Gosto (XLVII) P
Gosto de construir campas, sepulcros e outros monumentos que sirvam de sepultura para pessoas que não existem, em lugares recônditos nas florestas e nas pradarias. Faço um monte de terra rectangular e construo uma cruz com paus atados com corda própria para o efeito ou com lianas e ervas, caso não se tenha a dita corda mas folhas secam e a cruz cai, deixando uma parte ridícula de si, um pau nu, espetado na terra, apontando estupidamente para o céu solitário há espera de uma trovoada. Quando a cruz cai toda a solenidade sai.
Numa noite de puro delírio, eu e o Astoros roubámos seis lajes de branco mármore num armazém semi abandonado numa estrada de montanha que cruzávamos em busca do outro lado. Encontrámos um lugar digno, uma clareira acolhedora, banhada pelo prateado charme da lua cheia. Revolteamos a terra e empilhámo-la em seis montes. Colocámos as seis lajes nos montes. Lembro-me do som da pedra lisa a assentar naquela terra e de sentir na minha pele o contacto em forma de arrepios pela espinha arrepiada. Afastei-me para contemplar as seis falsas sepulturas. Estavam solenemente dispostos ao luar aqueles mortos invisíveis, aqueles corpos imaginários, despidos, de lá do fundo originários, serão de pedra? Estarão mesmo mortos aqueles olhos vividos atrás da cortina de fogo? Serão feitas de sangue todas estas mortes trágicas?
- Se queres enterrar alguém, mata-o primeiro - disse-lhe ferozmente
Já cheguei a construir cemitérios falsos em terras mexicanas e agora imagino-os como pontos de interesse de peregrinos que cruzam a Sierra del Lacandón até aos Montes Azules, no coração da floresta. Alguns dirão tratar-se de vestígios de uma civilização à parte dos maias e forjarão histórias sobre guerras e traições, outros, mais cépticos, pedem para se escavarem as covas e ver o que lá está dentro, mas não obtêm a autorização do estado, pelo que fazem pelos seus próprios meios...Destroem os meus cemitérios, mas eu não me preocupo porque tenho muitos, até na Vestfália!
Eu nunca sepulto pessoas. Não sepultaria ninguém vivo a não ser a mim mesmo.
Numa noite de puro delírio, eu e o Astoros roubámos seis lajes de branco mármore num armazém semi abandonado numa estrada de montanha que cruzávamos em busca do outro lado. Encontrámos um lugar digno, uma clareira acolhedora, banhada pelo prateado charme da lua cheia. Revolteamos a terra e empilhámo-la em seis montes. Colocámos as seis lajes nos montes. Lembro-me do som da pedra lisa a assentar naquela terra e de sentir na minha pele o contacto em forma de arrepios pela espinha arrepiada. Afastei-me para contemplar as seis falsas sepulturas. Estavam solenemente dispostos ao luar aqueles mortos invisíveis, aqueles corpos imaginários, despidos, de lá do fundo originários, serão de pedra? Estarão mesmo mortos aqueles olhos vividos atrás da cortina de fogo? Serão feitas de sangue todas estas mortes trágicas?
- Se queres enterrar alguém, mata-o primeiro - disse-lhe ferozmente
Já cheguei a construir cemitérios falsos em terras mexicanas e agora imagino-os como pontos de interesse de peregrinos que cruzam a Sierra del Lacandón até aos Montes Azules, no coração da floresta. Alguns dirão tratar-se de vestígios de uma civilização à parte dos maias e forjarão histórias sobre guerras e traições, outros, mais cépticos, pedem para se escavarem as covas e ver o que lá está dentro, mas não obtêm a autorização do estado, pelo que fazem pelos seus próprios meios...Destroem os meus cemitérios, mas eu não me preocupo porque tenho muitos, até na Vestfália!
Eu nunca sepulto pessoas. Não sepultaria ninguém vivo a não ser a mim mesmo.
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