Comiseração (25)

O meu peito está a tentar matar-me, tenho a certeza! Ele hoje rugiu como não rugem cem mil sarcófagos e um império de mortos erguidos dos seus túmulos mil anos depois! Ele hoje rugiu e sentiu mais trevas que um desfile de amputados em busca de membros biónicos. O meu peito é o impulsionador principal dos meus saltos convulsivos, não são as minhas pernas; as minhas pernas nem sequer têm a opção de não saltar. É o meu coração que dirige os meus saltos! Salto a partir do meu peito, é ele que me quer matar!
O meu cérebro está a tentar matar-me, também! É ele que dirige e controla as minhas convulsões! É dele que partem e descem numa onda eléctrica as minhas recordações humilhantes feitas energia cinética que criam movimentos surpreendentes, que me apanham desprevenido e deixam toda a gente a olhar para mim. "Está tudo bem, não se passa nada, lembrei-me que me esqueci de uma coisa". Falo sempre com segurança, mas a negra cortina está cada vez mais cerrada em frente dos meus olhos. O culpado de tudo isto é o cabrão do meu cérebro que me faz andar os pensamentos sempre às voltas do mesmo, num movimento circular que nunca acaba, mas acelera e torna-se mais frenético com os meus tremores repentinos.
O que posso fazer? Meu Deus, como posso livrar-me do mal que está dentro de mim? Renovo a minha fé em ti Senhor dos Céus e da Terra! Ajuda-me a libertar-me de toda a dor e afasta as maldições e os terrores que me estão reservados! Por favor, não deixes que o meu peito e o meu cérebro me matem já hoje, ainda tenho a esperança de ser feliz no futuro.

Nadir Veld

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