Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (15 de Agosto de 2015) + Comiseração (22)




Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (15 de Agosto de 2015)

Tenho muita pena de não ter estado a controlar o meu corpo quando ele se cruzou com este senhor em Cáceres, Espanha. Infelizmente, quem estava a capitanear os movimentos do meu corpo às 11:32 (hora a que foi tirada a foto) do dia de hoje era nada mais nada menos que o infame Nadir Veld e isso vê-se na imagem, tímida foto de um pedinte, tão tímida que os ângulos choram a mágoa dos olhos que vêem, mas não fazem por concretizar as suas visões por medos e por acanhamentos incompreensíveis. O que posso dizer? Era muito cedo, tinha acordado há menos de uma hora e numa altura tão inicial do dia não costumo estar apto para fazer certas tarefas...Vindos dos meus sonhos tenebrosos, alguns fantasmas assomam na minha alma e são eles que nela imperam pela manhã...Se eu tivesse nas minhas habituais e sãs faculdades ter-me-ia baixado na horizontal com o homem e tirava a foto, se não mais baixo, à altura dos seus olhos tristes que focam o chão, vazios e tristes, como os olhos de um homem que pede. Foi por falta de atitude que esta foto não ficou melhor. O Nadir não queria que o homem se apercebesse de que estava a ser fotografado, mas podia tê-lo feito de forma mais corajosa e depois, caso o homem se apercebesse, dava-lhe uns cinquenta cêntimos e ficava a falar com ele. As pessoas não se importam de que vão falar com elas e ainda menos se importam de figurar em bonitas fotografias.

Comiseração (22)


Admito que tirei a medo a foto ao senhor. Ninguém me podia ver a roubar aquela imagem, a usar-me do sofrimento alheio para conseguir uma boa imagem para, na melhor das hipóteses, conseguir algum reconhecimento de pessoas pouco aptas para verem e sentirem a qualidade fotográfica. Nunca na minha vida conseguiria tirar uma boa fotografia, uma fotografia relevante fosse do que fosse. Fazer uma boa imagem de um vulgar pedinte de rua é uma tarefa difícil, que está ao alcance apenas dos predestinados, entre os quais, obviamente, não me encontro. Claro que podia ter procurado um ângulo melhor, não esconder ao homem que o estava a observar, esperar por um momento melhor, mas não valeria a pena, a fotografia continuaria a ser banal e eu só me sentiria pior por, até me tendo esforçado, a foto não ter ficado nada de jeito. Essa é uma decepção mais dura do que aquela que se tem quando não nos podemos confortar dizendo a nós próprios "podia ter tentado mais", assim digo e repito isso em todas as decisões da minha vida. "Se eu tivesse tentado daquele jeito...", mas não tentei para não falhar nem ganhar, para ficar naquele limbo inexacto, a pensar num futuro-passado abstracto. 

Nadir Veld

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