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A mostrar mensagens de dezembro, 2016

Não Gosto (55) P

Tenho um horror profundo a ter tecido colado a uma ferida. Há alguns anos, numa disputa de bola durante uma futebolada num relvado sintético com os meus amigos, fiz uma grande ferida na perna, que ia quase do joelho ao pé e, mais tarde, enquanto dormia, ela colou-se aos lençóis da minha cama. Fiquei agoniado quando reparei que além da ferida me estar a doer terrivelmente, arrastava com ela o lençol da cama. Arrancá-lo da minha perna causou-me tanta dor, que o meu estômago ainda se contrai sempre que recordo esse gesto. A princípio estava a fazê-lo lentamente, com uma expressão de puro sofrimento no meu rosto, olhos faiscantes com inevitáveis lágrimas e dentes cerrados, mas a certa altura decidi literalmente arrancar o mal pela raiz e fiz um desesperado gesto rápido que foi acompanhado de um urro descomunal que saiu das profundezas das minhas goelas, subiu ao último andar do prédio em que dormia e desceu até às catacumbas do Diabo juntando-se ao horrível coro infernal, o choro sádico d

Não Gosto (54) P

Não gosto de símbolos indicadores de género para as casas de banho de restaurantes e bares demasiado abstractos. Muitas vezes acontece-me ficar a olhar algum tempo para aquelas formas super estilizadas e sem um significado claro, sem que conseguisse descortinar o seu significado, hesitando entre entrar numa ou noutra porta. Quando me dirijo a uma casa de banho não estou à espera de ter de resolver um enigma complexo antes de poder fazer o que lá fui fazer. Demasiado envergonhado para perguntar, costumo arriscar entrar numa. Tenho cinquenta por cento de hipóteses de acertar. Claro que se vivêssemos numa sociedade aberta e avançada não seriam necessárias casas de banho para homens e para mulheres, usaríamos todos a mesma e ninguém se queixaria, antes pelo contrário, mas já que nos querem em casas de banho distintas, ao menos ponham uns símbolos claros. Num filme de Herzog, ele mostra imagens estilizadas de homens e mulheres até bastante comuns e supostamente fáceis de interpret

Comiseração (61) (P)

Nadir Veld Oh não, o tempo está a tentar matar-me outra vez e mandou em seu nome um rádio portátil com relógio digital cujos minutos vão avançando silenciosamente na noite descontrolada. As horas passam e o desejado sono nunca chega. Entro na cama, saio da cama, pego num livro, absorvo-me no livro e o sono não chega. Procuro outro método de induzir o sono no meu cérebro, mas ele está altamente activo e não se coíbe de me lembrar dos meus mais aterradores medos sempre que pode. A noite tornou-se numa bela manhã enquanto perseguia o sono e, apesar de eu me ter mantido alerta todas as horas de escuridão, sinto muito mais que fui vencido pela noite do que a venci a ela. Perdi-me em sonhos nas suas trevas românticas. Agradam-me as ruas nocturnas porque o imprevisível está mais presente nelas e isso faz com que eu me deixe levar por fantasias e acabe os meus dias a projectar quimeras e a desenvolver longas conversas imaginárias com pessoas da minha vida. Na noite em que os reuni a

Comiseração (60) (P)

Oh não, estas pessoas estão a tentar matar-me puxando temas de conversa para os quais devia estar preparado, mas, de facto, não estou, ou, pelo menos, não estou absolutamente seguro de todas as respostas e eu temo muito dizer a coisa errada, a coisa ao lado. Nunca aconteceu, mas é-me absolutamente insuportável alguém vir ter comigo e dizer “epá, aquilo que tu disseste ontem sobre aquele artigo que estava a bom preço em x lugar, vi-o a metade do preço ontem em y lugar!”. Ser-me-ia insuportável ouvir essas palavras de depreciação. Sentiria o nojo que as pessoas sentem por mim a lamber-me os braços e sujando-me com o seu muco contagioso. Sentir-me-ia tão envergonhado que teria de escavar ali mesmo um grande buraco para me enfiar em lágrimas. Por isso estas pessoas que vêm ter comigo com perguntas complexas deixam-me sempre deprimido e nervoso. Só tenho vontade de me ir embora de onde estou e ir estudar os livros todos, todas as hiperligações, estudar todo o problema para depois falar

Poema de Oscar Wilde com referência a D.Sebastião

36. The Grave of Keats  RID of the world’s injustice, and his pain,     He rests at last beneath God’s veil of blue:     Taken from life when life and love were new   The youngest of the martyrs here is lain,   Fair as Sebastian, and as early slain.     No cypress shades his grave, no funeral yew,     But gentle violets weeping with the dew   Weave on his bones an ever-blossoming chain.   O proudest heart that broke for misery!     O sweetest lips since those of Mitylene!   O poet-painter of our English Land!   Thy name was writ in water——it shall stand:     And tears like mine will keep thy memory green,     As Isabella did her Basil-tree.  ROME. Poema em que Oscar Wilde refere D. Sebastião, belo e morto jovem como convém às grandes lendas.