Como não seres vista

Neste lugar não há olhos
Não há olhos aqui
Não há olhos nenhuns aqui
Neste quarto esquecido os meus olhos não me vêem
Não há mais olhos aqui
Não há olhos nenhuns aqui

Nenhuma palavra pode explicar
Nenhuma acção pode modificar
O rumo escolhido
Não há olhos aqui
Não há olhos nenhuns aqui
E não podes experienciar
Habitar a minha alma em sofrimento

Aqui não há respostas
Não há confronto
Não há conforto nem reconforto
Há silêncio e vazio
Não há olhos nenhuns aqui
Não há olhos aqui
A não ser os meus
Cegos de raiva
Aqui só há perguntas
Que pairam sem serem vistas
Perguntas lançadas em chamas
Para a Eternidade

Regressado ao Reino Antigo
Onde a Dor é Imperatriz
De um exército sem rumo
De uma força intensa que sente isolada
E encerrou nos calabouços profundos
A esperança de comunhão
Não há olhos aqui
Sim, não há olhos nenhuns aqui
Não há mais olhos em mim

Neste lugar sombrio há remorso vão
Atirado ao acaso
Há questões pertinentes e demandas proibidas
Mas não há olhos aqui
Não há nenhuns olhos aqui
Quem é que está certo?
És tu quem define os limites
Entre o certo e o errado
Entre a zanga e a satisfação
És tu quem traça a linha do nosso destino
Mas, se os teus olhos me não virem
Eu não existo

Neste lugar movo a cabeça
Vasculhando à minha volta
Buscando olhos nos cantos obscuros
Mas não há olhos aqui
Não há nenhuns olhos aqui
Aqui não há olhos
Aqui há lamento sem fim
Tristeza fechada num corpo silencioso

Não há olhos aqui
Não há nenhuns olhos aqui
Aqui não há olhos
Aqui não há olhos
Ninguém pode sentir
Ninguém pode escutar
Não há olhos aqui
Não há olhos nenhuns aqui

Nadir Veld

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