Comiseração (V)

Fiquei a dormir e deixei tudo escapar. Quando acordei não pude levantar-me, tinha de descansar um pouco mais, voltei a dormir e fiquei num torpor em que ainda estou. Decidi abandonar definitivamente todos aqueles projectos com que em tempos vivi, que fui desenvolvendo na minha cabeça, com que sonhei longamente, dos quais falei com muitas pessoas, que apresentei a familiares que me brindaram com sorrisos, palavras de encorajamento e olhares de carregada esperança para mim. Ficava-me bem ter projectos, mostrava que eu era um pedaço de homem lutador e desejoso de conquistar o mundo. E houve mesmo uma época em que eu pensei que ia ter o mundo a meus pés. Tinha confiança e sentia-me capaz de pairar acima de todos os outros, de me diferenciar esplendidamente pela positiva, de ser único e desejado, de toda a gente estar a pensar em mim mesmo quando eu estava longe, mas tudo isso acabou. Agora fui derrotado pelo mundo. Tenho medo do ar livre e prefiro estar o máximo de tempo fechado sozinho no quarto, comendo apenas para me manter vivo, sem prazer. Não sorrio há 3 anos desde que ela se despediu, despedindo-me da sua vida. Num marasmo que atordoa, refugiei-me nos sonhos, num marasmo que atordoa em que ela ocasionalmente aparece.

Nadir Veld

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