História da vida de Zenit Saphyr (1ªParte)

Nasci em Tapuy-Porã (Rancho Bonito na língua índia tupi-guarani), no estado do Mato Grosso do Sul corria o ano da graça de 1959. A minha mãe, originária de São Paulo, era pobre, mas criava-me dando-me tudo o que eu desejava, pois o meu pai ausente continuava presente, de certa forma. Eu sentia-o na aldeia, mas não sabia quem era. Tive uma infância feliz, ajudando na construção da cidade que se viria a chamar Mundo Novo. Como o lugar ainda era um pouco selvagem tinha uma fauna variada e eu tornei-me especialista em matar cobras aos sete anos. Era um apaixonado por futebol e por livros. As proezas de Pelé com uma bola maravilhavam-me e eu pensava nele como um genial artista. Acho que apenas por duas ou três vezes vi realmente o Pelé jogar...grande parte do encanto que eu tinha era a imaginar as jogadas que me eram relatadas pelos homens mais velhos e entendidos. Eu ouvia-os avidamente. Como ainda não existia escola naquele lugarejo quem me ensinou a ler foi Adjalmo Saldanha, um dos fundadores do lugar com Oscar Zandavalli (assassinado em 17 de junho de 1962 na avenida que agora se chama Adjalmo Saldanha, tinha eu apenas três anos) e Bento José Luís (mais conhecido por Bentinho). Sempre pressionei a minha mãe para que me revelasse quem era o meu pai (suspeitava que fosse Adjalmo Saldanha), mas ela não me quis contar. Ela gostava do misticismo e do espíritismo (amava Allan Kardec) e justificou o seu silêncio dizendo que previra que se revelasse a verdade algo terrível sucederia. Consultei a mulher mais velha da aldeia, que vivia ali antes da colonização, que ajudara no meu parto e que me ensinou a falar a língua índia tupi-guarani. Ela pertecera a tribo índia Caíuá, mas por qualquer razão, fora parar a Tapuy-Porã. Nunca me esquecerei desse domingo de 15 de Outubro de 1972, pois senti a dura mão da realidade a vergar-me pela primeira vez. Ela explicou-me como se faziam crianças e disse-me que eu nascera da relação sexual que a minha mãe tivera simultaneamente com Oscar Zandavalli e Adjalmo Saldanha. Nascido de uma relação a três, nunca soube quem era o meu verdadeiro pai. Abalado com aqueles novos conhecimentos fugi daquela terra para nunca mais voltar. Tinha apenas 13 anos, mas sentia-me a criança de 13 anos mais adulta e preparada do mundo.

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