Não Gosto (XXV)

Não gosto nada de sinais de trânsito luminosos, principalmente os referentes aos peões. Os sinais vermelhos são uma grande tanga. Não lhes ligo nenhuma, acho que são apenas um aviso para aqueles que vão atravessar uma estrada, nunca uma imposição. Eu odeio que me digam o que eu devo fazer e detesto acima de tudo as pessoas que acham que me podem dizer o que eu devo fazer, nunca na puta da minha vida vou obedecer a uma luzinha colorida a 15 metros de mim, com um bonequinho mal desenhado pretendendo significar um homem. Uma vez vi umas pessoas paradas num sinal vermelho quando claramente não havia nenhum carro a passar nos próximos 40 segundos e a estrada podia ser facilmente cruzada em 10 segundos. Essa gente estava parada, na noite silenciosa, sob uma lua esplendorosa, completamente focada, vidrada e comandada pela luzinha vermelha, olhando-a atentamente, esperando ansiosamente que mudasse, sem virarem a cabeça para a estrada imensa que estava vazia de carros que os pudessem atropelar. Só quando o sinal se tornou verde e o silvo correspondente à possibilidade de passagem assomou dos sinais é que eles atravessaram cautelosamente, como que acordados com um choque por um Comando poderoso.. Eu fiquei a achar que eles mereciam que passasse um camião TIR à velocidade da luz que os deixasse coladinhos à estrada, por serem tão obedientes às forças externas. Eu passo sempre com sinais vermelhos até porque gosto de me arriscar e de me aventurar nas estradas expondo-me ao perigo, atirando-me, por vezes, para cima dos carros como um lunático, parando, olhando e ouvindo inteligentemente, dando um passo atrás ao som das buzinadelas frenéticas, ao sabor do vento e de gritos de ódio, valsando um baile tenebroso. Atravessei auto-estradas super-movimentadas, com carros galgando o asfalto a grande velocidade, movimentado-me como aquele sapinho do jogo universalmente conhecido. Até hoje nunca fui atropelado, embora já tenha estado perto disso várias vezes, e também nunca morri.
Por vezes é impossível passar a estrada e tenhode esperar com os outros enquanto novos se juntamanós e os carros,temerosos monstros de metal, vão passando sem compaixão pelos peões que aguardam. Nessas ocasiões, o meu olhar fixa-se sempre nalgum ponto, nalguma pessoa interessante, por exemplo, e quando dou pela vida, o sinal já está verde e há pessoas aceleradas no meio da estrada e eu arranco apressado, numa partida em falso.

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