Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (23 de Maio de 1976)

A sorte é uma vagabunda deambulando na vida à espera de ser nomeada. É uma incógnita, é o que acontece. A sorte é o devir e o julgamento do merecimento vem no futuro com esse devir. Podemos ter tido sorte ou não no entretanto. Há pessoas cuja sorte praticamente não existe, não tem hipóteses de se efectivar por um elevado número de razões, nomeadamente geográficas. Há sítios em que há pouca sorte a pairar na atmosfera e o azar em todas as ruínas cai sob a forma de pó e estuque. Aprisionados nesse azar os seres humanos tentam sair a não ser que tenham metralhas e estejam aos comandos dos Senhores da Guerra, então, nesse caso, têm muita acção pela frente, há que pilhar essas cidades todas, despojar o bem da terra, servir os Senhores do Inferno, os Senhores do Mundo, propagando azar durante imortais gerações. A História foi demasiadas vezes contada, todos sabemos o que aconteceu com a sorte e com o azar no outro dia. Desde Jesus, e até antes dele, homens armados conspiram na sombra congeminando maus ideais, espalhando sementes ruins nos Caminhos do Homem. Em nome dos Deuses morrereis. E assim morremos em nome de Alá, o Senhor dos Mundos, do Oriente, do Ocidente, de todos os pontos cardeais, Bispo do Azar e da Sorte. Tomam chá com Ele e fazem o bem. Espalham a mensagem e Ele trás toda a sorte e nenhum do azar. Graças a Deus tive um dia estupendo, Graças ao Diabo tive um dia horrendo. Não foi assim tão fácil cruzar os mares com toda esta mensagem, demorou tempo, mas entidades imortais estabeleceram o poder no Mundo. Eles controlam quem vive e quem morre neste espectáculo cruel de nascer ou não nascer no horror de uma fétida prisão chinesa é apenas sorte ou azar. Não se sabe nada da dança das almas. Para onde morre quem vai, onde mora quem passou, quantos homens andrajosos aguardam na planícies?