O Meu Poder (IV) P

Eu gosto é de estar comigo. Não preciso de mais nada. A minha cabeça, e as ideias que nela cozinho, com um constante sorriso nos lábios, indecifrável para quem o tenta interpretar, é a única companhia de que preciso para me aquecer nas noites solitárias. Não digo que não goste da companhia de outras pessoas, mas se tive mulheres-companheiras e filhos em várias partes do mundo e preferi abandoná-los a ter uma entediante vida com rotinas é porque consigo encontrar mais em mim do que aquilo que todos os outros me podem dar. É sem medo que me afirmo o Senhor Arrogância Distância. Quero que toda a gente fique longe e que saiba pouco sobre mim, apenas informações vagas e irrelevantes, ditas de forma fria e calculista.
Quando estou com outras pessoas estou quase sempre a mentir-lhes, o que muito me diverte. Não é que isso me ajude nas relações com elas ou faça com que tenham uma melhor opinião de mim. As minhas mentiras nunca são auto-bajuladoras, na verdade, na maior parte das vezes, até são depreciadoras em relação às verdades que poderia ostentar. Às vezes dou por mim involuntariamente afundado numa profunda mentira, que não tem pingo de verdade em nenhuma parte da história, mas, uma vez que comecei a inventar, não posso parar e sigo mentindo com todos os dentes que tenho na boca, dando uso à minha brilhante imaginação para enredar as pessoas numa teia de enganos que muito me diverte. e elas raramente percebem que estou a mentir, tão seguras são as minhas invectivas. De grandes mentiras, contadas a pessoas fáceis de enganar, a pequenas, contadas a grandes leitoras de mentes, povoei a minha vida de falsidades. Certo dia, estava a ser interrogado por uma agente federal americana, que me lançava profundos olhares, como se tentasse, através dos meus olhos, ver a verdade que eu lhe ocultava. Não cedi! De maneira nenhuma ela conseguiu que eu lhe dissesse o que ela queria ouvir...Não gosto dessas pessoas que lançam olhares inquisidores, mas tenho pena daquelas que os lançam e falham rotundamente, sem encontrarem aquilo que buscavam...Eu tenho um excelente auto-domínio e guardo as minhas emoções bem fundo na minha alma, escondendo os actos denunciadores dos furores interiores.

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