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A mostrar mensagens de fevereiro, 2016

Gosto (55) P

Gosto de estar sentado nas principais praças e avenidas das grandes cidades, onde há muitos monumentos belos e turistas que querem uma recordação daquele lugar, à espera que atraentes jovens me peçam para lhes tirar fotografias com os mais emblemáticos símbolos da cidade como pano de fundo. Faço um grande esforço para obter o melhor ângulo possível e enquadrar uma foto memorável, que eternizará a passagem por aquele lugar para as belas donzelas que fotografo. Depois do gelo estar quebrado é muito fácil entabular conversação com elas e convencê-las a algo mais que uma mera e olvidável sessão fotográfica. Mostro-lhes a cidade, contando-lhes histórias, não raras vezes inventadas, sobre cada um dos monumentos e edifícios, depois de algum tempo não é muito difícil convencê-las a algo mais.

Poema em eslovaco composto por mim

D'akujem, smrt, dobrý večer.

Gosto (54)

Gosto de estar a dançar num bar/discoteca em que há cacos de vidro de copos ou garrafas partidos espalhados num chão que esteja melado com o álcool derramado e faz com que os pequenos pedaços de vidro se colem ao meu calçado e que o meu calçado se cole ao chão numa dança de cacos quebrados e de vidro que se vai partindo mais e mais. Quando saio para a rua, os meus passos de vidro soam alto e eu sinto-me poderoso naquele desequilíbrio bêbedo. É muito engraçado estar a sacudir os cacos dos sapatos.

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (22 de Fevereiro de 2016)

Estava a descer a Zámocká Ulica em Bratislava quando um estranho e hediondo som captou a minha atenção. Ao princípio pareceu-me que se tratava de uma música de Britney Spears, mas depois reconheci "I'm a Barbie Girl" da banda dinamarquesa Aqua. Estupefacto, fui me aproximando da fonte sonora, que se tratava de um jovem aparentemente normal, sem qualquer tipo de deficiência motora ou mental, pelo menos que se conseguisse perceber num primeiro olhar. Não consegui vislumbrar na perfeição a sua cara, mas o rapaz tinha o cabelo escuro e uma estatura média. Perguntei-me o que poderia ter corrido mal com a educação daquele eslovaco para o levar a cantar uma canção tão feia e tão fora do seu padrão cultural. Quando passei pelo cantor, ouvi-o falar para o seu amigo. Era um idiota de um espanhol. Estava tudo explicado, então.

Duas

o disco toca na disco teca Eu arrisco mando um risco de alta moca e a biblioteca ... abre o meu caminho para Meca! ! o disco toca na disco teca eu arrisco  mando um risco  e caio na biblioteca  Acordo e tenho abertas as portas de Meca

Gosto (53) (passad)

Quando estou em lugares onde há muitos jovens, como festivais de música ou esses hostéis baratos onde os jovens costumam ficar quando andam a viajar porque precisam de poupar dinheiro para o álcool e para as drogas, gosto de buscar os sons de sexo, escutando de porta em porta, ou de tenda em tenda. No último festival de música a que fui andei todo o último dia, sozinho, depois da música ter acabado, ziguezagueando entre as tendas para encontrar casais fazendo amor por trás do fino tecido das tendas e tirei muito gozo dos momentos em que "me meti" com eles, ora abanando a tenda como se estivesse a haver um tremor de terra maior que aquele que eles provocavam com os seus movimentos de entra e sai, ora gritando lá para dentro curtas frases engraçadas como "dá-lhe forte nessa porca, amigo" ou "então, esse gajo vale alguma coisa?". Sempre que fazia isto abandonava os locais tranquilamente, porque sabia que não havia a mínima possibilidade de eles saírem para me

Gosto (52) (passad)

Gosto da forma como os espanhóis e outros povos castelhano-falantes dizem as palavras inglesas , sem qualquer consideração pela pronúncia com que cada uma deve ser dita. Ao contrário dos mariconços dos portugueses, que quando vêem chegar uma palavra em inglês, esfregam as mãos de felicidade e se preparam para a dizer de forma correctíssima, gozando e rebaixando quem quer que falhe levemente a pronúncia. Para mim, isto é uma prova incrível de falta de identidade e de orgulho à língua que se usa. Já antes escrevi aqui sobre a irritação que me provocam as pessoas que usam palavras inglesas no meio das frases em português, que é um dos outros sintomas da "anglo-saxonização" do bendito português, uma língua muito mais bonita e complexa que a língua de Shakespeare. Nós queremos estupidificar, por isso, estupidifiquemos.

Comiseração (56) (P)

Toda esta dor no meu peito vem canalizada sobretudo do meu último erro. O arrependimento enche a minha alma até cometer um novo erro, e então é esse que se torna a nova dor, enquanto a angústia causada pelo erro anterior vai esmorecendo. Eu estou sempre a cometer erros, grandes erros, pequenos erros, timidezes que me destroem. Ontem foi a dança não dançada com uma pequena jovem sul americana de olhos negros exótico-hipnotizantes que me sorriam convidando o amor a entrar nas nossas vidas comuns, mas a grande barreira venceu mais uma vez e eu fui incapaz de transpo-la, de vencer o grande medo e então fiquei para ali, acanhado, dançando solto como um idiota às voltas e perdendo tudo, tudo, fazendo de conta que não queria nada com ela, mas sabendo que queria, mas escondendo por medo...Agora estou com o coração desfeito, a anos luz da felicidade, sentado numa cratera deserta a ver romanticamente as estrelas enquanto fumo um cigarro e penso que é um pensativo cigarro, enquanto esses pensamen

Variações de Yeats (Oil and Blood)

Em sarcófagos resplandecentes sob místicas pirâmides Estão envoltos em pano os corpos sagrados de princesas e faraós Mas sob camadas de areia calcada do deserto Luta, ainda em desespero, um peregrino pela tempestade atacado E sob um manto de mar infinito vagueia sufocado Um marinheiro pela tempestade atormentado

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (31 de Janeiro de 2016)

Saía tranquilamente do metro na estação Baixa-Chiado quando, quase a chegar aos pórticos que devia atravessar atrás de alguém porque não tinha bilhete, avistei dois revisores nos seus vestidos negros com braceletes verdes fluorescentes. Dei meia volta, mas eles já me tinham micado. Larguei a correr para trás em direcção às carruagens do Metro. Senti um deles seguir-me pelo som do chão na minha alma, mas também pelos olhares que as pessoas que passavam, sossegadas, com os seus bilhetes reluzentes, uma passagem segura para o conforto, me iam lançando. Fui para a Linha Azul porque tinha chegado da Linha Verde e assim era mais provável apanhar um comboio naquele segundo e evitar o cabrão do pica, malvado assassino cujo profissão é assaltar pobres! Desci as escadas quatro a quatro em direcção a Santa Apolónia, mas o próximo comboio só vinha dali a três minutos, ainda assim continuei a correr, parando só a meio da estação para olhar para trás. Vi apenas os seus pés no cimo da escada. Queria