Medo (I)

Tenho medo de me sentar em sanitas, porém, a minha fobia tem uma raiz diferente da habitual repulsa que as pessoas sentem por sanitas públicas. Eu tenho medo de me sentar em todas as sanitas, sem excepção, sobretudo porque acho que a qualquer momento vai surgir uma cobra da canalização e atacar o meu rabo. Nem sempre tive este pavor.

Nova iorque, 1997
(depois de ter visto uma cobra arrastar-se para os esgotos na Fifth Avenue vinda de algum buraco do Central Park. Numa casa de uma amiga, na Madison Avenue fui à casa de banho)

Serpentes de canalização arrastam-se na viscosidade, resistem às descargas, sibilam ameaças estalando com a língua um som por ninguém ouvido e sentem com um furor pelas escamas a nossa presença enquanto sobem e descem tubos sincronizadas com a nossa morte.


Eu nunca tive problemas maiores com sanitas, mas,  certa altura no decorrer da minha vida, confrontei-me com uma enorme dificuldade em "dar o meu rabo à sanita". Cresci em lugares onde as sanitas da actualidade existiam residualmente e raramente tínhamos direito a elas.


ZENIT HIL DA JAINKOA

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