Comiseração (34)

Está a apetecer-me partir uma unha, ou morder o dedo todo até o sangue surgir e os dentes pontiagudos se terem saciado da minha própria carne fresca. Haverá melhor alimento que o nosso corpo? Pergunto-o enquanto olho as minhas mãos e o meu olhar cai no dedo indicador já sem unha, em carne pura. Em certas partes já se viam os ossos. Parte de uma longa tradição familiar ficarmos a roer ossos enquanto bebemos cerveja depois de uma refeição. Eu não senti qualquer dor ao roer o osso do meu dedo. Digo mais, a carne estava saborosa, e o sangue uma delícia. Era uma coisa tão fácil de fazer como roer uma unha. Então, comecei a comê-los a todos. Primeiro o gordo, o polegarzinho, muito engraçado e fora da ordem, por último, o outro polegarzinho, recompensado pela sua beldade cósmica. Em duas horas comi todos os meus dedos. Com um serviço destes quem precisa de KFC?

Nadir Veld

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