Os Diários Lunáticos de Zenit Saphyr (4 de Abril de 2015) (P)
Travei bruscamente cedendo passagem a sua excelência o peão aluado, que apesar de estar fora da passadeira, continuou o seu caminho como se nada fosse, olhando para a merda do telemóvel, mesmerizado pelo brilho das suas informações irrelevantes. Só pouco antes de parar totalmente o meu camião e depois de ter buzinado é que ele se dignou a levantar a cabeça e a olhar para a estrada e para mim. Não protestei de forma veemente. Mostrei o meu desagrado e ele ouviu-me. Repito, não fui veemente nem mal educado. Estava apenas a zelar pela sua sobrevivência, para que tivesse cuidado. Senti um soco no estômago quando vi o seu braço direito erguendo-se, executando com a mão um gesto universalmente infame. O seu dedo do meio apontado para o céu indicava um ataque contra os próprios Elementos. Como podia um sacana fazer aquilo quando o podíamos legalmente tê-lo assassinado há 10 segundos? Ah, se vivêssemos num mundo com despeito-antecipado...Ainda assim reagi depressa. Na noite anterior tinha estado a dormir na praia e, por vezes costumo apanhar as pedras mais bonitas que encontro e há sempre belas amostras nas marés que o Mediterrâneo nos traz. Estendi a mão e escolhi tacteando o formato mais apropriado no molhe de pedras espalhado no assento vago ao pé do meu. Era uma pedra redonda, do tamanho da palma da minha mão. Tinha um padrão laranja com misteriosos veios avermelhados e delicados rios alvos, que sorriam debaixo das pequenas esferas diamante que brilham e reflectem a luz dos nossos dias. Tive pena de ter de me separar dela, mas fora-lhe incumbida uma missão da mais extrema importância. O meu movimento cuidadoso foi-lhe imperceptível. Quando ele se voltou, lançando antes um sorriso triunfal, eu só pude pensar na Estupidez do Homem, essa mãe de todas as Guerras. Vi-o voltar de novo a sua atenção para o telemóvel, andando com o jeito insinuante de quem ganhou um jogo. Aprontei-me. Lancei. Foi um lançamento triunfal? Foi. O seu telemóvel partido em cacos no chão como uma vulgar lâmpada, vidros lágrimas para a solidão das pedras. comprovava-o. A sua fúria explodiu no momento em que arranquei ele largou a correr resmoneando qualquer em catalão coisa sobre um telemóvel estragado eu, dei-lhe gás e fechei a janela, ele vai apanhar-me, eu acelerei, ele vai apanhar-me, eu acelerei, mas ele está agarrado à porta, eu estou pronto para o momento em que ele a abre, sem prestar qualquer atenção ao veículo desgovernado pela estrada, preparei um murro um murro glorioso. Ele foi surpreendido pela minha preparação e não se pode defender. Enquanto o via rebolar pela rua no retrovisor,e retomava o controlo do o meu veículo pensei:
"É bem feito, para aprenderes a não insultar aqueles que apenas querem o teu bem!"
"É bem feito, para aprenderes a não insultar aqueles que apenas querem o teu bem!"
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