Não Gosto (XXVI)

NÃO GOSTO DE OPINIÕES. SÃO ABJECTAS, PASSO A EXPLICAR PORQUÊ.

PREÂMBULO

O Mundo escapou do alcance e falhou as metas prometidas, um rio interminável de erros corre as capitais, onde a loucura impera e todos os arranha-céus são bordeis governados por patifários carregando armas automáticas, impondo leys e agora formamos opiniões enquanto adiamos o inevitável naufrágio.

ACTUALIDADE:
José Sócrates Carvalho Pinto de Sousa, preso nº44
26 do Novembro da 2014

Hoje estou satisfeito por não ter opinião. Feliz. Ouvem-se milhares de de detractores e admiradores diariamente, jogando uns com os outros umas jogadas humanas, demasiado humanas para mim. Quando me perguntam qual é a minha opinião sobre o que quer que seja, eu costumo responder que não tenho opinião. "Não Gosto de ter, muito menos de formar opiniões. Eu gosto de ver as coisas". Neste momento introduzo um gesto muito peculiar com as mãos de libertação-sacudidela em relação ao mundo. "Não preciso disso para nada. Ter uma opinião é como ter uma bomba que pode explodir a qualquer momento, porque assim que acontecer qualquer coisa definitivamente avassaladora cairá o muro em que a vossa opinião estava sustentada. E depois, onde ficais? Restam-vos sombra de incerteza e deambulação em caminhos que odiáveis. Formar-se-ão colunas de hipóteses de vivências e tereis de escolher um dos vossos destinos com multi-destinos no interior (e destinos até ao infinito dentro desse pó de possibilidade) e dentro dessas dimensões temporais, precisareis de fazer escolhas (escolhas, essas irmãs da opinião), por isso formai as opiniões possíveis e lidai com elas o melhor que puderdes. A felicidade pode estar em qualquer porta." Acabo sorrindo e deixando as outras pessoas sorrindo de volta.  O que lhes quero dizer é que, mesmo tendo opiniões elas podem alcançar a felicidade absoluta, e elas gostam que isso lhes seja prometido e que paire no ar como uma vaga esperança para um futuro breve.

Não gosto de política, muito menos da portuguesa, com os seus joguetes do costume e feiticeiros velhos lançando bujardas no Alentejo gritando impropérios a legítimos pobres guardas e jornalistas idiotas com perguntas fanáticas, prontos a morrer pela luz de qualquer filmado-desejado da actualidade. Obviamente nunca formei opinião sobre José Sócrates. Às vezes, para escrever, finjo ter uma opinião vincada até, neste e naquele homem, mas nunca na minha vida formarei uma ideia fanática de ninguém e é nisso que se tornam as opiniões, num vaso de guerra. Os silenciosos não têm opinião nem cavalgam com guerreiros, mas são guerreiros do seu silêncio, soldados da Cobardia, o único exército cujos reis não moveram um dedo para governar e se sentaram tranquilos enquanto o nada dos mundos lhes zumbia nos ouvidos. Formar uma opinião é ter de debatê-la e nem eu, nem ninguém sabe falar. Entabular uma conversação implica que ouçamos, compreendamos, e demos réplica precisa ao que nos foi dito. Se a réplica não for perfeita nada mais somos que falhados desmesuráveis e merecemos partir para fora do mundo em naves espaciais, porque só perdemos tempo às voltas de imprecisões e marotices de tempo e saias e no fim é tudo merda, dentro de merda. Assim, o melhor que podemos fazer com a opinião é não a ter, pois todas ajudam a que caminhemos para o conflito.

Eu acho que a poesia é frase/dica-imagem. Não é uma opinião. É só um achar...Pode ser assim, pode ser doutro jeito...

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