Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (27 de Junho de 2015)

Estava achacado pelas insónias dando voltas e voltas na minha cama incómoda, ardendo com os calores nocturnos de Verão. Os primeiros raios solares crepusculares começavam já a dardejar pelo quarto fora anunciando um novo dia e preocupações absurdas, quando comecei a senti-las. Vindas de um tecto quimérico começaram a cair-me gotas de água nos membros nus. Quando senti a primeira gota fria cair-me num joelho, salpicando à sua volta um pouco de molhado, levei a minha mão ao local que fora atingido, mas, para meu grande espanto, estava seco. As gotas continuaram a cair, mas eu só sentia os lugares húmidos até passar as mãos por eles, depois tudo me parecia normal. Voltei-me para cima e deixei que as gotas me caíssem sem as secar. Ao fim de dois minutos sentia-me completamente encharcado com aquelas gotas fictícias que me caíam de um céu qualquer. Uma gota gigantesca caiu-me mesmo no meio da testa e espalhou-se por toda a minha cara. Ainda aguentei um pouco esse incómodo, mas passado um pouco levantei-me nervosamente e sacudi-me, ficando seco num instante, como por magia. Olhei o tecto que se definia claramente com os raios da manhã que me entravam pelo quarto. Como eu amaldiçoo esses raios terríveis que me estragam o descanso! Como viver com os raios de uma nova manhã no fim do nosso dia, no fim da nossa vigília? Não havia nada no tecto a não ser a luz dourada desses raios que se estendia ameaçadoramente sobre mim., mas eu continuava a sentir as gotas a caírem-me em cima da cabeça. Voltei a deitar-me, zangando comigo mesmo por não ter adormecido mais cedo, zangado comigo mesmo por não estar a fazer nada da minha vida a não ser dormir fora de horas e perder todos os dias, zangado comigo mesmo por outro motivo qualquer (estou sempre zangado comigo. Sou um desastre). Cubri-me com um cobertor, apesar do calor e, finalmente, deixei de senti-las, mas parecia-me que estava ali a cozer e que nunca ia conseguir adormecer. Lembro-me de ter ficado muito tempo completamente coberto até desistir de dormir.

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