Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2015

Acordar sem meios

Acordar sem meios Dar corda a cordeiros A corda que estica A alma que vai E o corpo que fica Nadir Veld

Como não seres vista

Neste lugar não há olhos Não há olhos aqui Não há olhos nenhuns aqui Neste quarto esquecido os meus olhos não me vêem Não há mais olhos aqui Não há olhos nenhuns aqui Nenhuma palavra pode explicar Nenhuma acção pode modificar O rumo escolhido Não há olhos aqui Não há olhos nenhuns aqui E não podes experienciar Habitar a minha alma em sofrimento Aqui não há respostas Não há confronto Não há conforto nem reconforto Há silêncio e vazio Não há olhos nenhuns aqui Não há olhos aqui A não ser os meus Cegos de raiva Aqui só há perguntas Que pairam sem serem vistas Perguntas lançadas em chamas Para a Eternidade Regressado ao Reino Antigo Onde a Dor é Imperatriz De um exército sem rumo De uma força intensa que sente isolada E encerrou nos calabouços profundos A esperança de comunhão Não há olhos aqui Sim, não há olhos nenhuns aqui Não há mais olhos em mim Neste lugar sombrio há remorso vão Atirado ao acaso Há questões pertinentes e demandas proibidas Mas

Quadra (IV)

As minhas feridas não saram Sabem ao fel mais amargo Ardem sob o céu mais largo São eternas na alma que arrasaram Nadir Veld

Comiseração (XVI)

Acordo todos os dias a arder e, se volto a adormecer, tenho os sonhos mais terríveis, recheados de imagens que não ousaria imaginar, histórias cuja decadência nem a minha alma torturada seria capaz de construir de forma consciente para me fazer sofrer. Ensopado na minha demência, grito palavras incoerentes involuntariamente e tento interpretá-las, falhando sempre. Assustam-me essas frases incompreensíveis, esses delírios da minha cabeça destruída.

Quadra (III)

Tenho a mala sempre pronta E a minha alma solta Parte para a viagem tonta Sem ter nenhuma escolta

Miríades de Sonhos (3) P

Sigo no céu uma sombra solitária sedenta de sol suspensa sobre o silêncio sábio dos santos e sei que será sossego só para seres senis e sombrios sem sono nem saudade.

Comiseração (XV)

Sei que o sítio para onde vou deixa de ser o sítio em que quero estar assim que lá chegar, por isso prolongo ao máximo as viagens entre um ponto e o outro para alimentar uma ilusão que acaba por ser a minha única satisfação, mas, se porventura há um sítio onde eu quero estar e, por alguma razão isso me é impossibilitado, então passo todo o tempo da minha vida nesse lugar imaginariamente; eu não estou lá, mas é como se estivesse, porque toda a minha tristeza vive esse lugar com uma intensidade delirante. Passei os 25 anos da minha vida a convencer-me de que o dia seguinte é que iria ser o dia em que tudo ia resultar e fazer sentido e depois, quando esse dia chega é pior que todos os outros. Nesse novo dia as humilhações passadas explodem mais próximas por cima de nós e ensurdecem tudo o demais, tudo, tudo pesa demasiado e torna-se insustentável carregar todos os medos do mundo. Se o mundo não parar de me atacar eu tenho de parar o mundo. Eu tenho de parar o mundo. Nadir Veld

Comiseração (XIV)

Acordo de sonhos terríveis e poéticos para uma realidade alucinante e aterradora. Levantar-me para a enfrentar é insuportável, por isso fico às voltas esgazeado na cama dedicando o meu pensamento ao sofrimento. Sinto-o encher-me todo o peito e oiço o coração galopar desgovernado no vazio. Se caio de novo no sono sei que este trará novos sonhos cada vez mais insuportáveis e terríveis, cada vez mais reais e cada vez mais verdadeiros. Tenho medo de sonhar um sonho tão real e vívido, tão cru e honesto, que me deixe sem qualquer esperança de continuar a viver a minha vida, como se tivesse levado um valentíssimo soco com a mão dura da realidade. Não me levanto nem adormeço, apenas deixo o vazio sugar-me para o seu buraco negro de olhos fixos no tecto que não vejo. No rio imenso da minha tristeza sobem e descem barcos sem destino algum, simplesmente maravilhados por andar à superfície das águas cristalinas. Se não afundam é porque ainda têm a esperança de encontrar alguma coisa nas suas viage

Não Gosto (XXXIII)

Detesto quando alguém diz que não se arrepende de nada do que tenha feito para dar ares de ter uma personalidade forte e decidida, capaz de tomar sempre as decisões mais sagazes nas circunstâncias da sua vida. É uma estupidez completa alguém dizer uma coisa tão afastada da realidade, porque todos os dias fazemos muitas coisas, por mais pequenas que sejam, que podíamos ter feito de maneira ligeiramente diferente e conseguiríamos um melhor resultado. Não estou com isto a dizer que as pessoas devessem ter a minha atitude de constante auto-repreensão pelos mais pequenos erros cometidos (isso pode levar as pessoas à loucura, gritando consigo próprias interiormente, explodindo em pura raiva psicótica incontrolável), mas parece-me impossível que numa vida vivida com intensidade não haja milhares de motivos para arrependimentos. O arrependimento até tem um efeito estruturante no desenvolvimento da interioridade de cada um. Já há muito se diz que aprendemos com os nossos erros, por isso atirar

Gosto (XLIV)

Gosto de descer grandes declives de bicicleta. Enquanto descemos, deixando rolar o aparelho puramente mecânico pela estrada, caímos como que sugados por um íman que nos arrasta velozes até aos caminhos planos que amaldiçoamos. Gera-se uma sensação de liberdade imensa quando sentimos o vento vibrar-nos por todo o corpo e, por mais calor que esteja, não sentimos senão uma agradável sensação de frescura percorrer-nos a espinha. Gostava que houvesse um enorme declive para os abismos do mundo, que pudéssemos descer de bicicleta até à morte certa nas entranhas da Terra.

Almas Mortas (666 palavras)

Vi os espíritos mais perturbados da minha cidade Arrastarem-se conturbados por avenidas cheias de gente disposta a ajudá-los Seguindo silentes os seus caminhos de perdição Preocupados em não incomodarem com lamentos os seus conhecimentos Orgulhosos da dor guardada no seu íntimo e confinada à sua consciência dolorida Vi-os cerrando os olhos num pranto interior, desviando a atenção da rua colorida Focando-se num negro abismo há muito iniciado Demasiado tristes para se desfazerem em lágrimas Aninhando-se sobre si mesmos esforçando-se para não serem vistos Fazendo-se pequenos para passarem despercebidos Destruídos pelas humilhações às portas da loucura Aguardando que a morte esfomeada os devore E sossegue enfim o clamor longo do cérebro dilacerado Vi o medo puro raiando mortiço nos seus olhos tristes Enquanto fitavam vazios os caminhos frios Com as mãos enterradas nos bolsos e a cabeça baixa Vencida por um mundo em que não encaixa Resignados ao seu miserável destino Camba

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (12 de Julho de 2015)

Este escrito contém revelações cruciais dos capítulos finais de Crime e Castigo de Fiódor Dostoyevski. À atenção dos hipotéticos leitores. Estava numa Departamento das Finanças, lendo um dos capítulos finais de  Crime e Castigo  à espera da minha vez de ser atendido, quando me deparei com uma passagem pungente do brilhante romance do escritor russo, em que ele dedica a sua atenção à misteriosa personagem Svidrigailóv. O pretendente da irmã de Raskolnikóv, completamente perdido de amores por ela, anda perdido pelas ruas de S. Petersburgo e vai parar a um hotel onde não consegue dormir porque ouve uma criança a chorar por um qualquer motivo absurdo. Então, sai e suicida-se em frente a um agente da lei. Já há muito que eu tinha percebido que a personagem se ia matar, mas o meu estado emocional e a forma como está escrito levaram a que eu me desfizessem em lágrimas à frente de toda a gente que por ali cirandava e eu não pude fazer nada para as evitar, pelo que as deixei escorrer violenta

Dúvidas do Futuro

No meu espírito tão duro Crescem dúvidas do futuro Dias, demências, delírios Desmancham-se em longos martírios Em ruas de sonhos perdidos Recusam-se todos os pedidos Tiro meças às promessas Viro com cuidado as peças A gente sempre mente Vive num sonho diferente Em que eu não estou presente Nadir Veld

Miríades de sonhos (2)

Passo as mãos pela minha cabeça, por cima do cabelo, apalpo a nuca. Como podem ideias tão doentias formar-se por baixo destes ossos? Fecho os olhos e sinto toda a sensação na parte de cima do meu corpo. Convulsões eléctricas vibram a minha consciência e preciso de agitar a cabeça. Oiço todo o armamento do mundo a ser rebentado na lua. Bombas atómicas arrasam a superfície branca desértica já esburacada. Na lua não há atmosfera, não há som, então só oiço silêncio? Vivemos na era do cérebro, os sentimentos deixaram de palpitar no coração. Oh Deus, se eu conhecesse menos palavras sofreria muito menos.

Quadra (II)

Gostava que me acolhessem Numa casa de gente que não conheço E que me oferecessem O sossego que mereço

Míriades de Sonhos (1) - passado para pc

Espreito o dia pelo meio olho do sol e molho a cabeça ardente na água gelada das fontes matinais. Só mergulhando conseguimos as emoções principais. A submersão é uma submissão. Silencio o mundo e oiço apenas a pureza aquática, a eternidade estática, enquanto imagino os vapores soltando-se do contacto entre o corpo louco e a água renovadora.

Quadra (I)

Quando acordo e lembro-me Recordo e desmembro-me Já depois do sonho, antes da vida Com o olhar tristonho na via perdida

Gosto (XLIII) P

Gosto de agarrar moscas com a mão e atirá-las furiosamente contra o chão duro. Tenho uma técnica excelente a agarrá-las arrastando a minha mão cautelosamente pela superfície em que estão pousadas e fechando-a com elas na palma, depois de levantarem voo assustadas, para fugir àquela mão. É muito engraçado senti-las a zumbirem e a baterem em vão as suas asas no meu punho cerrado. Depois, deleito-me a ouvir o som seco dos seus corpos frágeis a atingirem  violentamente o chão. A maior parte das vezes elas não morrem instantaneamente, ficando antes a estrebuchar, arrastando-se pelo chão, pelo que tenho de lhes aplicar um golpe de misericórdia. Isto não é um golpe de misericórdia propriamente dito, uma vez que só o aplico porque as moscas voltam a voar depois de recuperarem os sentidos, às voltas no chão durante vinte ou trinta segundos. Também gosto de matar traças aplicando-lhes um safanão ao estilo golpe de karaté  em pleno ar, fazendo-as ir contra as paredes onde morrem instantaneamente

Lembra-me um longo martírio

Lembro-me de um longo martírio num prédio só de escadas concebido Um delírio oblongo num lugar sem qualquer sentido Lamentando subindo e descendo um nada que me foi concedido Sonhando rostos maus Naqueles amplos degraus Que escalavam por pisos sem portas Trepando as paredes com almas mortas Sem janelas para as ruas tortas Havia uma luz na escuridão Vinda de foco nenhum na podridão Aparecida do nada era só iluminação Que caía devagarinho no tédio e no delírio das carpetes de sangue embebido Lembro-me de um longo martírio num prédio só de escadas concebido

Coração Couraça

Corazón coraza (Coração Couraça) Porque te tenho e não Porque te penso Porque a noite está de olhos abertos Porque a noite passa e digo amor Porque vieste recolher a tua imagem E és melhor que todas as tuas imagens Porque és linda desde o pé até à alma Porque és boa desde a alma a mim Porque te escondes, doce, no orgulho Pequena e doce Coração Couraça Porque és minha Porque não és minha Porque te vejo e morro E fico pior que morto Se não te vejo amor Se não te vejo Porque tu sempre existes onde quer que seja Mas existes melhor onde te quero Porque a tua boca é sangue E tens frio Tenho que amar-te, amor Tenho que amar-te Ainda que esta ferida doa como duas Ainda que te busque e não te encontre e ainda que a noite passe e eu te tenha e não Mario Benedetti

Comiseração (XIII)

Está sempre a voltar à minha cabeça uma ideia fixa, uma obsessão que me tortura. Agitando a cabeça, como num ataque epiléptico localizado, consigo enxotá-la e ela desaparece, mas pareço demente e as pessoas perguntam-me o que se passa e eu não quero dizer o que se passa, não posso dizer o que se passa, não se passa nada, não se passa nada.  A ideia volta e eu contenho-a. Ela enche-me a consciência e faz o meu cérebro doer. Sinto esta minha nova tristeza na cabeça e não no peito nem na alma. Sorrio simpaticamente aos que me rodeiam. Está tudo bem. Como uma psicose delirante avançando galopante, a obsessão não me deixa tempo nem inteligência para pensar em mais nada, mas consigo sempre fingir, fugindo às preocupadas abordagens dos que me querem bem. P.S.: Se eu me matar posso conseguir o que quero: deixo de ser quem sou e passo a poder ser todas as pessoas do mundo. Nadir Veld

Directas

Há noites que não são feitas para serem dormidas Há noites que se estendem como rios E nos reencontram vazios, Marionetas presas por fios, Exibidas num palco no fim do tempo Há noites que são de um azul tormento mas Há dias que começam azul melhor "Dolce color d'oriental saffira"

Pessoa não sou

Escondi-me atrás de tantos vultos que agora já só sei que Pessoa não sou. Perdido por trás de vultos inventados perdi-me Pessoa não sou Falhei no essencial a minha simbiose, a minha partilha Pessoa não sou Falhei na conexão dos espíritos, perdi ambos Pessoa não Sou Quebrei o contacto com o único lado legitimado Pessoa não sou Fiquei atrás da sombra, lá onde se inicia a escuridão Pessoa não sou Iludido saudei sorridente a solidão Pessoa não sou Enraivecido, enchi de sangue os Universos Pessoa não sou Acalmado ressuscitei os exércitos imaginários Pessoa não sou Acordem-me quando estiverem vivos os nossos sonhos Pessoa serei

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (2 de Julho de 2015)

Eu só consigo escrever na primeira pessoa porque me custa estar a assumir sentimentos de pessoas das quais não tenho a totalidade do conhecimento, que não percebo bem. Só me posso perceber a mim e só consigo falar de mim e não o consigo fazer na terceira pessoa...É demasiado difícil...por isso nunca poderei escrever um bom romance...Escreverei sempre diários e coisas curtas como Homem Disperso que sou...Ah, se eu ao menos conseguisse ser uma frase...Estou aqui perdido, cada vez mais longe da minha viagem de continuação do sonho a África, olhando as teclas, sentindo-me pequeno por ter sido recusado por todas as editoras que procurei, mas continuando obsessivamente à procura de uma frase, que por vezes encontro, mas acabo sempre por colocar no sítio errado...Os dias andam demasiado depressa e as minhas mãos tacteiam a minha face sonhando tactear outras faces. Está um belo dia para ser um cadáver em suspenso.

Verdes Anos

Vivemos os verdes anos Apodrecendo em velhos ramos Por que que não nos vamos Das árvores que nos prendem insanos? Aguardamos com verde sentimento Um ansiado, um ansiado momento Adiado, adiado para lá do movimento E pendemos irados um longo tormento Vivemos os verdes anos Guardando os melhores panos Para delicadas ocasiões que não surgem Para dedicar aos novos quotidianos Mudados pelos impulsos de felicidade que urgem E que na alma se insurgem Contra o fio que prende aos ramos Os melhores dos nossos anos Nadir Veld

Não Gosto (V)

Não gosto nada de falar, por outro lado acho a escrita muito mais interessante; um meio para a expressão perfeita. Quando falamos temos de garantir que o nosso interlocutor compreende o que nós dizemos, caso não o façamos somos tomados por loucos. Na escrita falamos com mais liberdade e com menos ponderação, fazendo com que o nosso espírito fique decalcado nas palavras escritas e seja testemunha das convulsões da nossa alma! FALAR É PECADO, ESCREVER É VIRTUDE!

Não Gosto (X) (P)

Não gosto nada de locais de culto. Ainda que reconheça que muitas Igrejas, capelas, catedrais, mesquitas, sinagogas, basílicas e sés têm uma arquitectura monumental e fascinante, não consigo gostar delas, nem apreciar a beleza da obra porque penso no fim que têm e para que servem realmente. A finalidade de uma Igreja é acolher e reunir crentes. Juntá-los a um padreco para ficarem uma hora a debitarem frases pré-concebidas e idiotas que supostamente lhes darão um lugar no céu se forem repetidas as vezes suficientes. Dizer que uma Igreja não pode ser destruída porque é bonita, é o mesmo que dizer que um demente assassino em série não pode ser condenado porque até se veste bem. As pessoas deixam-se controlar e levar dentro desses antros de engano e ódio fundamentalista. Pensando nas raízes do pensamento cristão, em Jesus e na sua simplicidade, olhar para uma basílica como a de S. Pedro no Vaticano causa-me náuseas! Não era nada daquilo que Jesus queria que se fizesse em seu nome e com os