Assim Se Cumpre em Mim a Lei de Talião (35ª Parte)

Quando vi que percebia o que diziam saltei para os braços do que estava mais próximo de mim. Finalmente, milhares de anos depois de penar silenciosamente, podia comunicar directamente com alguém semelhante a mim. Sentia-me protegido, mas ele afastou-me veementemtente.
-Este acabou de chegar- cuspiu para um dos outros, com mais enfado que desprezo.
-Nada é o que parece - acabei por dizer depois de um pequeno silêncio, consciente de que também ali os Arquitectos do Mal actuavam contra o Prazer.-Apenas vos abraço porque agora me podem ouvir e me podem falar. Acabou o meu silêncio!-Gritei para que me ouvisse.
-Já aqui estamos...
-Não quero saber! - Interrompi-o.-Quero ouvir-me só a mim. Cantar e ser entendido. Acabou o silêncio. Acabou o silêncio. - Comecei a dançar em volta deles e percebi que pelo seu ar sério a minha felicidade não ia durar muito. Os problemas não podem ser ocultados eternamente. Pensei em enfiar-me fundo numa das camas e simplesmente esperar até a loucura chegar sem que me dissessem nada, sem saber nada. Parei a dança e olhei-os seriamente, à espera de respostas. Como eles não disseram nada perguntei-lhes.
-Vocês também estiveram com o Homem-Orquestra? Trago milhares de anos de recordações.-Aqui fui eu que fui interrompido pelo único dos três que sempre esteve calado:
-Essas recordações de espíritos livres sofrendo não acabam aqui...Vais sempre voltar a elas nos momentos do desespero deste lugar. Acabaste de chegar. Lida tu com a loucura que aqui nos oferecem e encontra a tua forma de viver. Fica por aqui. Daqui a uma semana venho-te procurar para te mostrar algumas das fornalhas.

Comentários

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Contos Eróticos de Fernando Bacalhau (Alexandra Lencastre)

Dicionário com palavras pessoais

Não Gosto (XXVIII) - Joana de Vasconcelos