Os Homens Quebrados (XXXI) Comiseração 1 (P)

Oh Meu Deus, estes médicos querem matar-me! Eu fui a uma consulta de rotina num hospital suburbano e estive na sala de espera entre pessoas aleatórias sentindo-se indispostas, com principal destaque para uma rapariga que se contorcia e estava agarrada à barriga enquanto murmurava dor. Eu via os médicos passar, mas eles não lhe prestavam auxílio, por isso fui ver se podia ajudá-la eu, mas ela afastou-me violentamente, não podia estar em si, a coitada, voltei para o meu lugar. Espantaram-me aqueles médicos que não ligavam nenhuma a essa rapariga que estava no chão com esgares de pânico. Levantei-me e esperei que um deles passasse. Queria confrontá-lo, mas ao ver a sua cara através do círculo de vidro das portas que batem, ainda antes de ele entrar na sala de espera, pareceu-me ver uma máquina, o que me deixou desmotivado. Os seus olhos frios ignoraram-nos e chamaram um pequeno jovem e a sua mãe, que me pareceram estar bem dispostos. Saudei-os como saudo toda a gente no tempo, mas lancei toda a fúria do meu olhar para o médico desprovido de sentimentos. Vi-o como uma máquina e sentei-me de novo no meu lugar. Não há forma de interferir nesse mecanismo delicado. Não se pode gritar às escuras quando todos os outros têm candeias. Ouvem-nos, mas nem sequer nos identificam, portanto esquecem-nos imediatamente. Somos uma perturbação cautelosa...Homens Quebrados, não é?
Uma nova esperança, a porta abriu novamente, podiam agora ajudá-la, curá-la, Deus sabe, mas o Médico que entrou parecia o senhor inspector, o cabrão! Olhou-nos a todos, estávamos sete ou oito sentados, algumas pessoas constipadas e preocupadas com isso, fartas de estar ali, no lugar dos piores sonhos, mas todos à espera que a rapariga agonizante fosse salva, e não é que o médico se fixa em mim? Ele olhou-me durante cinco segundos nos olhos e saiu. Levantei-me e olhei-me num espelho que tinha visto na entrada. Que se passava de mal com a minha cara? Fiquei muito perturbado com aquele olhar analisador, olhei as minhas mãos, todo o meu corpo, o que se passava? O que captou a atenção daquele  Médico? Quando me voltei reparei que três médicos reunidos cochichavam sobre mim nas minhas costas e apontavam-me dentro das suas batas brancas. Destemido, avancei para cima deles, queria saber a verdade. Quando me aproximei um deles falou através do intercomunicador, o que me demoveu. Voltei-lhe costas e segui para a saída sem me voltar. Um dos seguranças vinha a entrar no momento em que eu ia a sair. Talvez tenha ido só fazer a ronda. Eu avancei tranquilamente na sua direcção. Quando nos cruzámos, larguei a correr para nunca mais ser visto naquele Hospital Suburbano.

Nadir Veld

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