Comiseração (44)

O meu peito resoluto já não sabe aonde há-de ir, mas nem por isso perde o fôlego e por isso resfolega sempre mais e mais neste lugar onde devia habitar uma alma, mas não habita coisa nenhuma! É só uma moradia insatisfeita que gostava de ser habitada...um vazio que faz bater todas as portas de uma vida fantasma. Por mais que se corra e se saia não se sabe nunca ao certo aonde se vai quando se tem o cérebro em chamas. É como se fossemos um navio que não controlamos e as coisas vão acontecendo...sim...as coisas vão sucedendo, mas o controlo não o temos. Somos vida indiferente do corpo a definhar. A vida...a vida é que definha, não sei se entenderam...É preciso ver todas as coisas a acontecerem a todas as outras coisas e vice-versa. Só então vimos tudo e abarcamos tudo e podemos tomar uma decisão e a decisão é...a decisão é a indecisão de ficar à espera, no limbo da tristeza entre a sombra e os dias e um disparo lunático rumo ao infinito. A decisão é ficar gritar as palavras mais angustiantes contra os teclados do mundo. Gritá-las em silêncio, como mandam as regras da sanidade mental. Simplesmente martelando-as delicadamente noite fora...para lá de todas as memórias.

Nadir Veld


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