Comiseração (XV)

Sei que o sítio para onde vou deixa de ser o sítio em que quero estar assim que lá chegar, por isso prolongo ao máximo as viagens entre um ponto e o outro para alimentar uma ilusão que acaba por ser a minha única satisfação, mas, se porventura há um sítio onde eu quero estar e, por alguma razão isso me é impossibilitado, então passo todo o tempo da minha vida nesse lugar imaginariamente; eu não estou lá, mas é como se estivesse, porque toda a minha tristeza vive esse lugar com uma intensidade delirante.
Passei os 25 anos da minha vida a convencer-me de que o dia seguinte é que iria ser o dia em que tudo ia resultar e fazer sentido e depois, quando esse dia chega é pior que todos os outros. Nesse novo dia as humilhações passadas explodem mais próximas por cima de nós e ensurdecem tudo o demais, tudo, tudo pesa demasiado e torna-se insustentável carregar todos os medos do mundo. Se o mundo não parar de me atacar eu tenho de parar o mundo. Eu tenho de parar o mundo.

Nadir Veld

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