Assim se Cumpre em Mim a Lei de Talião (12ª Parte)
Mantive-me na areia, só espírito, aprisionado durante três dias. Ao terceiro
uma voz gutural surgiu de lugar nenhum, talvez dentro da minha cabeça:
-Foste castigado pelo teu crime horrendo e agora tens uma oportunidade de
me mostrar que mereces voltar ao mundo.
A voz ecoou longamente
senti um novo corpo formar-se debaixo da areia e surgi do fundo do mar,
irrompedo da areia. Todos os peixes que por ali andavam estacaram e ficaram a
olhar-me incrédulos, enquanto eu ia subindo em direcção à superfície. Formaram
uma marcha de homenagem, um batalhão de peixes que me seguia numa procissão de
fé. Abri os meus braços e senti-me eterno. Olhava para eles e via nos seus
olhos o poder que exercia sobre eles, a fascinação. Quando cheguei à superfecíe
e respirei o ar puro mais uma vez, o meu corpo estava dividido nos dois
elementos, acima de mim, um céu imenso espelhando grande mistério, abaixo de
mim, todas as espécies de peixes me idolatravam e mantinham-se expectantes
quanto aos meus actos seguintes. Olhando em volta nada via, mas sentia-me mais
seguro e confiante do que a última vez em que isso acontecera. Submergi e olhei
os peixes com atenção. Vi um golfinho que há muito me prestava homenagem no
fundo do mar e aproximei-me dele nadando eficazmente. Afaguei-lhe o focinho e
ele puxou-me para a superficíe. Segredei-lhe palavras apaixonadas e ele
olhou-me cheio de amor e deixou-me montar no seu dorso. Transportou-me durante
40 dias e 40 noites em direcção a Terra e todos os outros peixes do Oceano nos
seguiram numa peregrinação bizarra. Chegado a Terra, ao fim da tarde,
despedi-me do golfinho e de todos os outros peixes com um longo aceno, enquanto
via os meus amados desaparecerem para os confins do mar.
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