Não Gosto (XXVII)

Mais que um ódio repulsivo, nutro um profundo pavor às pessoas que se vestem da mesma forma. Tenho um sonho recorrente com uma multidão vestida de negro a aproximar-se de mim e a linchar-me sem dó nem piedade. Os vultos aproximam-se e eu faço uma generalização das caras e, como estão todos vestidos iguais, no sonho parece-me que todos têm a mesma cara; é impossível destrinçar a individualidade no conjunto.
Não é só por causa deste sonho que tenho medo desta escumalha. O que pode passar na cabeça de alguém para se decidir com as mesmas peças de roupa que os outros vestem? É aberrante. As fardas dos colegiais que se passeiam por escolas privadas, ouvindo professores idiotas debitando a matéria que lhes foi enfiada no cérebro por um funil de metal, que lhes furou a capacidade de interpretar o mundo que os rodeia, são das vestimentas mais monstruosas que existem e contribuem para que os garotos fiquem todos iguais como filhos de uma máquina de poder e, em Portugal, passado algum tempo chegam aos últimos anos da Universidade e vestem umas grotescas túnicas negras com que se pavoneiam como idiotas pelas principais avenidas da cidade, inchados por um orgulho imbecil que só uma sociedade demente pode aprovar, gritando frases de ordem e dando tarefas humilhantes a putos imberbes, que olham com respeito para esta cambada, desejosos de, futuramente, estarem no seu lugar e assim continuarem a meter óleo nesta corrente ininterrupta de monstruosidades. Os que submetem os caloiros e se vestem todos com essas vestes negras não me metem medo nenhum. São uma excepção à regra dos todos-vestidos- iguais-metem-medo-a-zenit-saphyr. Normalmente andam todos bêbedos a gregarem-se pelas ruas e pelos bares e é perfeitamente fácil espancar qualquer um deles.

Quando as pessoas escolhem andar com a mesma roupa perdem a sua individualidade, ainda que o façam porque estão a combater alguma causa no mesmo lado da barricada. Por muito que tenhamos ideais semelhantes, ninguém é igual a nós, por isso não nos devemos vestir como os outros para realçar as semelhanças ideológicas.

Mesmo em desportos colectivos acho que os desportistas de cada equipa deviam vestir-se de acordo com o que a sua individualidade lhes indicasse. Os colegas de equipa conhecem-se, treinam juntos, em princípio não há motivo nenhum para se confundirem no terreno de jogo.

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Contos Eróticos de Fernando Bacalhau (Alexandra Lencastre)

Dicionário com palavras pessoais

As Mais Belas Palavras da Língua Portuguesa