Comiseração (35)

Sempre que tenho alguma coisa importante e inadiável para fazer, a minha consciência é invadida por um agressivo fluxo de palavras insanas que nada têm a ver com aquilo em que eu devia estar a pensar. De um momento para o outro, fico completamente incapaz; tenho de deixar o que estava a fazer e fico parado como um idiota, a ver afastarem-se lentamente todas as esperanças de sucesso e conquista pessoal (todas as  minhas obrigações perante o mundo real), ainda ali, alcançáveis a um estender de mão, a um pequeno esforço, mas fico completamente incapaz, como se tivesse sido petrificado por um Deus cruel e dedico-me a lutar contra esta força maligna que está dentro de mim e me prende totalmente a atenção, então, começo a escrever o fluxo, a despejar todas aquelas palavras, mas elas não têm nenhum sentido, não querem dizer nada, parecem existir apenas para me desviar do que realmente preciso...é como se o meu cérebro fosse o meu principal inimigo e tivesse declarado guerra à minha alma, à minha vida, à minha esperança, às pessoas que precisam de mim...

Nadir Veld

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