Comiseração (XIV)

Acordo de sonhos terríveis e poéticos para uma realidade alucinante e aterradora. Levantar-me para a enfrentar é insuportável, por isso fico às voltas esgazeado na cama dedicando o meu pensamento ao sofrimento. Sinto-o encher-me todo o peito e oiço o coração galopar desgovernado no vazio. Se caio de novo no sono sei que este trará novos sonhos cada vez mais insuportáveis e terríveis, cada vez mais reais e cada vez mais verdadeiros. Tenho medo de sonhar um sonho tão real e vívido, tão cru e honesto, que me deixe sem qualquer esperança de continuar a viver a minha vida, como se tivesse levado um valentíssimo soco com a mão dura da realidade. Não me levanto nem adormeço, apenas deixo o vazio sugar-me para o seu buraco negro de olhos fixos no tecto que não vejo. No rio imenso da minha tristeza sobem e descem barcos sem destino algum, simplesmente maravilhados por andar à superfície das águas cristalinas. Se não afundam é porque ainda têm a esperança de encontrar alguma coisa nas suas viagens.

Nadir Veld

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