Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (26 de Maio de 1982)

Não consigo deitar-me com esta angústia que causa espasmos no corpo que já não controlo. Sei que, se me deitar na cama, vou ficar às voltas e às voltas, sem parar quieto nos lençóis em chamas, escutando fantasmas que me chamam com vozes arrastadas e místicas, como se despertassem horrores na nossa cabeça, como se enchessem todo o som do meu cérebro. Sei que eles vão invocar passados turbulentos exibindo no meu sentimento um desfile de imagens agonizantes, que me farão de novo olhar para o vazio, então, a cama vai abrir-se e eu vou cair para um longo abismo como naqueles sonhos em que parece que, saltando de alturas, vamos finalmente voar (o nosso grande sonho!) antes de nos estatelarmos e acordarmos sobressaltados, lá vou eu para as entranhas do mundo, engolido pela atmosfera de medo que criei com as sombras terríveis que me nasceram e eu deixei crescer na minha imaginação até um horizonte de maldições insustentáveis se estender à minha frente. Agora o silêncio da noite é um ruído que não suporto, as ruas desertas, o vazio.
A única fuga para o nosso passado é a MORTE

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