Comiseração (28)
Espero, porque esperar me leva a um lugar mágico de esperança onde ainda ecoam risadas de cristal. Entre o chilreio nos pátios iluminados de um jardim com bancos de mármore. Bancos para nos sentarmos a esperar. Sempre que encontro um branco, presto-lhe a minha homenagem, dando-lhe a graça de me sentar, esperando neles alguns minutos. Como quando nada se espera, nada poderá aparecer, acabo por desistir e sigo para o banco seguinte, ou para um degrau alto de um bairro lusitano e solto fumo pela boca e fogo pelos olhos. Muitas vezes estou à espera com uma fome dilacerante. Não penso no meu estômago, foco as pessoas, foco-as com mais força, mas não gosto que estejam a comer, isso acaba por ser tortuoso. E os cheiros? O odor a comida pode enlouquecer os estômagos vazios, garanto-vos! Em mim, alerta roncos e eu vejo a carne assando à minha frente...Ah...A fome...a vida...os dias...a espera...a longa espera pela morte solitária. É isso a vida? São só horas passando, ocasionalmente coloridas por vãs alegrias que cada vez parecem mais estúpidas à medida que as lembramos, a própria recordação parece mesmo patética e ficamos verdadeiramente perdidos quando não há nada que nos mova, nada que nos faça viver...
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