. Esta é uma mensagem para os mundos, percorre todos os caminhos, pois arrepender-te-ás severamente por todas as estradas que não percorreste. Esta é a verdade absoluta. Não há limite para o conhecimento que podes encontrar em todos os caminhos, por isso percorre-os a todos, várias vezes, mesmo que seja a velocidade alucinante, saberás parar para contemplar o melhor e reter todas as belas coisas, depois sairás voando em direcção às estrelas do conhecimento absoluto, transportando o maravilhoso saber de toda a experiência. Aprenderás com todos os Deuses, pois não existe uma só Verdade.

Os Homens Quebrados (XIII)

Os Homens Quebrados, espalhados Estarão atordoados, adoentados Ou serão vãos fantoches liquidados? Os Homens Quebrados, maquilhados Serão subjugados, torturados Ou serão esquecidos e amados? Os Homens Quebrados perguntam Os Homens Quebrados ponderam Os Homens Quebrados desceram Do passo de sonho que deram Os Homens Quebrados, escondidos Querem ser sonhados por uma máquina

Os Homens Quebrados (XII)

Somos os Homens Quebrados, por vezes, os nossos impulsos místicos concretizam-se no contemplar da lua cheia misturada com a loucura alheia. Olhamo-nos a nós mesmos nos outros como citadinos que somos. Vivemos para os outros nos verem viver e por isso contemos os nossos ímpetos emocionais. Queremos o que os outros querem, mas nem lutamos por isso. Percebemo-lo quando um carro topo de gama atravessa velozmente uma poça de água, enquanto passamos desprotegidos ao pé dela. E é assim. Em desconfortáveis águas seguimos para novas esperanças antigas.

Os Homens Quebrados (XI)

- Eu Sou um Homem Quebrado! O analista, limitado, não entendeu o alcance das minhas palavras. Deu-me um martelo para adormecer. Pu-lo na mesa de cabeceira e bati com ele bem forte na minha cabeça. Adormeci. Agora sabeis o que é um Homem Quebrado.

Os Homens Quebrados (X)

Somos os Homens Quebrados Não temos opinião A vossa decisão É a nossa tradição Desde que sigamos sorrindo por breves momentos Somos os Homens Quebrados Esquecemos o tempo Abandonamos a forma Dormimos ao relento Temos tempo de sobra Somos os Homens Quebrados Não temos destino Mas percorremos os caminhos Divididos em mil peregrinos Somos os Homens Quebrados Sem casa ou lugar Sem nada para dar Nem razão para lutar

Os Homens Quebrados (IX)

Os Homens Quebrados Escrevem livros errados Neles, monstros alados E heróis abençoados Lutam pelo bem estropiado E, quando o conquistam, O poder absorve-os e tornam-se ditadores Os heróis, esses agitadores Monstros cruéis de um mundo sem justiça Na cabeça das alucinações

Os Homens Quebrados (VIII - o Abcedário)

Uma lenda antiga de uma misteriosa religião diz que as letras do alfabeto românico eram uma única entidade que se partiu, dividido-se nas letras com que produzimos sons. Essa entidade seria um dos Deuses ligado ao processo sonoro com que o ser humano poderia comunicar. Um som que essa entidade fosse incapaz de processar e identificar seria impossível de ser ouvido pelo ser humano. Um pouco à semelhança do HOMEM-ORQUESTRA, que admito ter inspiração neste mito. Se as palavras que temos a nossa disposição provêem de um Deus partido, quantas mais almas teremos de resgatar do Inferno? Se as letras à nossa disposição foram espalhadas nos teclados em que escrevemos, rejeitando a ordem do Deus inicial que operou a esquematização de todos os sons? Será que esse Deus também operou de forma semelhante com povos que produzem sons distintos dos nossos (que não estão incluídos nas letras com que falamos?) Será que, utilizando correctas conjugações de letras, podemos criar todos os sons? De letr

Os Homens Quebrados (VII)

Os Homens quebrados simplificam todos os temas, limitando-os a uma explicação simples, normalmente composta por uma ou duas frases em que crêem conter toda a Verdade, que crêem congelar todas as coisas que podem ser ditas pelo tema. Normalmente as duas frases são ditas de forma atabalhoada e mal pensada, pelo que se perde o sentido. Os Homens Quebrados sentem-se incompreendidos quando as suas metáforas não despertam interesse. Então revoltam-se. Mas devagarinho.

Os Homens Quebrados (VI)

Os Homens Quebrados estão espalhados pelos continentes da Imaginação. Viajam na Inconsciência da sua vida como quem não tem outra vocação senão deambular sem recursos na solidão de uma emoção, tacteando a medo as intrigantes intransigências da alma que quer sempre alguma coisa fulgurantemente. Essa coisa, nunca a tem, pois quando a ganha se apaga todo o fulgor, já se sabe como é, impressiona muito mais o explodir do fósforo que o fogo que consome a madeira de forma vulgar.

Os Homens Quebrados (V)

Somos os Homens Quebrados Os nossos sonhos antigos São recordações nostálgicas Memórias mágicas De quando viviamos A Razão mostrou-se maior que os nossos esforços Por isso somos os Desistentes Abandonando, contrariados, E a diferentes ritmos os nossos corpos amaldiçoados

Os Homens Quebrados (IV)

Enquanto Homens Quebrados, preferimos mentir, sempre que nos perguntam se estamos bem. Mentimos sempre, mesmo que seja uma pergunta sincera, feita para o nosso bem. Dizemos sempre que está tudo bem aos outros, mesmo que para nós esteja tudo mal, ainda que, na verdade, tudo esteja mais ou menos...Ah, sempre mais ou menos, numa indecisão fatal, ah, numa espera decidida, sim, uma vaga espera decidida a esperar mais um pouco, na sala de espera da loucura em que entramos cegos e seguros de que estamos bem, ainda que nos rodeiem os estudiosos da mente, com as suas complexas questões superficiais nas convenções de psicólogos psicopatas que meteram a vida na gaveta e escreveram um livro sobre os buracos das ravinas ao pé do Oceano. Por que há tão poucos livros sobre as janelas, quando delas podemos ver para lá de qualquer psicologia o canto das aves, por exemplo, tão diferente, como os irmãos gémeos separados à nascença e colocados em ambientes distintos: num deles um ouvia música clássica e o

Os Homens Quebrados (III)

Multiplicamo-nos por zero Ah, vemo-nos chegando a milhares de estações Sem pertencermos a nenhuma Somos ilhas nas cidades agitadas Isoladas fachadas de um reino morto

Cuando estes aca (La Renga)

Quando estiveres cá vais ter espaço E uma frágil forma de existir Vendo-te nascer, quem pode ver Um mundo para destruir? Olhos que não vêem, corações que não sentem E tu estás por chegar A cada instante haverá uma flor E em cada flor haverá um instante Em que a vida se mostre Diante destes olhos néscios Quando estiveres cá, vais ter o teu tempo O mesmo que não tem fim Num mundo assim, onde está o teu lugar Quem pode a água envenenar? Olhos que não vêem, corações que não sentem E tu estás por chegar A cada instante haverá uma flor E em cada flor haverá um instante Em que a vida se mostre Diante destes olhos néscios Quando estiveres cá terás espaço, tempo E algo por que lutar Ver-te crescer e tornar-te forte Que mais há por que viver? Olhos que não vêem, corações que não sentem E tu estás por chegar A cada instante haverá uma flor E em cada flor haverá um instante Em que a vida se mostre Diante destes olhos néscios Petrogul Al-Saphyria

Os Homens Quebrados (II)

Somos homens dispersos Vendemo-nos aos Demónios ou aos Anjos Dependendo do que nos esticar a mão primeiro Então, sorridentes, seguimos sem pensar Dançamos ao som da música que está a dar E nunca nos importamos em mudar Os nossos olhos cumprimentaram estupidamente o dia e a noite E sossegadamente concordaram com o que viam Voltando as costas para dormir Enquanto todos os outros tratavam de tudo para os cegar Abafando-nos na longa noite

Os Homens Quebrados (I)

As nossas frases soltas São mentiras mestras Na fechadura das fenestras Por onde o sol não brilha Na escuridão mantemos o desconhecimento sobre o nosso futuro Sair dela é uma provocação às leis Procrastinar, o nosso lema. Somos os Homens Quebrados Vagueamos em Conjunto

Comiseração (56) (Prólogo de "Os Homens Quebrados") (P)

Quando as palavras nos parecem insuficientes para expressar toda a complexidade do sentimento deste corpo ofegante, somos forçados a deixar esse modo de comunicação e então restam-nos imagens e melodias que podemos tocar, mas nenhuma imagem tem a sensação, que ultrapassa todas as metáforas e é muito mais que um banco de jardim numa cratera desértica de uma lua ancestral. Então, todas as formas de comunicação desaparecem e deixa-mo-la desaparecer, como se adormecesse nela o espírito, embalando a alma que, ainda assim, vê a destruição aproximar-se, porque no fundo sabe que está a tomar a atitude de deitar para baixo do tapete os importantes vestígios daquilo que é, na verdade, a minha vida despedaçada...os pequenos cacos que no fundo formam a minha identidade, e depois temos de ir buscá-los, mais tarde, não é? Já sabemos...Vamos buscar os cacos e eles estão sempre mais velhos porque não cuidamos dele, nem quisemos saber que eles existiam, vivendo estupidamente com cinquenta por cento da