Comiseração (58) (P)

Enquanto viajava de pé num autocarro para o centro de Bratislava o meu olhar focou-se numa jovem extremamente bela que estava sentada pouco à minha frente. Descrevê-la é uma tarefa difícil e irrelevante. Tratava-se de uma rapariga com todas as formas que encantam os homens e eu percebia que não era o único hipnotizado pela sua beleza quase inigualável. Como ímanes, as cabeças dos homens giravam para aquele polo de atracção e os seus olhos faiscavam de forma animal. Tenho a certeza que muitos deles esqueceram a estação em que deviam sair tão mesmerizados estavam pela sua majestosidade. O seu cabelo loiro caía em deleitosos fios sobre os seus seios protuberantes e nos seus olhos brilhava a vida na sua forma mais pura. Ainda que eu tenha ficado extremamente excitado e, naturalmente, erecto, o sentimento mais forte que ela exerceu sobre mim foi de intensa tristeza e desespero, porque se me afigurava como algo de inalcançável. No meu íntimo eu sei que jamais terei coragem de falar com uma mulher tão portentosa, com uma beleza tão singular. Acanhar-me-ia só aproximando-me dela e coraria mal ela pousasse os olhos em mim, voltar-me-ia de costas para ela e começaria a fazer de conta que eu nem sequer era eu e nem sequer estava ali e não sabia de nada. De repente, só por ter visto aquela rapariga, uma solidão imensa invadiu-me, senti-me eternamente impotente e vi-me a morrer completamente desamparado entre sonhos lindos, em lençóis de linho, tremendo sozinho. Muito poucas raparigas causam em mim um impacto tão forte como essa eslovaca causou. Quando ela se levantou, a estação em que eu devia ter saído já há muito havia passado, mas, então, agi depressa. Mais depressa que todos os outros homens sedentos e salivantes acerquei-me do lugar em que ela estivera sentada e sentei-me lá eu. O banco ainda estava quente. Quente com o calor do seu milagroso rabo e fora esse calor que eu fora buscar. Fechei os olhos e lembrei as suas formas. Esse foi um dos momentos mais satisfatórios sexualmente que tive em muito tempo. Vim-me abundantemente dentro das minhas calças apertadas e soltei um abafado e tímido orgasmo quase imperceptível. Recordá-la-ei sempre com todo o carinho que ela merece porque, escusado será dizer, ela encontra-se entre as 246 mulheres pelas quais nutro uma violenta paixão platónica e que lembro todos os dias sem falhas.

Nadir Veld

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