Assim Se Cumpre em Mim a Lei de Talião

Al sentia-se a fome...Ela corroia-me por dentro como nunca antes naquele inferno. Arrastava-me pensando comer a areia do chão para saciar a fome, mas não me enchi de pedras e resisti. Ao longe vi alguém aproximar-se. Quatro panteras transportavam um homem aprisionado com uma candeia que alumiava a noite. As feras negras ameaçaram-me quando passaram e o misterioso homem que trazia a centelha comia com a mão direita. UVAS. CEREJAS. E AS MELHORES CARNES ESCOLHIDAS. Os seus olhos humanos cravaram-se nos meus. A última fera que por mim passou mostrou-me os seus dentes furiosos e depois veio a escuridão das estrelas outra vez. E a minha fome insustentável torturou-me noite dentro. Não há maior pesadelo que existir no Inferno. Que existir e nada poder fazer. Tragam-me os mundos todos imaginários, todas as loucuras demoníacas engendradas por Apocalipses temporários numa Galáxia Longíqua. Ali era o mundo e tudo acima dele era um céu imenso, tantas vezes sem esperança. O que daria eu por qualquer coisa de comer, naquele momento agonizante. Um vazio imenso espalhava-se do estômago para o copo todo. Tentei dormir, mas a fome impediu-me e vi despontar lentamente o dia. Encurralado num mundo sem esperança quedei-me imóvel enquanto o sol começava a queimar-me. E eis que, enquanto ia a meio do céu,o seu calor queimava mais, avistei no horizonte algo que se aproximava. A primeira coisa que notei foi uma besta negra, transportada por seres, que depois vi serem homens. Vinham na mesma estrutura que as panteras, mas desta vez um homem seguia à frente. Esse homem era o que vinha na carruagem e eu posso assegurar-vos que enquanto ele percorria a distância até mim, de mais de 15 minutos, me olhava com os seus olhos mortiços, apagados de luz e compaixão.

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