O Cãozinho Riu

Sentado no seu tractor, Carlos sentia-se o imperador do mundo e não abrandava nunca, nem sequer lhe passava pela cabeça respeitar os sinais de conduta automobilística, muito menos os de moral. Atropelava os peões sem misericórdia e destruía todas as plantações dos sobreviventes, que, atormentados, faziam oferendas ao céu, implorando por alguém suficientemente corajoso para o enfrentar apesar da sua metrelhadora surreal.
Do meio da multidão saiu Riu, um dachshund castanho, de pequeno porte, que num acto de imensa bravura, se lançou silenciosamente ao pneus anteriores da imponente máquina roendo incansavelmente. O Rei do Medo apontou a sua metralhadora ao cão para o ameaçar, mas era arma sem munição, pois Deus dá sorte à Razão. O Senhor do Caos Carlos, o conduto-canalha, fugiu com medo e, enxovalhado, retirou-se para as montanhas da Mongólia receando a ira vingativa do povo martirizado. O nobre cão foi abençoado com as maiores honras jamais oferecidas a qualquer Deus e foi louvada a sua descendência, a sempre venerada Dinastia Riu, que se multiplicou extraordinariamente, com cães tão nobres como o progenitor Eleito e ficaram conhecidos como os Cães Dourados da Pradaria Zume, protegendo agora os vastos terrenos abençoados pela irmandade entre todas as espécies, depois de expulso o Caos para fora do Paraíso.

AVÔZENITE

Dedicado a John Fante, esse longo fantasma.

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