Não sei que raio é isto

Em noites apertadas através do poeirento nevoeiro
Provoco as vozes caladas, as mentes silenciadas
E percebo os seus tormentos, as suas almas distanciadas
Em dores imensas mergulhadas
E os seus choros são os meus
Enquanto o som do lamento ascende nas trevas
Subindo e descendo estradas até as estrelas
Venderem o seu brilho ao que passa à frente
Dez segundos depois e a alegria do outro era a vossa
Tarde demais e é tua a fossa
Dementes andrajosos apareceram discutindo
Em todas as ruas debateram
E confrontaram-se uns com os outros
Vi-os compararem os seus problemas
E concluírem que o tamanho não era relevante
Mas sim a forma e a quem o mostravam
Alguns com dores maiores eram menos amparados
Que outros, que com dores menores
Clamavam pelo fim das calamidades
Que cravejavam o seu destino de culpas e remorsos
E eram ouvidos e tidos por desgraçados
E acabavam por aceitar que a pena
Até era um sentimento aprazível porque a carícia disponível
Garantia um conforto doutro modo impossível
Vi-os escreverem os seus poemas por trás de recibos
E deixarem-nos nas caixas de multibanco para serem lidos
Pelos próximos utilizadores
Vi-os abandonados treparem loucos altos edifícios
Para de lá de cima lançarem lunáticas granadas
E dispararem sem piedade armas automáticas de alta precisão
Concluindo cegos que aquela era a única razão
Só porque foram desprezados vão libertar a raiva
À toa sobre a população
Vi-os carregarem silenciosamente no botão dos seus elevadores
E mirarem-se com pena no espelho
Planeando o seu suicídio
Solitário

Nadir Veld

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