Assim se Cumpre em Mim a Lei de Talião (33ª Parte)
Violentamente atirado contra um breve vazio, perdi a
consciência do que me rodeava. Senti forças misteriosas apoderarem-se da minha
percepção e realizarem danças antigas numa galeria. Nas paredes vi enormes
sombras projectadas, erguendo-se assustadoras. Vi o céu azul belo e
esperançoso. Vi depois um vulcão em erupção tornar-se no corpo de uma mulher
que partiu para longe, como se voasse e tudo ficou negro. Ouvi pessoas gritarem
na escuridão e bombas explodindo. Ouvi guerra e dor…só distúrbios, nada de bom…todas
estas coisas que recordo, tenho de as descrever... Eu sou a minha memória.
Estas recordações soltas, meras imagens sem sentido, são tudo o que me lembro
depois de ter caído para o abismo com o Homem Orquestra e antes de ter
acordado. Não tenho justificação nem significado para as explicar, são o
resultado de qualquer loucura bem interior provocada por milhares de anos de
existência num mundo degradante…Uma existência que não acaba, continua para
sempre a um ritmo vertiginoso através dos acontecimentos demenciais
conjecturados por Deuses lunáticos. Depois de penar várias eternidades no
Inferno onde me encontrava não restou nenhuma emoção semelhante às do mundo dos
homens, para que eu a possa descrever para vocês me perceberem…Um dos meus
grandes medos era acordar.
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