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A mostrar mensagens de junho, 2015

Os Homens Dispersos

Somos os Homens Dispersos. Estendemos a mão no vazio, esperando que alguém lhe pegue e fechamos os olhos, enquanto rezamos novamente. As preces anteriores foram ouvidas por Deuses esquecidos, por isso agora entregamo-nos ao desconhecido e sussurramos serpentes para devorarem os monstros que se agigantam de dia para dia. As suas sombras trepam-nos pelas paredes e ofuscam-nos. Os nossos valores não nos permitem transportar uma luz que vença a sombra abatida sobre nós. Nós não somos os Homens Faróis. Somos os Homens Dispersos e desaparecemos para o Subterrâneo assim que nos esquecem. Acordamos sós, depois de um sonho em que nós, chorámos súplicas a uns olhos vazios e trememos de frio sem o abraço da esperança. Somos os Homens Dispersos, atafulhados com felicidades alheias inalcançáveis e obcecados em alcançar aquilo que apenas pode ser alcançado por outros. Somos os Homens Dispersos, guiados por imagens falsas até ao nosso cadafalso. Somos Homens Vazios, enchidos de vento e deixados às vo

Não vou morrer esta noite não, Solidão

Não vou morrer esta noite não, solidão Vou ver a cor para lá da dor Esquecer o amor na nova flor Não vou morrer esta noite não, solidão Não vou morrer esta noite não, solidão Não ao vermelho que mancha a mão Nem ao navalhão perdido no chão Não vou morrer esta noite não, solidão Não vou morrer esta noite não, solidão Há coisas ali, por trás da porta Que pode estar torta, mas não tem só gente morta Não vou morrer esta noite não, solidão Não vou morrer esta noite não, Solidão Vou expiar os ecos da humilhação Libertar-me da profunda prisão E deleitar-me com os prazeres da criação Não vou morrer esta noite não, Solidão

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (27 de Junho de 2015)

Estava achacado pelas insónias dando voltas e voltas na minha cama incómoda, ardendo com os calores nocturnos de Verão. Os primeiros raios solares crepusculares começavam já a dardejar pelo quarto fora anunciando um novo dia e preocupações absurdas, quando comecei a senti-las. Vindas de um tecto quimérico começaram a cair-me gotas de água nos membros nus. Quando senti  a primeira gota fria cair-me num joelho, salpicando à sua volta um pouco de molhado, levei a minha mão ao local que fora atingido, mas, para meu grande espanto, estava seco. As gotas continuaram a cair, mas eu só sentia os lugares húmidos até passar as mãos por eles, depois tudo me parecia normal. Voltei-me para cima e deixei que as gotas me caíssem sem as secar. Ao fim de dois minutos sentia-me completamente encharcado com aquelas gotas fictícias que me caíam de um céu qualquer. Uma gota gigantesca caiu-me mesmo no meio da testa e espalhou-se por toda a minha cara. Ainda aguentei um pouco esse incómodo, mas passado um p

Homem Espelho com Drone

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Tripando pelas estradas

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Ele achava que conduzia as pessoas, mas só as atropelava

Comiseração (XII)

Eu acho que sou esquizofrénico. Uma vez disseram-me que eu era esquizofrénico, mas não foi nenhum médico. Eu só sei que não estou bem. Existem duas vozes em constante confronto dentro da minha cabeça e nenhuma delas me pertence totalmente, ainda que nenhuma delas me seja totalmente exterior, também. Parece que essas vozes me pertencem a meias com um psicopata que se conseguiu instalar dentro de mim e modificar os meus raciocínios para gáudio dos meus inimigos, que agora me vêem soçobrar pelas ruas, incapaz de tomar uma decisão sem que uma dessas vozes loucas se levante contra a outra e me deixe completamente baralhado sem poder agir, com os olhos vazios arregalados fitando o nada e as minhas mãos arrastando-se perdidas pela minha cabeça, tentando tranquilizar-me através de auto-afagamento, mas não há sossego há vista para este cérebro cada vez mais cheio, cada vez mais atafulhado com dores, humilhações e mágoas e ele já não tem repouso, por isso parece que se agita e treme como um trem

Gosto/Não Gosto (Compilação)

GOSTO 1 - Trovoadas 2 - Professores 3 - Nadar todo nu 4 - Comer e cozinhar 5 - Andar sem parar e, por vezes, sem destino 6 - Secreto e Misterioso 7 - Aprender idiomas estrangeiros e antigos 8 - De ter frio 9 - Liberdade; de poder fazer o que me apetece 10 - Solidão e do isolamento 11 - Óculos de Sol 12 - De fechar os olhos e experienciar a escuridão 13 - De ti 14 - Ouvir o gelo a explodir enquanto derrete numa garrafa de plástico saída do congelador 15 - Comer alho cru e beber o meu próprio sangue ao mesmo tempo 16 - Pessoas que dispersam, divagam e devaneiam 17 - Descodificar através do som dos números ao serem carregados e dizer alto o PIN dos cartões de débito de outras pessoas 18 - Plantas e árvores 19 - Da palavra "ainda" 20 - De não escrever tanto como a minha capacidade inventiva permitiria 21 - Adivinhar as frases que ficam em suspenso entre uma página e outra, enquanto leio 22 - De Coprografomaníacos 23 - Visitar casas de outras pessoas 24 -

Não Gosto (XXXII)

Detesto deitar-me antes da meia-noite, mesmo quando estou de directa ou tenho de me levantar muito cedo no dia seguinte. Parece que existe uma força superior que me impede de o fazer, mesmo que eu esteja destruído e a cair de sono e cansaço. Sinto que ainda há demasiada vida a ser vivida nas ruas, que o mundo está demasiado agitado para que eu me Também não consigo adormecer, como já disse algures, se souber que está a haver uma festa num raio de 50 metros do lugar em que tento dormir.

Gosto (XLII)

Gosto de escrever à mão (é assim que está (e sempre vai estar) mais de noventa por cento da minha produção) e de escrita manual. Aprendo muito sobre as pessoas olhando para a sua letra. Não aprecio necessariamente uma escrita esteticamente agradável mais do que uma escrita medonha, mas inteligível porque há letras bonitas, bem desenhadas, com as curvas todas no lugar, que são mais difíceis de ler do que ortografias mais feias. Eu escrevo com tanta intensidade que rasgo as folhas com o meu ímpeto avassalador. O meu amigo Paco disse-me um dia que parecia que eu escrevia para chatear as folhas. Ri-me bastante e concordei com ele. Era sobretudo por isso que eu escrevia. Uma outra vez disseram-me que a minha letra é tão intensa e sentida que qualquer pessoa do mundo, mesmo que desconhecesse o idioma em que escrevo, entenderia a minha mensagem pelo mero desenho das palavras. Fiquei muito elogiado, mas não acreditei nesse editor, porque ele era um mentiroso de primeira, mas eu fi-lo pagar pel

Comiseração (XI)

Se ao menos pudesse desligar o meu cérebro...parar de pensar e existir apenas em corpo, ser uma sensação física, sem emoção, sem sentimentos...Se ao menos desaparecesse desta terra, da vista de toda esta gente horrível que amo e que só me engana, de humilhação em humilhação até ao golpe final de dor. Se ao menos conseguisse mandar no que penso, mas não me é mais possível esquecer todas as afrontas infligidas, todas as dores provocadas. Só a morte pode silenciar esta torrente de ideias tormentosas que me arrastam para uma zona de trevas onde não vive nem um sonho. Zenit, mestre, por favor, deixa-me... Nadir Veld

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (24 de Junho de 2015)

Quando acordei, por volta das sete da manhã, dei algumas voltas na cama para voltar a adormecer, mas pensamentos tormentosos enchiam-me a cabeça e eu não me conseguia acalmar convenientemente. Estive ali às voltas uns vinte minutos, altura em que se começaram a formar umas frases muito interessantes na minha cabeça, coisas que eu devia escrever, para continuar a elaboração de um projecto antigo. Excitado, levantei-me e fui para a minha mesa de trabalho onde estava o caderno, mas para meu espanto desapontado, não havia caneta. Levantei o caderno, olhei em volta. Ela não estava ali. Então comecei a pensar para mim "onde é que raio deixei a caneta? A última vez que a deixei, estava aqui, de cima do caderno, onde escrevo as minhas coisas, o sítio óbvio dela..." sentia alguma raiva contra mim mesmo, que ia libertando no fluxo de consciência típico de alguém frustrado que procura uma coisa que perdeu e que precisa eminentemente de encontrar e, ainda por cima, sabe que deve estar

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (18 de Junho de 2015)

Hoje cruzei-me quatro vezes com um homem que parecia a morte. Por baixo dos seus olhos negros, as profundas covas escavadas, como um abismo que ataca o tempo, assustariam qualquer pessoa. Não era um homem feio, mas tinha a morte estampada no rosto, viva nas rugas irregulares e inesperadas, num corpo tão jovem. Ele fez-me lembrar todas as pessoas próximas de mim que faleceram, que partiram, deixando-me mais sozinho nesta corrida da vida. As imagens dos meus amigos mortos desfilaram pela minha imaginação numa fracção de segundo e eu não pude abrandar nem evitar o seu ritmo enlouquecedor, como se aquele homem tivesse implantado à minha volta um intenso gerador de lunacia. Quando acabei de me lembrar de todos os meus conhecidos falecidos (e recordei pessoas que julgava nunca mais poder recordar, que já estavam tão esquecidas que não faziam mais parte dos meus pensamentos), comecei a pensar nas pessoas famosas recentemente mortas e não pode deixar de odiar um pouco aquele homem, que me pare

...

Há calor nestes ossos, fogo do sol Fervem praias ardentes sedentas de mar Tremem tristes as sementes que voam no ar Porque temem a viagem que não vai acabar Sem tristeza e solidão Deus mandou-nos para um mundo de solidão colectiva Num minuto ilusão selectiva Ilustração definitiva, rio, dimensão, perde o controlo da palavra e vai. AGORA! Pelas ruas....Lou reeed sueco! A vida só tem um problema Ácido com música do exterior àcido no sol, ácido o limão, cruel o mundo Chico Fininho. quão mais magro, mais magrinho, não pares, não pares, acelera, noite fora pelas dimensões. Águia? não, não...não é nada Então, mas é outra coisa...não, não...? então porque estás aí. Não posso parar. Pára Não posso. Para Não basta usares o novo acordo! A sério? BARCELONA! como assim foi a primeira vez que nos conhecemos! pelo amor de deus homem Barcelona! Foi o exterior que destruiu esta noite Foi a noite que saiu desta sorte A palavra que inflama A mentira na pele...O uivo bêbedo

Alheios ao seu céu

Aqueles que cruzam, inocentes, a fronteira para o novo reino, chegam ao além alheios ao seu futuro ao seu corpo ao seu passado ao seu céu. Os espíritos olham, como olha uma estrela, para um infinito plácido. No mundo dos vivos sobe diariamente um uivo ao medo desse reino, ao medo da Viagem Final. Oh, como os oiço bradar de medo quando me aproximo, nos palcos de guerra, nos lugares de tragédias. Eu existia antes de tudo existir e levei as primeiras árvores que nasceram na terra, começando a construir a entrada dos outros reinos com os espíritos das primeiras árvores. Elas enfeitam o hall do Inferno. Alvos Millar

Textos Antigos Datados (I)

Se há um grito, se há um nome, se há um caminho Usa sempre um outro, inventado por ti As primeiras gerações não o entenderão E o reconhecimento das seguintes não aquecerá as suas noites nostálgicas, mas inventa e fode-te. Poema meu, de Zenit Saphyr em 28/04/1992

Profecias Atmosféricas (XIII)

Não posso com mais palavras em rotação circular Às voltas, estonteado, páro sempre no mesmo lugar na vida não há tempo para sonhar, mas nos sonhos há hipótese de amar.

Comiseração (X)

Eu só queria parar de me levantar freneticamente, gritando de forma imaginária para vultos falsos, mas muito presentes que apoquentaram a minha vida recente e antiga. Preferia o sonho de um dardo tranquilizador a estas correrias aterrorizadas pelas Alamedas e a estas explosões de raiva para o vazio. Se ao menos conseguisse transformar em evidentes palavras este sentimento de medo que trepa por mim, este abismo sem fim que descemos cientes de que descemos, mesmo quando parecemos contentes, este buraco negro que devora toda a esperança e cospe apenas a consciência da morte. Consciência da morte. Por que não há uma palavra só para isso? Viver pode querer dizer isso, não sei. Sei que não quero morrer, mas não me deixam viver. Nadir Veld

Palavra Dimensão

Se a palavra é uma dimensão O tempo é uma inovação Na estrada da emoção Navio proa ilusão Com vento de sedução Horizonte sem razão Estende-se para lá da visão E sente-se na palma da mão um confuso coração Para lá de todo o perdão Para lá de todo o perdão Petrogul O jovem Petrogul cantou esta música no concerto que deu numa pequena aldeia durante uma festa popular. Ele soube animar as gerações com o seu personagem de palco de estrela de rock. Muito raivosos algumas das músicas. Petrogul Al-Saphyria partilha comigo a sua fúria contida (e alguma até é libertada através dele, sonhando-me em palco a abalar as fundações do mundo moderno com as verdades grotescas que jamais libertarei.

Gosto (XLI)

Gosto de destruição e caos, tragédias, holocaustos e dilúvios tais exibidos em obras fictícias. Como a maior parte das pessoas, procuro no mundo da fantasia imagens terríveis que ajudem a relativizar os problemas com que me confronto. Tudo na minha vida parece estar a correr muito bem depois de ver um episódio de Game of Thrones . As tragédias das personagens têm dimensões extraordinárias. Como suportar toda aquela dor, todo aquele sangue, todo aquele enclausuramento? Como pensar em viver na dor de não ter amor, quando nos televisores estrebucham de terror multidões? Sabe-nos bem ver escorrer o sangue falso e os assassínios secos e premeditadas, oh e como é belo ver as pessoas morrer dramaticamente, para as câmaras ou para as audiências, oh, como eu amo a mentira com que nos entretemos. Com as nossas histórias, todas as memórias, a marcarem passo na corrida do tempo, influenciando gerações, guiando-a alucinada, por vezes também para os campos de batalha.

Dinossaúrios de Biblioteca devoram alma de Almindo

De que rios de que mares De que tristes luares Desce sobre mim o tempo (...) estupefacto Almindo Armilindo. Nunca na vida lhe tinha ocorrido não complementar os primeiros três versos com cinquenta outros igualmente seus, seus e seus. Uma sombra abateu-se sobre ele, a espada dos Dinossáurios de Biblioteca desceu pelos céus e cortou-o em postas. Ele confronta-se com a indecisão e sucumbe brevemente. Repete que nunca mais vai escrever, como aqueles bêbedos inveterados que juram nunca mais tocar em álcool com promessas emocionadas. Quando o rigor aumenta ficamos todos mais pequenos

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (14 de Setembro de 1981)

Fazem hoje dois meses desde o dia em que saí definitivamente do Acampamento Índio, desde o dia em que, numas horas, destruí a vida que construíra nos últimos seis anos. Como fugi dias antes de uma pequena migração, ser-me-á difícil reencontrar os meus companheiros, caso eu os quisesse encontrar, mas eu estou decidido a não voltar. Fugi da rotina, das obrigações, mas sobretudo do fim do amor. Ivair, mãe dos meus dois filhos, a minha índia deslumbrante, estava envelhecida, mais gasta e, pior de tudo, cada vez nos suportávamos menos. Senti-o demasiadas vezes, por isso decidi partir, abandoná-los aos três, depois de uma última sessão de ayahuasca  nas redondezas da nossa aldeia. Tenho andando a arrastar o meu corpo derrotado, mas esperançoso na Floresta Amazónica, parando em algumas aldeias para pernoitar. Ontem cheguei à cidade de Porto Velho, onde descansei numa simpática estalagem. Hoje, a solidão dos meus passos conduziu-me a um cemitério, e eu entrei, porque gosto sempre de passear e

Assim se Cumpre em Mim a Lei de Talião (?)

Estava numa das margens da memória, assim como estava aquele outro no outro lado, fazendo gestos. Eles lá vão com tractores contra actores, mas eles são rápidos e desaparecem em corredores, depois de correrias à frente dos tractores. Este aqui teve a insolência de contornar o tractor e voltar atrás para continuar a sua explicação por gestos. Quando o tractor foi abaixo por ter feito uma mudança de direcção demasiado arriscada, eu comecei a perceber a sua mensagem. Ele percebeu que eu o entendia, na outra margem da memória e entusiasmou-se na gesticulação. Estava enérgico, não parava, finalmente estava a dizer a verdade com uma dança tosca, mas permanente e ilegal. O tractor passou mesmo ao pé dele, mas ele esquivou-se como um toureiro, belo golpe de teatro. Então começou a correr e acenou-me novamente. Eu tinha muito a aprender com aquele espírito. Despi as roupas e lancei-me nas frias águas do Rio da Loucura.

Se se fizesse justiça na tua prisão, cabrão...

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Isaltino Morais, conhecido Dinossaúrio de Biblioteca, acaba de publicar um fascinante diário cómico da sua estadia na prisão. A sua obra, que tem uma capa deslumbrante, está disponível em todas as lojas. Vemos o dinheiro investido naquela capa, vemos a trama dos filhos da mãe! Faça-se Silêncio Quem comprar um livro destes vai arder no Inferno  E se acontecesse consigo, ser um salafrário condenado pela justiça, autarca corrupto há trinta anos? Porque é que este filho da mãe tem as suas obras publicadas e Zenit Saphyr continua negligenciado...Há com cada cara....

Profecias Atmosféricas (XII)

Ria-se os evidente A desgraça é iminente Não sou eu que sou demente É o mundo todo que mente

Palavras que valem mil imagens

Dos sons que se escapam da nossa garganta identificamos letras, das letras aglomeradas formamos palavras, com as palavras formamos frases e cada frase é a frase que é e nenhuma outra, cada palavra é a palavra que é e tem um só sentido (enquadrada na situação), todas as letras são os símbolos com que sonhamos essas palavras e todos os sons o barro com que formamos os nossos ideais. Quando um texto começa, exactamente da mesma forma como quando uma criança nasce, começa a andar na sua direcção particular, distinto de todos os outros textos e, à sexta linha já é uma mensagem independente e singular, sem qualquer paralelo com nada escrito até então. ...Isto é isto e nada mais. Isto é isto e nada mais.

Profecias Atmosféricas (XI)

A palavra queima a pele A pele alberga o espírito A dor alerta o sofrimento no espírito A morte trata do resto. Nadir Veld

Não Gosto (IV)

Abomino GENERALIZAÇÕES. É muito feio ouvir alguém falar de um todo generalizando, dizendo coisas do género "O POVO PORTUGUÊS" ou, ainda pior, "O PORTUGUÊS", como se fosse possível empacotar num estereótipo milhões de almas com sentimentos distintos!!!

Não Gosto (III)

Odeio Patriotas! Não consigo encontrar uma maneira melhor de descrever os NACIONALISTAS FANÁTICOS que Samuel Johnson encontrou. "O Patriotismo é o último refúgio de um Canalha"!!! Qualquer tipo de fanatismo me repugna na verdade, mas fundá-lo simplesmente numa bandeira do lugar onde se nasceu parece-me estúpido, e morrer por isso parece-me do pior. Não há nenhuma causa, apenas uma palavra e uma língua comum para todo o mundo, mas os governantes e as pessoas poderosas, os Dinossaúrios de Biblioteca convencer-te-ão do contrário e seguirás guias loucos nas vias do Mal....

Assim se Cumpre em Mim a Lei de Talião (7ª Parte)

Ao ser alvejada, a minha alma, todo o meu sentido se evaporou. O Espírito estava desmaiado. Uma força de sucção começou a exercer-se dentro de mim, como se me puxasse para dentro de algo quente. Tentei evitá-lo, por não saber ao certo o que me esperava, mas era demasiado tarde. Um calor infernal subiu através da minha espinha e consegui ver novamente como um homem vê, com os dois olhos miraculosos a brilharem para o mundo. O que primeiro vi foi uma grande multidão, de castanho vestida, observando-me de uma plataforma inferior. Eu estava acima deles e isso incomodou-me. Olhei em volta e um gigantesco homem com um capuz negro deu à minha inteligência a informação de que precisava para saber o que se estava a passar à minha volta naquele lugar. Fiquei pior quando a lâmina reflectiu a luz do sol nos meus olhos, cegando-me momentaneamente. Olhei o céu e vi a alma justa que subia já bem alto, sem ter de sofrer a execução terrena. Tentei gritar e explicar que aquele não era o meu corpo! Por l

Assim se Cumpre em Mim a Lei de Talião (6ª Parte)

Pela primeira vez a minha alma do corpo estava separada. Não conseguia ver, mas sentia com uma força inimaginável. Estava leve como uma pena e voar era fácil. Aproximei-me das nuvens, já muito tempo depois da subida do demónio ter cessado e só parei muito depois, parei completamente, cessei todo o movimento para escutar. Um estrondo enorme vindo debaixo de mim anunciou que o vulcão ia entrar em actividade. Senti explosões demenciais e, das alturas, vi que debaixo de mim tudo estava iluminado. Parti em busca de uma alma prestes a nascer, para que a pudesse habitar em vida. Numa planície vi uma vaca grávida e entrei nela, mas rapidamente fui expulso, quando vi que nela habitava já uma alma mais forte que a minha. Enquanto cruzava os céus a grande velocidade, comecei a ser capaz de ver melhor e a sentir a essência da vida, a pureza inicial. Em vários corpos tentei entrar e em todos a alma nova que ao corpo ia dar vida triunfou sobre o meu. Uma égua estava a dar à luz um pequeno potro e eu

Quadra para o desenvolvimento interior ou sonho de uma vida

Vou explorar o segredo mais profundo Sondar as extensas leis do absurdo Quero aprender tudo o que há no mundo E morrer abraçado a uma árvore

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (3 de Junho de 2015)

Estava sentado num banco de jardim ao pé de uma velhota que estava a ver passear o seu cão, que corria pelos canteiros livremente, cheirando coisas e procurando vida, quando comecei a riscar fósforos e a atirá-los para o chão à nossa frente com um gesto despreocupado, para ver a sua trajectória e acompanhar a chama enquanto a via desvanecer e apagar-se em pleno ar. Era incrível ouvir o som dos fósforos explodir e ver voar aquele fogo por mim provocado cruzando o espaço. Ao terceiro ou quarto fósforo que lancei (tinha uma caixa cheia deles), a senhora ao pé de mim levantou-se, demonstrando o incómodo que sentia com um olhar repugnado na minha direcção. Eu não fiquei minimamente preocupado. Sabia que não estava a fazer nada de mal. Os fósforos, antes de caírem no chão apagavam-se e aquilo era areia, não ia pegar fogo. Se ela me tivesse pedido eu até a deixava riscar e atirar alguns fósforos, mas ela não teve a decência de pedir e preferiu embirrar. Chamou o cão, que pareceu contrariado q

Gosto (XL)

Gosto de fazer de conta que desmaio, como que caio, atingido por um raio. Pum, no chão o meu corpo falsamente inanimado, como se eu tivesse deixado de o controlar, mas é tudo teatro. Eu estou bem e as pessoas vêm ter comigo preocupadas, inclinam-se sobre mim, algumas puxam do telemóvel e chegam a chamar os bombeiros ou a ambulância ou o raio que os parta. "Acordo", como quem volta a dar acordo, olho em volta com os olhos perdidos, como se os habitasse o puro medo, ao princípio, depois com aquele reflexo parvo de quem não sabe bem onde está e pareço mostrá-lo com os olhos zonzos e, a seguir, recomponho-me, sorrio às pessoas e digo "está tudo bem, não se preocupe, isto está sempre a acontecer" e sigo o meu caminho resoluto.

Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (31 de Maio de 2015)

A festa acabara há mais de uma hora e, na rua deserta, dançavam, rodopiando ao sabor do vento, todo o tipo de detritos de que as pessoas faziam uso para celebrar. Giravam em espirais de vento centenas de copos de plástico, guardanapos manchados de óleo, usados para segurar bifanas e sardinhas, embalagens de plástico de todo o tipo de iguarias e o seu lento rastejar na noite plácida provocava um som agonizante que me enchia de angústia. Panfletos e esferovite vinda sabe-se lá de onde formavam um novo azulejo em movimento por cima do azulejo da calçada estático. Alguns papéis e sacos de plástico foram promovidos e bailavam no céu, em cima da minha cabeça.  Ver todo aquele lixo arrastando-se como se tivesse vida própria e ouvir aquele som de arrastar de papel e plástico, de vidro chocalhando nas bermas da estrada comoveu-me profundamente. Jurei solenemente nunca mais largar o mais irrelevante artigo de lixo para o chão. Nunca mais. Podia ter sido apenas uma vulgar promessa, rapidamente e

Assim se Cumpre em Mim a Lei de Talião (5ª Parte)

Quando na lava mergulhei o meu corpo não se desfez instantaneamente, mas estava sem forças para ao de cima regressar. A minha alma acompanhou-o enquanto se decompunha, caindo para longe da superfície, sentindo uma dor dilacerante em todos os poros da minha existência, daquilo que existia quando eu existia, do que existia, porque eu existia. Com os meus olhos vi monstros de fogo com chifres, os peixes da lava. Um furioso Demónio controlava aquele pequeno mar. Era o rei ao qual todos prestavam vassalagem. Com o resto do corpo que se deteriorava, arrastei a minha alma para ele. Saudei-o com uma vénia e com malícia me recebeu. Qual o criador de tal terror ninguém pode nomear. Numa das suas mãos me esmagou ele e com gula me cheirou. De um ápice colocou-me na sua boca e estralhaçou o resto do meu corpo com os seus dentes pontiagudos. Louvada a alma que é libertada do corpo onde se sofrem tais temores. Aprisionado no interior do estômago do demónio, o meu espírito, impeliu-me a evadir-me. Ao

Assim se Cumpre em Mim a lei de Talião (4ª Parte)

Se a sorte com o seu sopro me bafejou, rapidamente aprendi que neste lugar a sorte depende das horríveis leis do Inferno, arquitectadas pelos maiores torturadores da história. Pois os que desta terra se acercam, quando torturados, devem ser refeitos como obra de cristal. E assim eu fui unido para que pudesse viver num corpo inteiro, porque apenas nele poderia sentir as verdadeiras torturas que me estavam reservadas. Nessa altura percebi que o polícia no camelo era uma das marionetas do Inferno. Depois de me ligarem atiraram-me brutalmente para dentro de uma caixa, que passado pouco tempo se começou a abrir lentamente. Sem tempo para agir ou procurar onde estava, num novo Mundo em poucos segundos me encontrava. Percebi que a caixa caía, quando à minha esquerda vi um penhasco vermelho reluzindo, passando a grande velocidade. Ouvi sons de explosões e quando caixa desapareceu totalmente vi-me caindo sem retorno em lava líquida. Agarrei-me numa pedra e senti o calor das fornalhas do mundo.

Assim se Cumpre em Mim a Lei de Talião (3ª Parte)

Mergulhado no imenso deserto seguido por dois jovens leões, carregando o terceiro ao colo, pois nunca do sono durante o qual os pais foram exterminados o seu corpo acordou. A trágica figura com a sua banda demente. Acercava-se de mim a dúvida quanto ao meu destino. Os leões seguiam-se como gatinhos obedientes. Andava e andava e via sempre o mesmo sol abrasador que nunca se ia embora. Durante muito tempo caminhei, sem parar, sob o sol extenuante. Pareceram-me passar-se semanas e o sol não ia embora, pelo contrário, parecia arrastar-se pelo céu numa marcha lenta, como se estivesse a fazer pouco de mim e do meu sofrimento. Estava cansado e não conseguia dormir sob aquele demónio de luz e calor. A fome levou a melhor e acabei por comer o leão do sono eterno às escondidas dos seus irmãos. Quando a minha pedra afiada do seu jovem peito se aproximou, a pena que do leão sentia era menor que a fome que me devorava por dentro. Quando a pedra fez a incisão no seu peito, a carne crua e o sangue co

Assim se Cumpre em Mim a Lei de Talião (2ª Parte)

Nesse mundo branco caminhei dez dias, sentindo poucas sensações humanas. A fome não me incomodava, aliás parecia nem existir ali. Os únicos sentimentos que sentia eram tédio e esperança. Tédio por causa daquele mundo imutável, de uma branquidão exagerada, um lugar em que não havia nada. Esperança porque avançava sonhando com uma porta, ou uma abertura que me mudasse de plataforma. Sentia que se ficasse parado algo de terrível aconteceria. Os sábios contavam que o Rio da Loucura podia levar ao Paraíso, mas o que era certo é que, quem nele entrava nunca à vida regressava, e podia afundar-se mais e mais em outras espirais de dor. Naquele momento tinha uma certeza: este mundo seria pior que o anterior. Ao décimo dia de busca no Mundo Branco, uma mancha Negra surgiu no topo desse meu Mundo. Como um pássaro, numa gaiola aprisionado, o meu espírito desolado e abandonado, sentiu os limites da caixa a que estava confinado. A Mancha Negra alastrou e encheu todo o Branco que via. Quando o Negro a

Assim se Cumpre em mim a Lei de Talião (1ª Parte)

Caminhando, condenado a dores infernais, de hora a hora, o meu estômago entra em combustão, paga pelos crimes que cometi. Inflama-se todo o meu corpo nesta dor incompreensível. Em chamas, acerco-me do Rio da Loucura, onde me banho com prazer, apagando o fogo que de mim nascia. E nesse momento, Neptuno, irado por não se cumprirem as suas ordens, praguejou sobre as montanhas, que encheram o rio de uma água nova. Não me apercebendo do que ocorrera, enquanto em deleitosos banhos descansava e arrefecia o corpo flamejante, surgiu uma tormenta como que do fundo da Terra e fui arrastado pelas águas do dilúvio divino a caminho de uma catarata. Para a margem certa nadei antes de no precipício cair. Dei por mim numa selva verde, onde todos os pássaros sonhavam os pesadelos do homem e gritavam de uma maneira louca, esvoaçando desgovernados como que endoidecidos por um espírito tenebroso e choviam penas arrancadas nos seus choques descontrolados contra as árvores e uns contra os outros. Os seus bra

Não Gosto (XXXI)

Quando acordo não gosto de sentir o terrível mau hálito com que sempre fico depois do sono. Parece que um insuportável cheiro a mofo sai da minha boca directamente para o meu nariz e ataca o meu olfacto. Parece que ingerimos colheradas de pó enquanto dormíamos. Torna-se quase insuportável para mim, estar à minha beira ao sentir esse cheiro vindo de mim mesmo.