Entrevista a Alvos Millar

No dia 12 de Novembro de 2014 foi chamado a depor Alvos Millar, na vigésima segunda Gala anual do Grande Exército Universal de Luta pela Liberdade. Para o interrogar tive que ordenar a emissão de mandatos que possibilitassem a obrigatoriedade da sua presença perante este tribunal da Humanidade. Assim, sem alternativa, Alvos Millar, a estrela da morte, vai poder explicar a sua atitude de constante morticínio em relação às mais variadas espécies, sem mais rodeios e fugas, ele explicará porque é que a sua força definitiva rege o mundo em vez de estar adormecida e de vez em quando ser chamada.

Alvos Millar não foi visto a chegar de carro, ele simplesmente apareceu, ainda que ninguém o tenha visto assomar do vazio. Um sítio estava sob controlo, alguém tirou o olhar dele durante meio segundo e ele apareceu de lá, como se sempre lá estivesse estado, andando como se tivesse cruzado todo o corredor com passo uniforme. Alto e todo vestido de branco, com um aspecto angelical a soltar-se da vasta cabeleira cor de oiro, com um rosto andrógino corado e os olhos cor de céu livre de nuvens que eram o ponto mais intenso daquele estranho indíviduo. porque para grande incómodo de toda a gente costumava abandoná-lo por breves instantes. Acontecia quase todos os minutos, como um faiscar de loucura, a alma saía daquele corpo, que parecia apenas ser um vaso descartável para uma Entidade. Nos momentos em que a alma saía, o corpo parecia adormecer como abandonado pela vida, como alguém que está a perder os sentidos, mas passado meio segundo a alma estava de volta e apanhava o corpo depois de este ter estado inanimado durante uma fracção de tempo. Parecia um toxicodependente com aqueles espasmos e sacudidelas constantes, mas isso raramente influenciava o seu discurso. Entrou na sala sob um forte apupo das pessoas presentes. Revelavam uma raiva pura contra ele e eram sobretudo pessoas mais velhas que estavam na sala. Quando se sentou, fiz-lhe a primeira pergunta.

Zenit Saphyr - Boa tarde. Chamas-te Alvos Millar, a estrela da morte?
Alvos Millar - Sim, costumam-me chamar assim.
ZS - É verdade que és o responsável por todas as mortes que acontecem neste lugar, no planeta Terra?
(Ergue-se um rumor de raiva do público)
AM - Sim, mas olhe bem para ali (apontando o público)...eu não sou o responsável por aquilo...peles descaídas. As máquinas deixam de bombear a vida depois de muito arderem debaixo do sol. Eu não posso ser responsabilizado pela morte existir, pois não fui eu que a inventei.
ZS - Então chegamos à questão que eu mais desejo tinha em colocar-te. Quem é que inventou a morte?
AM - O meu empregador, o Ele, o sem nome.
ZS - Deus?
AM - Há quem lhe chame assim. Esse nome está certo e errado. O seu Verdadeiro Nome só será revelado se todo o dinheiro do mundo for reunido e queimado numa fogueira em volta da qual toda a gente da Terra deve dançar de mãos dadas, já o Seu terrível nome, a Humanidade vai conhecê-lo quer queira quer não.
Os seus flip outs
(silêncio)
ZS - Mesmo que queimemos todo o dinheiro e dancemos...?
AM - (solta uma triunfal gargalhada)...Isso é um acontecimento para jamais.
ZS - Quando recebes uma ordem para matar, podes negar-te a cumpri-la?
AM - Sim, em princípio, sim...Uma vez que a cumpro de livre vontade e plenamente consciente da sua consequência, deduzo que me poderia recusar a cumpri-la, mas uma vez fui ameaçado de passar a não existir por Ele. Foi Ele que me concebeu, com este objectivo, por isso devo seguir cumprindo a minha tarefa. Fico revoltado por me terem chamado aqui. Eu considero-me essencial para que haja vida, porque se não houvesse morte não havia vida, Para os que ainda não morreram pode ser uma coisa aterradora ver os outros partirem para o desconhecido, mas sinceramente acho que é isso que dá sentido à vida.

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