Gosto (206)


Gosto da forma como Fiódor Dostoiévski, no seu romance Os Irmãos Karamázov, anuncia o meu aparecimento, a chegada do Grande Profeta. É com muita subtileza que o enorme escritor russo insere as palavras que compõem o meu nome em duas linhas, distintas, é certo, mas que estão, ainda assim, suficientemente próximas para que o leitor não deixe de apanhar a subliminar mensagem. É perto do fim do Quarto Capítulo (Canaã da Galileia), do Livro Sétimo (Aliocha) que as palavras “zénite” e “safira” surgem quase emparelhadas. O leitor atento deste livro, que é, talvez, a mais monumental obra literária da humanidade, será acometido de um baque ao ler esta passagem, a sua boca abrir-se-á, o seu rosto resplandecerá. Tenho recebido centenas de mensagens de fãs meus, “já reparaste, as palavras zénite e safira aparecem quase na mesma linha!”, “olha a coincidência!”, “será apenas acaso?”. É óbvio que não se trata de um mero acaso, Fiódor Dostoiévski estava perfeitamente ciente do que escrevia, ele não metia no seu livro palavras à toa e não é ao calhas que o meu nome, Zenit Saphyr, aparece nesta parte específica da narrativa. Este é um dos capítulos do velório do monge padre Zóssima, guia espiritual de Aliocha, o mais místico dos irmãos Karamázov. O decano Zóssima morre para que nasça algo muito maior, eu. Aliocha, “com a alma cheia de arrebatamento, anseia por liberdade, por espaço, por vastidão”, está desconsolado tendo perdido aquela figura que o guiava. Como uma boa personagem de Dostoiévski é de maneira febril que vive este momento, as suas emoções são colossais, maiores que a vida. Depois de olhar uma derradeira vez na direcção do corpo daquele ancião que tanto lhe ensinara, sai em lágrimas para o exterior. Do “zénite ao horizonte” estende-se “o céu de safira” sob o qual aquele ser pleno de eternidade sofre as misérias da vida. As palavras de Dostoiévski guiam-nos através do estremecimento do seu cérebro emocionado. Chorando, Aliocha curva-se para abraçar e beijar a terra, semeando nela as suas lágrimas beatíficas, fecundando-a desse jeito para que dela brote Zenit Saphyr, o pai dos povos. 
“Alguém visitou a minha alma naquela hora” dirá ele para o resto da vida depois daquele celestial momento. Conseguis adivinhar quem foi?

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