Comiseração (XIII)

Está sempre a voltar à minha cabeça uma ideia fixa, uma obsessão que me tortura. Agitando a cabeça, como num ataque epiléptico localizado, consigo enxotá-la e ela desaparece, mas pareço demente e as pessoas perguntam-me o que se passa e eu não quero dizer o que se passa, não posso dizer o que se passa, não se passa nada, não se passa nada.  A ideia volta e eu contenho-a. Ela enche-me a consciência e faz o meu cérebro doer. Sinto esta minha nova tristeza na cabeça e não no peito nem na alma. Sorrio simpaticamente aos que me rodeiam. Está tudo bem. Como uma psicose delirante avançando galopante, a obsessão não me deixa tempo nem inteligência para pensar em mais nada, mas consigo sempre fingir, fugindo às preocupadas abordagens dos que me querem bem.

P.S.: Se eu me matar posso conseguir o que quero: deixo de ser quem sou e passo a poder ser todas as pessoas do mundo.

Nadir Veld

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