Assim se Cumpre em Mim a Lei de Talião (29ª Parte)
Andámos três dias
enquanto as bestas de fogo que haviam destruído a Terra se aproximavam. Aquele
estreito monte em que avançava oferecia-me poucas hipóteses para me esconder
dos monstros. Isto enquanto a chuva de meteoritos propulsionados pelos canhões
de Deus ou do Criador, ou de quem quer que conjecturara aquela malidção
continuava a engolir a plataforma. Ao longe no sítio das explosões erguiam-se
colunas de fogo. A certa altura calculei que não conseguiria passar mais de um
dia em fuga. O Homem Orquestra percebeu os motivos do meu alarme e soltou um
relinchar perfeito que ecoou através do horizonte. Continuou a relinchar e, a certa
altura, juro por todos os deuses, surgiu vindo dos confins do penhasco, um
belíssimo cavalo branco, enorme e musculoso. Passou por nós a grande velocidade
e eu aproveitei para lhe saltar para o dorso. Ele continuou a galopar e eu
amansei-o falando-lhe ao ouvido. Ele abrandou e estacou quando viu as bestas.
Relichou furiosamente e eu afaguei-o. Desembainhei a espada e aprontei o
escudo. Eles estavam a meio dia de viagem, mas servindo-me do cavalo podia ter
hipótese de aumentar distância. Voltámos-lhes costas e eu baixei-me para
apanhar o Homem Orquestra. Coloquei-o atrás de mim e ele começou a tocar
melodias psicadélicas. Ao fim de dois dias de viagem chegámos ao lugar onde as
plataformas trocavam e agora, em vez de estar no topo do penhasco estava na parte
mais baixa. As bestas de fogo não se aproximaram. Pensei no que aconteceria no
futuro, depois de acabar de percorrer aquele penhasco seguro e entrar na
misteriosa selva. Os entes de fogo poderiam causar a total destruição. Se eles
queimassem aquela extensa selva num lado era provável que conseguissem um
incêndio perfeito para me chacinar, um inferno no Inferno. Por outro lado não
sei como encarar tais bestas. Nem sei se se podem destruir. Avançava também com
a mente destruída, incapaz de me decidir a tomar uma decisão. A certa altura
tornou-se tão arrepiante e aflitivo que o cheiro húmido da selva só serviu para
aumentar a minha angústia. Vi a selva. Quando estava a apenas cem metros da sua
entrada, ainda não tinha decidido o que ia fazer. Sabia que as bestas
continuavam no meu encalço porque à noite via o seu brilho projectado no céu.
Decidi para parar, para as enfrentar, e, quando o grupo se aproximou...o
horror...o horror. Os quatro eram constítuidos de chamas e avançavam como se a
brisa transportasse o fogo. As suas labaredas pareciam movimentadas por uma
estrutura sólida, como servissem de saias a uma cabeça amarela, dura, com três
olhos roxos e um chifre negro que parecia um trompete. Esta cabeça elevava-se a
uma altura de seis metros e o seu corpo de fogo tornava-a incalcançável. A
entrada daquelas bestas na floresta iria causar a devastação total. Decidi
enfrentá-los à entrada da floresta. Escalei ao topo de uma árvore enquanto o
Homem Orquestra, lá em baixo tocava canções triunfais. Quando cheguei ao topo
da árvore rapidamente recuei nas minhas intenções. Desci e saltei para o
cavalo, ajudando o Homem Orquestra. Não tinha hipótese contra aquelas bestas.
Cavalgamos através da selva, enquanto um novo Inferno se aproximava.
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