Comiseração (46)
Eu não colecciono selos, muito menos noites sem medos. Sim, noites sem medos obscuros são coisa que não surge depois dos meus bonitos pores do sol há mais de...há mais de...não há memória. Agora não me serve a memória para me lembrar, mas eu sou uma pessoa que só guarda as más recordações para a comiseração posterior...as melhores é melhor deixá-las de parte, esquecê-las para que não sejam perturbadores obstáculos para os nossos obscuros cada vez mais escuros devaneios.
As minhas pernas estão a tentar matar-me! Vejam como elas não param de tremer e eu só quero adormecer! Mas elas não param e eu fico a olhar para elas...estupidamente a olhar para a elas a vê-las tremer...estremecer toda aquela inquietação...e depois...as horas...o tempo não pára de passar e eu não consigo descansar! Ver as horas duas vezes por minuto é um prenúncio de...um prenúncio de que o tempo está parado ou de que nós estamos parados no tempo. Sim...as horas...04:22...meia hora depois 04:22 e vemos o relógio passar para 23...e aguardamos que a próxima meia hora passe de forma menos sofredora...que os bombeiros neuróticos apaguem o incêndio do cérebro...e que finalmente os segundos sejam segundos e que o peito se acalme...tranquilidade...maresia...ah oásis há muito sonhado, soldado da esperança, saudades da dança ao luar prateado no lago espelhado...Ah, distantes horas em que havia disso. Eu estou em ruínas no meu quarto desarrumado. tremendo angústias pelas pernas, inquieto, como se do meu peito rugissem décadas de fantasmas. Não me comoveriam se hoje não tivessem decidido brincar com as minhas pernas. Que não me deixam dormir. Vou agárra-las com estas minhas mãos e apertá-las. Estrangularei as minhas pernas com os meus dedos fortes. Abafarei toda aquela fúria antes que o meu corpo expluda num apocalipse de carne sangrenta.
(As pernas não cederam e começaram a fazer tremer o meu corpo. Eu tinha de estar deitado para adormecer de qualquer das formas. Peguei no martelo que guardo na mesa de cabeceira e bati violentamente com ele na minha própria cabeça. Adormeci e quando acordei a almofada tinha menos sangue do que esperava)
Nadir Veld
As minhas pernas estão a tentar matar-me! Vejam como elas não param de tremer e eu só quero adormecer! Mas elas não param e eu fico a olhar para elas...estupidamente a olhar para a elas a vê-las tremer...estremecer toda aquela inquietação...e depois...as horas...o tempo não pára de passar e eu não consigo descansar! Ver as horas duas vezes por minuto é um prenúncio de...um prenúncio de que o tempo está parado ou de que nós estamos parados no tempo. Sim...as horas...04:22...meia hora depois 04:22 e vemos o relógio passar para 23...e aguardamos que a próxima meia hora passe de forma menos sofredora...que os bombeiros neuróticos apaguem o incêndio do cérebro...e que finalmente os segundos sejam segundos e que o peito se acalme...tranquilidade...maresia...ah oásis há muito sonhado, soldado da esperança, saudades da dança ao luar prateado no lago espelhado...Ah, distantes horas em que havia disso. Eu estou em ruínas no meu quarto desarrumado. tremendo angústias pelas pernas, inquieto, como se do meu peito rugissem décadas de fantasmas. Não me comoveriam se hoje não tivessem decidido brincar com as minhas pernas. Que não me deixam dormir. Vou agárra-las com estas minhas mãos e apertá-las. Estrangularei as minhas pernas com os meus dedos fortes. Abafarei toda aquela fúria antes que o meu corpo expluda num apocalipse de carne sangrenta.
(As pernas não cederam e começaram a fazer tremer o meu corpo. Eu tinha de estar deitado para adormecer de qualquer das formas. Peguei no martelo que guardo na mesa de cabeceira e bati violentamente com ele na minha própria cabeça. Adormeci e quando acordei a almofada tinha menos sangue do que esperava)
Nadir Veld
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