Caso Webó-Coltescu

 10 de Fevereiro de 2021

Está a tardar a decisão da UEFA sobre aquele caso de racismo que afinal não foi bem racismo, na verdade a “vítima” de racismo estava a lançar insultos xenófobos em direcção ao árbitro — é de elementos do banco da equipa turca apoiada financeiramente pelo governo de Erdogan que chegam gritos como “isto não é a Roménia”, “os romenos são ciganos lá na minha terra”, ou “sujo de merda” dirigido mesmo à cara do quarto árbitro por Webó, a vítima de racismo que, recordo, tem o seu salário pago por um regime homofóbico e genocida responsável pela morte de centenas, senão milhares de curdos. O quarto árbitro não lhe lança nunca um insulto propriamente, o que ele fez e gerou tão grande polémica foi, para que fique bem compreendido por toda a gente:

— identificar o elemento do banco turco que mais insultava os árbitros para que fosse expulso deste jeito “expulsa aquele acolá, o negro” — isto não é o mais correcto, podemos discutir isso, sem dúvida, mas também não nos podemos esquecer que era suposto esta frase ser ouvida apenas pelo árbitro principal e apenas chegou aos ouvidos de Pierre Achille Webó porque o estádio estava vazio. Para além disso também devemos conceder ao árbitro alguma desculpa por os indivíduos estarem todos de máscara e de fato treino igual, sem qualquer identificação. No calor do momento e sabendo que a celeridade é apreciada nas decisões de árbitros de futebol ele disse “aquele ali o negro”. Não o devia ter feito e Webó pode sentir-se ofendido, sem dúvida, mas daí a isto num insulto racista que leva a num escândalo mundial por causa de um jogo cancelado vai um passo enorme. Webó expressou, e ainda bem, o seu descontentamento. A isso seguiu-se um movimento inaceitável de condenação mundial do árbitro como se ele fosse o maior racista do mundo e tivesse cometido o mais inadmissível dos erros da história da humanidade. A história foi deturpada e contada com tons falseados que visavam apenas aumentar o escândalo e o ódio. Li comentários absolutamente fanáticos pedindo que se desse porrada no homem, que se queimasse o romeno. Esse alimentar e esse acreditar numa mentira foi o mais assustador deste caso. Tivemos metade do mundo a acreditar verdadeiramente que o árbitro era um racista e que o seu comportamento era de alguém que pretendia insultar e rebaixar um negro, algo que claramente não ocorreu. Em baixo deixo alguns exemplos de erros na comunicação social portuguesa na comunicação deste caso:

Correio da Manhã:

"Negru": O insulto racista que acabou com o jogo entre PSG e Istanbul Basaksehir da Liga dos Campeões

Começando logo pelo título da notícia acima transcrito, o Correio da Manhã mostra a sua capacidade de falsear para chamar a atenção e apelar ao click bait. Não houve nenhum “insulto racista” da parte do árbitro, mas é assim que eles decidem fazer capa. 

"Negru" - preto em romeno - foi a palavra que fez 'explodir' o banco do Istanbul Basaksehir e que interrompeu a partida contra os franceses do PSG…

Falso, “negru” neste caso nunca poderá ser traduzido para português como “preto” que é um termo insultuoso.

Demba Ba, jogador dos turcos, insurgiu-se de imediato contra o sucedido e argumentou contra a equipa de arbitragem sem poupar os envolvidos. "Tu nunca dizes este homem branco, porque é que tens de dizer este preto", atirou o jogador.

Falso, Demba Ba está a falar inglês e também nunca usa a palavra preto de cariz insultuoso, usa a palavra “black” pelo que a tradução para “preto” também está errada.

Antena 1:

A notícia áudio da Antena 1 disponível no site da RTP está tão errada e alheada dos acontecimentos que diz que a pessoa expulsa é Demba Ba!

Em nenhuma das notícias que consultei se referiam os insultos xenófobos dos turcos, nem o “sale de merde” que Webó dirige ao árbitro. 

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