Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (14 de Abril de 2015) P

Estava numa loja de conveniência de indianos a comprar uma garrafa de Vodka quando vi alguns jovens partirem desanimados, depois de o vendedor ter rejeitado vender-lhes uma cerveja, por causa da sua idade. Peguei em mais uma garrafa e paguei sem agradecer, lançando ao lojeiro um fulminante olhar de raiva. Era óbvio que lhes ia dar a garrafa, quis deixar-lhe isso claro, por isso disse-lho. Porque tinha eu direito a duas garrafas e os jovens direito a nada? Era uma injustiça e para além disso percebia-se que eram rapazes com movida, se não conseguiam uma garrafa aqui, iam a outro sítio...Saí e fui ter com eles.
Os três rapazes fitavam tristemente o chão e o seu olhar parecia perdido, como se lhes tivessem tirado de um momento para o outro a estrada que percorriam. Não tinham onde ir, uma vez que o seu futuro lhes fora negado. As suas lágrimas contidas a cada semelhante injustiça silenciavam a verdadeira revolta que lhes ardia nas almas. Aproximei-me deles e sorri. Tirei uma das garrafas e abri-a. Bebi um longo trago e senti-me electrificado. Eles olharam, desconfiados, a princípio, mas depois, espantosamente felizes, pois previram o que eu ia fazer e então estendi-lhes a garrafa e eles beberam sofregamente, como se fosse a mais pura bebida, a água mais desejada. Aguardavam expectantes a libertação da garrafa e a sua vez de beber. Eles os três esvaziaram metade e entregaram-ma, entre agradecimentos, congratulações e incitamento ao consumo. Eu emborquei o suficiente para ficar tão bêbedo quanto eles e perguntei-lhes o que planeavam fazer. Quando me disseram "andar por aí" senti-os ainda mais na minha vibração. Eu "estou a andar por aí e planeio continuar". Apresentei-me e entrámos numa avenida de turistas, atravessa-mo-la e fomos para um sítio que eles conheciam, onde havia muita gente bebendo, livre de mossos chatos. Uma pequena anarquia, um movimento. Sentei-me mesmo no meio daquela gente feliz com eles e senti-me resguardado, escondido, seguro.
Com um sorriso, Joan mostrou-me uma comprida faca de mato cuja serrilha extremamente dentada me provocou arrepios. Disse-me que apenas a usava para se defender. "Assim ninguém se mete comigo" exclamou com um ar provocador enquanto me piscava o olho. Ali fumámos um charro, que o Francèsc tinha enrolado em casa, escondido, pois temia ser apanhado pela polícia enquanto fabricava o paiva. ´Disse que ser apanhado desprevenido era um grande medo que tinha, pois teria de prestar muitas declarações à polícia e só por sorte não era também entrevistado por jornalistas fanáticos.

Quando os vi partir lembrei-me da faca de guerrilha de Joan e de todas as armas que serviam para abafar outras armas e acalmar o medo das ruas perigosas e desejei que Joan a usasse sempre para o bem, mas temi por ele...

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