Academia de Letras Uruguaias defende Cavani

 A Academia de Letras Uruguaias veio defender Edison Cavani depois deste ter sido punido com 3 jogos de suspensão e uma multa de 100.000 libras esterlinas por usar o termo “negrito” numa comentário de Instagram em que agradecia a parabenização que um amigo lhe deixara devido à sua exibição diante do Southampton. Os uruguaios dizem que “negrito” é um termo que, na sua cultura, apenas pode ser viso como carinhoso e afectivo. Cavani diz que não tinha intenção nenhuma de insultar e que foi mal interpretado. 

Este caso contrasta flagrantemente como caso do jogo PSG - Bașakșehir. O que se passou foi exactamente o mesmo, uma pessoa que identificou outra pela sua cor da pele usando um termo não ofensivo. Qual terá sido a razão para esta diferença de reacção num caso e noutro? No PSG - Bașakșehir fez-se muito mais barulho, escândalo mundial, tanto que o ministro do desporto romeno veio pedir desculpas nacionais por o árbitro Sebastian Colțescu ter identificado Pierre Achille Webó como “aquele negro acolá”, apesar de Webó estar entre aqueles que gritavam “this is not Romania”, minutos antes de os insultos subirem tanto de tom que o quarto árbitro o decidiu expulsar. Não sabemos ao certo o que terá gritado aí. Os árbitros alegam que os terá chamado de ciganos.

Compreendo que o facto de o jogo ter sido interrompido cause outro impacto, mas não deixa de ser um pouco tonta esta opinião pública que vai, babando-se e sem pensar, atrás de quem berra mais alto. Tenho para mim que uma das diferenças na recepção destes dois casos tem a ver com o facto de Sebastian Colțescu ser árbitro. Está quase predeterminado socialmente que o árbitro é uma figura para humilhar e enxovalhar. Ele é uma figura tão insignificante que nem sequer lhe permitem que se explique, como vemos quando os jogadores berram com ele. Ele bem que tenta falar, mas não tem voz, é um árbitro, que raio, ele tem é de ser o saco de pancada onde todo o ódio pode ser descarregado sem que disso advenham consequências. Havia uma clara e evidente intenção de o insultar por parte do banco do Bașakșehir e de o insultar por causa da sua origem romena. Que ele tivesse intenção de insultar Pierre Achille Webó quando disse “aquele negro acolá”, quando indicava quem devia ser expulso, não é tão evidente assim, mas, como é árbitro, que interessa isso? 

Ao comparar estes dois casos, de Cavani e de Sebastian Colțescu não posso deixar de achar mais censurável a atitude de Cavani, que teve tempo de pensar e ponderar ao responder à parabenização que o amigo lhe enviava e acabou escrevendo “gracias, negrito”, sabendo quão sensível a Federação Inglesa tem sido relativamente a casos de racismo. Não deixa por isso de ser curioso que a Academia de Letras Uruguaias e até a associação afro-uruguaia “Africanía” o tenham vindo defender, dizendo que os ingleses não quiseram compreender um meio cultural distinto, enquanto os representantes do governo romeno se escusaram a defender Colțescu por aquilo que parece ter sido uma palavra mal compreendida. 



Música de Victor Jara em que o termo "negrito" é usado de forma bastante carinhosa


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