Encalhado
Estava encalhado naquele cais há demasiado tempo. Não era um
Cais de Colunas, nem um cais de comboios, nem um cais de onde saíssem ou
partissem barcos. Era só um cais em que ele estava atracado à demasiado tempo.
Nada o desatracava. Não foi por falta de esforço, no entanto. Veio muita gente
tentar demovê-lo da sua deambulação eterna, do seu triste balançar no mar
calmo. Vieram médicos, alguns psicólogos, fechados no pequeno mundo das emoções
que lhes venderam, vieram empreendedores com ideias enternecedoras de futuros e
carros bons com mulheres lá dentro e flores para serem vistas pelos transeuntes
antes que secassem e fossem substituídas pelas novas, que também teriam de ser
vistas, na melhor das hipóteses por outros transeuntes, para que justificassem
a compra, vieram parentes pedir-lhe para que ele regressasse e saboreasse as deliciosas
refeições confeccionadas para uma família reunida, iludida pela comunhão da
presença de todos os presentes, vieram professores, disciplinadores. E nada o
demoveu, de eternamente saborear os Ritmos da Lua no Céu, celebrando os 28 dias
até a celebração gigante da Lua Cheia. Por mirar todo o dia o tranquilo mar, no
mundo real ele não tem vontade de se aventurar.
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